Ismael Silva, rei do Estácio e da prosa

Ao relembrar de importantes passagens de sua vida, Ismael sempre aumentava um ponto ou talvez tivesse um ponto de vista diferente de todos

Ismael Silva tinha o hábito de glorificar suas histórias
Ismael Silva tinha o hábito de glorificar suas histórias

Ismael Silva era conhecido por gostar de se enaltecer. Suas versões sobre fatos de sua vida são adornadas com o passar dos anos, contradizendo-se diversas vezes, gerando dúvidas e desconfiança. A infância, os estudos, a escola de samba e o samba em si são temas recorrentes de sua vaidosa narrativa que, embora exagerada, era baseada em situações reais.

Silva dizia que, aos sete anos, implorava para que a mãe o levasse à escola. Contrariado com a falta de instrução dela, que não entendia a insistência do filho, afinal, para ela, apenas brancos e ricos tinham direito a educação; Ismael contava que simplesmente invadiu uma escola.

Segundo ele, tinha ‘fome de saber’ e, por isso, entrou no lugar sem matrícula nem nada. Dizia que, depois de ser matriculado, deixou de brincar nas horas livres para estudar – lembrando que tinha apenas sete anos. Além disso, alegava que letrou-se precocemente e ajudava as professoras a ensinar os alunos com dificuldades.

Com 18 anos, quando terminou o ginásio, Ismael já era conhecido nas roda de samba como tamborinista e um mediano versador. Sua primeira composição supostamente foi escrita quatro anos antes, “Já Desisti”, causando estranhamento pela letra que não condizia com sua idade. A música falava sobre a desistência do amor, trabalho, bebidas e que faltava apenas desistir do baralho.

A autovalorização continuou na vida adulta, afirmando não ter trabalhado com nada além do samba. Sabe-se, no entanto, que Ismael foi auxiliar de um escritório de advocacia e segurança, mesmo que por um curto período de tempo. Da escola normal, onde era tão aplicado, transferiu-se para escola do samba – termo que dizia ter inventado.

Além disso, considerava-se inventor do ritmo do samba carnavalesco para atender às necessidades do desfile – cantar, dançar e  andar. Ismael, que foi um dos fundadores do que seria a primeira agremiação de todas, a Deixa Falar, no Estácio, nunca teve um samba seu cantado pelos integrantes da escola.