E se o goleiro Bruno fosse modelo e Eliza Samudio uma assassina?

OPINIÃO: Será que ela seria chamada para fazer publipost para um canil, após jogar os restos do jogador para os cães comerem?

O goleiro Bruno voltou a virar assunto nas redes sociais nesta semana ao aparecer fazendo um publipost para um canil, após ser condenado pelo assassinato e ocultação de cadáver de Eliza Samudio. O crime, ocorrido em 2010, tornou-se ainda mais perverso pelo fato de a modelo ser ex-namorada do jogador, ter tido um filho com ele, e a Justiça acreditar que ele tenha dado os restos mortais da vítima para cachorros comerem.

Eliza Samudio foi assassinada pela quadrilha do goleiro Bruno, em 2010
Créditos: Reprodução
Eliza Samudio foi assassinada pela quadrilha do goleiro Bruno, em 2010

Essa lista de atrocidades, no melhor dos mundos, seria mais do que suficiente para que Bruno não só cumprisse a pena em regime fechado – o que não aconteceu, pois ele está solto – como também manchasse a sua imagem publicamente e gerasse revolta na população.

Porém, não é bem isso o que está acontecendo. Ao longo dos últimos dez anos, desde a data do crime, o que não faltou por aí foi comentário debochado, piada sobre o caso, e foto de fã com o goleiro. Tem gente até que acredita na inocência de Bruno e o trata como homem corajoso. Não é de se espantar que a reação do brasileiro a este tipo de crime cometido por homens seja vangloriado.

Goleiro Bruno reaparece fazendo propaganda de canil e gera revolta
Créditos: Reprodução/Instagram
Goleiro Bruno reaparece fazendo propaganda de canil e gera revolta

Isso porque os números de violência contra mulheres no Brasil são alarmantes. Mais de 1.300 mulheres são mortas por feminicídio no Brasil por ano, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O Brasil é o quinto país onde mais mulheres são agredidas e mortas.

Será que se o goleiro Bruno fosse uma mulher, modelo, e Eliza um homem, vítima de assassinato, o desfecho do crime seria o mesmo? A resposta, infelizmente, está bem na nossa cara: não. A mulher, no caso Eliza, seria massacrada, julgada, ridicularizada, menosprezada e provavelmente morreria atrás das grades. O que não é muito diferente do que acontece fora da prisão, quando a sociedade faz questão de culpar-nos pelo simples fato de sermos mulheres.


Lei do Feminicídio

A lei 13.104/15, mais conhecida como Lei do Feminicídio, alterou o Código Penal brasileiro, incluindo como qualificador do crime de homicídio o feminicídio.

Também houve alteração na lei que abriga os crimes hediondos (lei nº 8.072/90). Essa mudança resultou na necessidade de se formar um Tribunal do Júri, ou o conhecido júri popular, para julgar os réus de feminicídio.

Alguns setores da sociedade questionam o objetivo de haver distinção entre o feminicídio e os homicídios comuns, mas vale ressaltar que o objetivo dessa diferenciação possui como foco o fato de que vivemos numa sociedade machista.