Youtuber conhece noivo durante trabalho voluntário na Ásia

Assim que voltei do meu intercâmbio da França decidi que faria mais um durante a faculdade. Foi aí que conheci a Aiesec, um movimento de liderança jovem que realiza intercâmbios voluntários ou de estágio em vários países do mundo. Optei pelo trabalho voluntário e decidi que meu destino seria a Ásia.

Mandei meu currículo para vários países e depois de muitas entrevistas me vi indo para três: Taiwan, Vietnã e Indonésia.

Não sabia quase nada sobre esses locais, acredito que foram eles que me escolheram e estava pronta para a minha nova aventura.

Taiwan

Nunca tinha viajado para tão longe e para um lugar tão diferente do Brasil. No meu primeiro dia de trabalho conheci os professores de inglês, com os quais iria trabalhar nas próximas 6 semanas. Na primeira, apenas acompanhei as aulas, conheci os alunos, outros professores e mostrei como seria a minha aula sobre o Brasil. Como eu só tinha cinco semanas restantes e a escola tinha entre 3 e 4 mil crianças, eu não teria tempo de ir de sala em sala, por isso decidimos que eu daria aulas no auditório para três turmas de cada vez.

No começo estava um pouco tímida, mas já na segunda semana conseguia interagir muito mais com as crianças. Fiquei surpresa com a reação delas ao saberem que tinha uma professora branca de outro país na escola. Muitas me pediam para tirar foto e até dar autógrafo, pois achavam que eu era como uma estrela de cinema. Foi uma experiência incrível, amei cada segundo daquele projeto.

Taiwan foi ainda mais especial, pois foi lá que encontrei meu noivo, Brian. Depois de algumas semanas no país, entrei no Tinder procurando pessoas para conhecer, sair e fazer amizades, pois por mais que adorasse todo mundo que conhecia ter alguém com uma cultura parecida com a sua faz falta.

 
 

Foi aí que dei match com um menino dos Estados Unidos. Começamos a conversar logo em seguida e não demorou muito para nos encontrarmos pessoalmente. Assim que o vi minhas pernas ficaram bambas, não acreditava de tão lindo que ele era, a química rolou desde o começo. Nosso primeiro encontro foi incrível e desde então conversávamos todos os dias pelo Facebook e saíamos sempre que podíamos.

Ele tinha acabado de se mudar para Taiwan, estava dando aulas de inglês para crianças e planejava ficar no país por um ou dois anos. Tinha a minha última semana livre e decidi viajar para o sul do país. Num impulso convidei-o para ir comigo e ele aceitou. Viajamos por 10 horas de trem e ônibus para chegar, mas como tínhamos muito assunto, o tempo passou rápido. As praias do sul eram paradisíacas, passamos três dias maravilhosos juntos, estávamos apaixonados.

Tudo estava muito perfeito entre nós, mas tinha um problema, eu estava indo embora de Taiwan. Meu próximo projeto seria no Vietnã e eu ficaria sete semanas lá e em seguida partiria para a Tailândia para viajar por um mês.

Não queríamos que aquilo acabasse, mas sabíamos que seria complicado, já que não sabíamos quando nos veríamos outra vez. Foi aí que o Brian comprou uma passagem para passar uma semana comigo na Tailândia e um dia antes de eu ir embora ele me pediu em namoro. Ele me levou ao aeroporto e me deu um caderno para que eu escrevesse algo toda vez que estivesse com saudades e assim que nos encontrássemos na Tailândia, eu daria o caderno a ele e então seria sua vez de escrever. Ele já tinha escrito algumas páginas, mas eu só poderia ler uma vez que estivesse no avião. Que erro, pois chorei um monte e não tinha nenhum lencinho por perto.

Vietnã

Estava muito animada para conhecer este país, mas ao mesmo tempo estava muito triste, pois ficaria quase dois meses sem ver o Brian. O projeto desta vez era diferente, eu e mais sete jovens de países diferentes iríamos viajar pelas pequenas cidades do sul do país e escrever diários sobre nossas experiências. Tudo seria publicado na internet para que outras pessoas tivessem acesso e se interessassem em visitar o Vietnã, nosso projeto era voltado para o turismo do país.

Foram cinco semanas incríveis, o nosso grupo se conectou muito e adorávamos passar tempo juntos. Viajamos para mais de 5 cidades e aprendemos muito sobre o modo de viver simples dos vietnamitas, sua culinária, suas tradições e suas religiões. Percebemos que mesmo com pouco, as famílias locais nos recebiam e faziam uma festa com muita comida e bebida.

 
 

E durante essas viagens, a Aiesec preparou várias atividades para fazermos. Tivemos que cozinhar comidas típicas, fizemos trilhas subindo as montanhas, visitamos templos de diferentes religiões e tivemos até que aprender a plantar e colher arroz. Foi uma imersão total na cultura do país.

Com o fim do projeto, ainda tínhamos quase duas semanas livres no Vietnã antes de todos voltarem para casa. Juntamos-nos com outros estrangeiros que estavam fazendo o mesmo projeto que nós e viajamos pelo país. Éramos dez pessoas que durante dez dias visitamos cinco cidades. Por muitos anos o Vietnã foi dividido entre norte e sul e com essa viagem foi muito fácil perceber qual era a parte capitalista e qual era a comunista. Mas a alegria e recepção dos vietnamitas não mudava independente de onde estávamos.

A primeira cidade que fomos é a minha preferida, se chama Hoi An, a cidade das lanternas. Muito fofa, dava vontade de comprar todas as lanternas de lá, mas só comprei duas. A cidade também é muito boa para fazer compras, inclusive em alguns locais dá para encomendar roupas do seu tamanho que ficam prontas em dois ou três dias. E não falei antes, mas o Vietnã é um país muito barato, dá para comer uma boa refeição por menos de 3 dólares. Fazer compras também é muito barato e tem muita coisa com boa qualidade.

Em seguida fomos para Hue, que é a antiga capital imperial. Infelizmente choveu todos os dias que estivemos lá, mas visitamos tumbas de vários reis e inclusive a antiga cidade proibida.

Partimos para Ha Noi, que foi a capital do Vietnã do Norte, quando o país estava dividido. A cidade tem uma grande influência europeia, então quando visitamos os principais prédios, sentia que estava na Europa. Ficamos apenas um dia lá e seguimos para Sapa, onde ficam as famosas plantações de arroz do país. Fizemos uma trilha de 7 km para chegar ao local onde dormiríamos e no caminho as mulheres das tribos locais nos acompanharam e com seu inglês simples nos contaram um pouco sobre como viviam e quais eram seus costumes. Adoramos visitar e conhecer este outro lado do Vietnã.

A última parada foi Ha Long Bay, considerado uma das sete novas maravilhas naturais do mundo. Fizemos um passeio de três dias e duas noites de barco. Realmente o local é incrível e ver o nascer do sol atrás daquele arquipélago foi um dos meus momentos preferidos da viagem. Apaixonei-me pelo país e por mais que estivesse animada para ir à Tailândia, foi muito difícil sair de lá e dar adeus às incríveis amizades que tinha feito.

Tailândia

Fui para lá para viajar. Não tinha nenhum projeto e como tinha quase um mês entre odo Vietnã e o da Indonésia decidi que passaria esse tempo viajando por um país que há muito queria conhecer. Comecei pelo norte do país, passei uma semana visitando três cidades incríveis. Conheci muito da cultura tailandesa e principalmente sobre o budismo, pois o que mais tinha para fazer era visitar templos e parques budistas.

No Brasil eu meditava com um grupo budista uma vez por semana e aprendi algumas coisas sobre esta religião, então tive curiosidade em aprender mais, mas foi um choque perceber o quão diferente é o budismo na Ásia. Enquanto que no Brasil ele é mais visto como um ensinamento do que uma religião, nos países asiáticos as pessoas vão aos templos rezar para seus diversos deuses, inclusive Buda, dão oferendas e acendem incensos. Tive a impressão que eram duas coisas completamente diferentes. Mas adorei aprender sobre este lado dos países e foi na Tailândia que mais tive tempo para fazer isso.

Depois desta uma semana o Brian chegou para me visitar. Fomos para uma ilha chamada Ko Samed e passamos quatro dias incríveis lá. Fazíamos Skype todos os dias e não víamos a hora de nos ver. Estávamos ainda mais apaixonados, já conversávamos mais sobre o futuro e sobre o que seria da gente. Estávamos praticamente de lua de mel, pois a ilha era maravilhosa, nunca tínhamos visto uma água tão azul antes. Fizemos vários passeios, alugamos uma moto para conhecer os outros cantos da ilha, aproveitamos cada segundo junto.

Em seguida fomos para Bangcoc por três dias e por mais que nossa experiência lá não tenha sido das melhores, não nos importávamos, pois estávamos curtindo muito a companhia um do outro. Levei o Brian para o aeroporto, pois ele tinha que voltar para seu trabalho e entreguei o caderninho que ele tinha me dado em Taiwan. Tínhamos decidido que em algumas semanas ele me visitaria na Indonésia e quando ele fosse, me devolveria o caderninho mais uma vez.

Fiquei mais dez dias na Tailândia e neste tempo fui para o sul do país visitar suas famosas praias. Fui primeiro para Phuket, mas não fiquei muito tempo lá, pois tinha lido que a cidade tinha sido dominada pelos estrangeiros que iam para lá se aposentar.

Meu plano era visitar três ilhas –Ko Samui, Ko Phan Ngan e Ko Phi Phi–, mas acabei visitando apenas as duas últimas. Fui primeiro para Ko Phan Ngan e me apaixonei tanto pelo local que acabei ficando mais dias do que tinha planejado. As praias são paradisíacas e a ilha é feita para jovens, tem festas todas as noites e a mais famosa é a de lua cheia. Acontece uma vez por mês e cerca de 10 mil pessoas vão e se pintam com cores que brilham na luz negra, mas infelizmente eu não fui durante a época de lua cheia.

Existem, porém, várias outras festas que fui e que foram muito legais! Conheci várias pessoas, várias histórias de viagens e várias dicas de locais que deveria ir. Em seguida fui para Ko Phi Phi, muito conhecida por causa do filme A Ilha com o Leonardo Dicaprio. Outro local com praias de tirar o fôlego, a ilha é maravilhosa e é tão pequena que dá para fazer tudo a pé. Lá também tem muita gente jovem e rolam muitas festas. Queria ter ficado mais tempo, mas meu próximo destino me aguardava.

Indonésia

Fiquei três meses na Indonésia, numa cidade chamada Semarang, na ilha central de Java. Desta vez, o projeto era dar aulas de inglês para pessoas entre 4 e 18 anos. Nunca tinha dado aula de inglês na minha vida e meu inglês era bom, mas ainda não era fluente. Sempre pesquisava muito antes de dar as aulas e acabei aprendendo muito neste tempo. Morei com uma família muçulmana e conheci outros estrangeiros que estavam lá fazendo outros projetos pela Aiesec.

Já na primeira semana fiquei muito doente, acho que comi algo que não me fez bem. Passei uma semana de cama, fui para o hospital algumas vezes tomar soro na veia, pois tudo o que eu comia eu colocava para fora. Minha mãe até estava querendo comprar uma passagem para ir ficar comigo, mas eu disse que não precisava, que se ela pegasse um avião para lá, que fosse para viajarmos juntas pelo país, não para ficar em casa fazendo nada. Foi uma experiência horrível, tinha comido em barraquinhas em todos os países que fui, mas dei azar no último deles.

Três semanas depois que melhorei, o Brian veio me visitar por uma semana. Ficamos alguns dias na minha cidade e depois tirei dois dias de folga do trabalho para irmos a Bali. A ilha era muito linda, mas logo percebemos que ou você tem dinheiro para ficar nos hotéis que ficam em frente às praias paradisíacas, ou você fica no centro, onde tem vários bares, baladas e lojas para fazer compras.

Até fomos para uma praia maravilhosa passar o dia, mas era tão longe do centro que nos outros dois dias ficamos passeando pelas lojas e curtindo os bares da cidade. Uma coisa que fizemos muito em todas as nossas viagens foi massagem. O preço é muito baixo e as massagens são muito boas, então sempre fazíamos. Assim que ele foi embora sabíamos que ficaríamos dois meses sem nos ver, então foi muito dolorido dar tchau. Estávamos, porém, empolgados, porque da próxima vez que nos víssemos seria por 30 dias em vez de sete. Eu resolvi passar um mês em Taiwan com ele antes de voltar ao Brasil. Antes de embarcar ele me devolveu o caderninho, o qual li assim que voltei para casa.

 
 

Viajei muito pela ilha de Java com uma brasileira e uma holandesa que estavam na mesma cidade que eu pela Aiesec. A Indonésia é um país incrível, queria ter tido a chance de ter viajado pelas outras ilhas, mas não tinha tempo e dinheiro.

Visitamos várias cidades com culturas diferentes, inclusive fomos visitar um vulcão muito famoso no país e tivemos a chance de ir até o topo e ver dentro do vulcão. Mesmo o país sendo de maioria muçulmana, a cultura anterior ainda é muito forte e viva, nas roupas, danças, comida e arquitetura.

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Aproveitamos este tempo lá também para viajar pela ilha e para Hong Kong. Ele conseguiu alguns dias de folga, então aproveitamos para visitar esta cidade. Hong Kong é incrível, tem uma energia muito boa e é diferente de tudo que já vi. Os prédios são gigantes e por ser uma cidade que hospeda gente do mundo inteiro tem muita troca cultural.

Passeamos por três dias em Hong Kong, conhecendo todos os cantinhos da cidade, fomos um dia para Disney e um dia para Macau, que foi muito legal, pois tudo estava escrito em inglês, mandarim e português.

Esta despedida foi a mais difícil de todas, pois tínhamos passado um mês juntos e desta vez ficaríamos quase três meses separados. Só nos veríamos de novo no casamento da irmã dele nos Estados Unidos. Foram dias difíceis, falávamos no Skype todo dia e mandávamos mensagem um para o outro o tempo todo. Queríamos que o tempo passasse rápido, estávamos animados, pois duas semanas depois do casamento ele se mudaria para o Brasil e finalmente viveríamos na mesma cidade e seríamos um casal normal.

Brasil

 
 

Ele morou no Brasil por 14 meses com visto de estudante. Ia para a aula de português quatro vezes por semana, três horas por dia. Depois de quatro meses já estava falando bem e conseguia entender bastante. Este tempo no Brasil foi muito bom para nós, saímos muito, fomos ao cinema, comemos fora, fizemos compras, saímos com amigos, vivemos uma vida normal. No começo ele dividiu um apartamento com um amigo, mas ele acabava dormindo tanto na minha casa que depois de alguns meses se mudou comigo e com meus pais. Aproveitamos também este tempo para viajar, fomos para a Argentina, Uruguai, Santa Catarina, Foz do Iguaçu e Rio de Janeiro.

Ele se apaixonou pelo Brasil e sente saudade até hoje. Inclusive foi lá que ele se tornou Youtuber. Com um amigo francês que também estudava português, eles criaram um canal chamado Gringos no Brasil que hoje já tem mais de 100mil inscritos. Mas como sabíamos desde o momento em que ele foi morar no Brasil que aquilo seria temporário, os dois sabiam que o canal não seria algo de longa duração. Depois que eu terminasse minha faculdade nos mudaríamos para os Estados Unidos.

Estados Unidos

O Brian conseguiu um emprego numa cidade chamada Fort Collins, perto de sua cidade natal, Denver. Três meses depois, assim que terminei minha faculdade, me graduei e mudei para os Estados Unidos. Ele tinha gostado tanto de fazer vídeos, que decidiu criar o seu próprio canal chamado “Brian Roxbury” e continuar com o mesmo tema: diferenças culturais entre EUA e Brasil. E apenas alguns meses depois, criei o meu próprio canal com uma temática parecida chamada “A Gringa Agora Sou Eu”.

Hoje, o canal do Brian já tem em torno de 200 mil inscritos e o meu 50 mil inscritos. Além do Youtube, decidi me aventurar com um blog que comecei no começo de 2017, chamado “Michelle Avanci” em que falo sobre livros, filmes, séries, viagens e outras coisas. Adoramos o que fazemos, adoramos gravar vídeos e interagir com os inscritos, pretendemos fazer isto por um bom tempo. No final de 2017 iremos nos casar no Brasil e não poderia estar mais feliz, sei que escolhi a pessoa certa para passar o resto da minha vida.

Relato por Michelle Avanci