Pesquisadores interrompem estudo com cloroquina após mortes de pacientes

O medicamento, quando administrado em altas dosagens para tratar a covid-19, pode ser tóxico e letal

Um estudo brasileiro que avaliava a eficácia de cloroquina contra o novo coronavírus teve que ser suspenso após 11 pacientes morrerem. A pesquisa realizada em Manaus, no Amazonas, observou que uma alta dosagem da medicação pode causar quadros severos de arritmia ou batimentos cardíacos irregulares.

Ao todo, 81 pacientes foram submetidos ao ensaio clínico. Eles receberam uma dose alta de cloroquina (600mg duas vezes ao dia por 10 dias, uma dose total de 12g) ou uma dose baixa de 450mg por cinco dias (duas vezes somente no primeiro dia, uma dose total de 2,7g). Além disso, todos os pacientes receberam ceftriaxona e azitromicina para complementar o tratamento.

Estudo com cloroquina foi suspenso após mortes de pacientes
Créditos: Brasil2/istock
Estudo com cloroquina foi suspenso após mortes de pacientes

Os pesquisadores observaram que os pacientes tratados com alta dose de cloroquina apresentaram uma tendência à letalidade maior (17%) do que aqueles que receberam a dosagem mais baixa. Nesse segundo grupo, a letalidade foi de 13,5%. “Tais resultados nos forçaram a interromper prematuramente o recrutamento de pacientes para este braço [da pesquisa]”, diz o estudo preliminar publicado no site da área da saúde chamado medRxiv.org.

De acordo com os autores, os resultados sugerem que a dosagem mais alta de cloroquina (regime de 10 dias) não deve ser recomendada para o tratamento de covid-19. Eles também reforçam a necessidade de novas pesquisas médicas sobre o uso do medicamento contra a doença causada pelo novo coronavírus.

O estudo foi financiado pelo Governo do Estado do Amazonas, Farmanguinhos (Fiocruz), SUFRAMA, CAPES, FAPEAM e fundos federais concedidos por uma coalizão de senadores brasileiros.

Aposta de Bolsonaro e de Trump

A cloroquina tem sido amplamente apontada pelos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump como a solução para os casos graves de coronavírus. Bolsonaro chegou a defender a medicação durante pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV.

De fato, o medicamento tem sido testado em vários hospitais do mundo todo em pacientes com quadro grave de covid-19. Porém, ainda faltam evidências conclusivas sobre sua real eficácia e segurança nesses casos.

Cabe aqui dizer que cloroquina é usada há mais de 70 anos contra a malária. A hidroxicloroquina é um derivado menos tóxico da droga e também usada contra malária, lúpus e artrite.