A consistência de uma vida

Por: Catraca Livre
divulgação
Saramago é tema de exposição

“Estou comprometido até o final dos meus dias com a vida e esforço-me por transformar as coisas, e para isso não tenho outro remédio senão fazer o que eu faço e dizer o que sou”
José Saramago

(Frase de uma instalação da exposição. Uma oliveira que contêm alguns pensamentos do autor pendurados como se fossem seus frutos.)

Mais do que uma viagem na biografia do escritor português, a exposição “José Saramago: a  consistência dos sonhos” é uma lição de humanidade.  Inaugurada recentemente no Instituto Tomie Othake, em Pinheiros, a mostra vai até fevereiro de 2009 e promete atrair não só leitores do escritor, mas o público como um todo. Fato é que durante a visita, a presença de muitos pais acompanhados de seus filhos (futuros leitores, certamente), deixa claro o encantamento com o universo mágico do escritor.

Uma linha do tempo guia praticamente toda a exposição, desde seu nascimento em Azinhaga, Portugal, em 1922, passando pela cerimônia de entrega do Prêmio Nobel de Literatura, em 1998. Nem a sua visita, em 1999, ao comandante Marcos, líder do movimento revolucionário mexicano de Chiapas, passa batido.

É possível ficar frente a frente com inúmeros manuscritos originais do autor, relíquias que mantêm vivas as histórias de seus personagens. O que chama a atenção é a belíssima caligrafia; parece impossível não sentir a leveza de sua escrita no papel.

Filho de pais camponeses, com uma vida extremamente simples, Saramago começou a dedicar-se a literatura tardiamente, o que não o impediu de uma vasta formação intelectual.

Um escritor engajado, muitas vezes severo, destaca-se pelo excesso de responsabilidade perante um mundo injusto e desigual. Mas ao lado deste pessimismo ferrenho, sua vida é permeada por emoção e sensibilidade, mostra disso, são os textos escritos para sua avó e seu avô.

Comunista, ativista e intelectual polêmico, José Saramago, é um convite a reflexão e ao enfrentamento  à dura realidade em que vivemos. Mas claro, sem perder a doçura  expressada em cada olhar do escritor.