O paradigma do Estácio

Duas gerações marcam as mudanças do samba

As transformações do samba entre as décadas de 1920 e 1930 marcam dois momentos do gênero: o antigo e o moderno. O primeiro, ligado a tradições folclóricas de caráter rural e religioso, era mais próximo ao maxixe. O segundo, mais urbano, começava a adaptar-se à realidade.

Com o surgimento das escolas de samba, por exemplo, exigia-se um outro tipo de samba para que se adequasse melhor à forma de desfile. No entanto, as concepções sobre o que era samba, maxixe e marcha ainda divergiam. Esta tensão se revela entre o jovem Ismael Silva e o mais experiente Donga, autor de “Pelo telefone” (1917), considerado o primeiro samba.

Donga defendia sua composição como samba enquanto Ismael o considerava como maxixe. Por outro lado, Ismael classificava “Se você jurar” (1931), de sua autoria, como samba verdadeiro e Donga, apenas como marcha. Apesar de terem opiniões divergentes, representavam as transições pelas quais a música vinha passando.

Donga representava o “antigo” e Ismael o “moderno”. Inevitavelmente, as mudanças tornavam-se tão relevantes que a nova maneira de fazer samba na década de 1930 foi denominada por pesquisadores de “paradigma do Estácio” – em referência ao Estácio de Sá, bairro de Donga e Ismael.

Os novos ritmos e melodias exigiam do intérprete uma forma diferente de cantar, aproximando-se da fala cotidiana e afastando-se das prolongações vocálicas comuns à década anterior. Este jeito de compor e interpretar samba prevalece e torna-se enfim padrão do samba carioca durante os anos 1930.