A São Paulo, com amor

Por: Catraca Livre

Em 2013 eu vi minha vida numa correria desenfreada, correndo para conciliar meu trabalho como estilista de acessórios de uma grande marca e minhas novas aventuras no mundo dos vídeos e da fotografia.

Eu nunca havia pensado em trabalhar com vídeos, nem quando eu tinha 8 anos e a professora da escola perguntava o que a gente queria ser quando crescer. Essa aventura começou de repente e foi criando espaço e importância na minha vida.

Pela demanda gigantesca que eu mesma criava devido à incapacidade (ou impossibilidade) de escolher entre um ou outro trabalho, fui levando a situação, estabelecendo prazos para mim mesma de dar o grande passo.

 
Créditos: Mathias Lessmann Skein Productio
 

2000 (e treze), um ano tenso, 27 anos, retorno de Saturno. A mente tentando entender que muitas certezas e padrões que eu tinha anteriormente estavam passando por uma espécie de ruptura, se desestruturando e se transformando para algo novo. Meu emprego já não fazia mais sentido, a insegurança de partir para um destino incerto.

Mas eu não estou aqui pra falar o que a internet em geral, o Hypeness e vários outros sites já falaram de monte: que eu larguei meu emprego, saí viajando e tenho sido muito mais feliz assim.

Não. Estou aqui pra falar da minha relação com São Paulo, que aguentou toda a tensão do meu momento. Todo meu estresse e frustração refletiu nas limitações de São Paulo, a cidade que me acolhe há 13 anos.

Há algum tempo morar em São Paulo havia se tornado um peso, aquela velha história de (sobre)viver numa cidade hostil, cidade para poucos. Um dia na praia eu me peguei refletindo sobre meu caos e comecei a viajar na ideia de São Paulo ser uma pessoa. E aí pensei numa relação entre duas pessoas (seja ela qual for) e na minha relação com esse indivíduo (São Paulo). Fui dando trela pra o raciocínio se desenvolver dentro de mim enquanto pensava também nas relações dos seres humanos e em como ela era uma troca constante, o espelho e seu reflexo, a ação e reação.

Acho que fica mais justo exigir algo de alguém quando você dá um pouquinho de si também. E nesse momento senti dó de São Paulo. Dó de quem tem a louca missão de ser boa com 11 milhões de pessoas que explodem a cada minuto sua fúria, seu amor, caos, felicidade, suas decepções, frustrações, sua amizade, sua paz, seu cinza. Aliás será que em algum momento alguém perguntou pra ela se essa era cor que ela mais gosta? Quão difícil é para São Paulo ser (ao menos) uma cidade agradável? Lidar com toda essa gente demandando 24 horas sem fim, exigindo todos seus recursos.

Meus pensamentos foram, ao longo do tempo, amadurecendo: afinal ninguém me forçou a estar aqui, ninguém me obrigou a viver nessa cidade há tanto tempo e para nossa relação ser duradoura em algum momento eu vou ter que partir, isso é fato. Mas nesse momento, agora, eu escolhi estar aqui e minhas escolhas foram baseadas em projetos, sonhos, metas que estabeleci para minha vida. Qual o sentido de ficar lutando contra o lugar que decidi estar? Estava sendo injusta em ser mais uma a propagar minha confusão interna com alguém que também sofria de uma confusão interna muito maior que a minha.

De lá pra cá fiz a grande escolha, mudei toda a dinâmica. E as consequências da minha transformação têm mudado também minha relação com a cidade e com a vida, deixando as situações mais leves, e me deixando mais forte. As vezes São Paulo ainda desconta em mim o caos de seus milhões de habitantes que ainda não aprenderam a lidar com ela. Mas eu rebato com amor, todos os dias. E com sorriso.

A mudança vem de dentro.