Confinado com o parceiro em tempos de coronavírus

A convivência forçada pela quarentena está fortalecendo ou matando o seu relacionamento?

Esses dias ouvi uma pessoa falando: o que a quarentena obrigatória do coronavírus vai produzir mais: bebês ou divórcios?

Fiquei refletindo sobre como os relacionamentos modernos, principalmente para quem vive em uma grande cidade, são baseados numa convivência muito pequena. Ambos trabalham grande parte do dia, gastam bastante tempo nos deslocamentos e, não raro, ainda têm atividades extras, como cursos, academia ou simplesmente cuidar dos afazeres cotidianos. Com isso, sobra pouquíssimo tempo para uma comunhão genuína com o parceiro. E isso acontece mesmo em relacionamentos de anos!

A convivência forçada pela quarentena está fortalecendo ou matando o seu relacionamento?
A convivência forçada pela quarentena está fortalecendo ou matando o seu relacionamento?

Quando decidi que iria fazer uma longa viagem pelo mundo com o meu parceiro, Plácido Salles, lembro-me do dia em que meu pai nos alertou sobre a coisa que mais o preocupava nessa ideia: quando saíssemos pela porta de casa, estaríamos fadados ao confinamento, vivendo juntos 24 horas por dia, 7 dias por semana. Isso, disse ele, será o maior desafio de vocês nessa jornada.

Antes de sair para viajar, não morávamos juntos e a convivência que tínhamos enquadrava-se no modelo que acabei de descrever. Nos víamos algumas vezes por semana, depois de um dia longo de trabalho e, em geral, passávamos juntos os finais de semana. E só.



No entanto, a profecia do meu pai concretizou-se e, logo nos primeiros meses de viagem, percebi que a convivência tão próxima era a parte mais difícil da adaptação. Passávamos 100% do nosso tempo juntos e não tínhamos mais ninguém conhecido ao redor, o que, para uma pessoa possessiva, pode parecer o paraíso, mas, na prática, pode ser um veneno para a relação.

A falta de espaço obrigava-nos a fazer tudo juntos. Desde dormir e acordar todos os dias, ir ao banheiro, tomar banho, limpar o ouvido, passar fio dental… Éramos a única pessoa disponível para o outro, o que significava que, naqueles dias em que um estava meio de mau humor e não queria papo, o outro teria que esperar, pacientemente, até que pudessem trocar algumas palavras.

Contar o que aconteceu ao longo do dia? Esquece, estávamos juntos e já sabíamos de tudo… apesar dos nossos esforços em estarmos atentos às necessidades um do outro, era impossível suprir tudo o tempo todo. Como resultado, passamos por muitos altos e baixos durante os primeiros meses de viagem. Discutíamos por besteiras, sentíamo-nos esgotados emocionalmente e, às vezes, pensávamos em jogar o outro do penhasco. Mas, acredite, tudo entrou nos eixos, um tempo depois.

Com a convivência forçada, fomos aprendendo que tínhamos uma sombra e passamos a gostar disso. Entendemos melhor como a relação deveria ser para que pudéssemos ter espaço mesmo sem que ele existisse e buscávamos respeitar os momentos em que o outro precisava de mais privacidade ou, simplesmente, ficar quieto. Em poucos meses, nossa relação se fortaleceu e o que parecia ser um grande obstáculo, acabou se transformando em crescimento para os dois.

Portanto, se você já está entrando em desespero por estar confinado junto com o seu parceiro por alguns dias, saiba que há uma luz no fim do túnel. Aproveite essa oportunidade para conhecer mais profundamente essa pessoa com quem decidiu compartilhar o seu amor. Escute, observe, faça concessões. Use o tempo para gerar intimidade e até para aprender a estar confortável quando não há lugar para a privacidade (lembre-se, eu depilava o buço na frente do meu namorado!). Aprenda a dar e pedir espaço, quando for necessário; vá ler um livro enquanto o outro quiser conversar com os amigos; não fique solicitando atenção se o seu parceiro precisa se concentrar no relatório do trabalho.

Eu e o Plácido passamos dois anos e meio vivendo confinados, 24 horas por dia, 7 dias por semana, vivendo dentro de um carro. Não será uma simples quarentena que vai estragar o seu relacionamento, certo?

Por Mariana Beluco

Junto com seu parceiro, Plácido Salles, já passou por mais de 60 países; publicou o livro Livre Partida: causos e contos de uma viagem pelo mundo; ministra cursos e palestras sobre viagens e vive uma grande aventura pelo Brasil através do seu projeto, Livre Partida.

Em parceria com Livre Partida

Somos Plácido Salles e Mariana Beluco, nômades viajantes desde 2015! Compartilhamos aqui o nosso cotidiano de viagens, dicas e conhecimentos importantes para quem tem o sonho de fazer uma grande viagem. Passamos por 57 países durante a primeira expedição e agora estamos vivendo uma grande aventura de carro pelo Brasil. Temos um livro publicado e ministramos cursos e palestras sobre o tema. Bora viajar junto!

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