A Noite

Essa história cheia de detalhes da vida dos irmãos Paulo e César foram eles mesmos que nos contaram na noite daquele dia em que Escova chamou Bruno para jogar bola conosco. Como sempre, a mãe de Bruno foi chamá-lo para o banho, o grupo se
desfez, cada um foi para sua casa e, mais tarde, quando a noite havia caído, nos encontramos, como sempre, em frente à viela.
Lembro-me que após os relatos dos irmãos sobre aquele dia de tristeza – a morte da garota e a reprovação no teste – todos que estavam presentes na roda quiseram fazer comentários que ouviram dizer daquele dia em que tudo aconteceu no escadão,
em frente ao campinho.
O dia ensolarado vai e chega a noite sombria e sinistra. Nós estávamos reunidos em frente à viela conversando sobre o fato que aconteceu naquela tarde no escadão. Raul dizia que ele estava de esquema marcado para o dia seguinte com aquela
garota que morreu.
– Aê – disse Bruno caçoando do amigo –, se pá ela vem hoje então, mano.
Todos rimos da cara de assombro que Raul fez. Escova aproveitou o ritmo:
– Só não me chama pra ficar de vela.
– Vai – exclamou Raul muito bravo –, fica zoando, bando de otários, a mina morreu e cês ainda fica com palhaçada, mano! Mais respeito caralho. E foi embora após aquelas palavras raivosas.
– O maluco não güenta brincadeira não – falou Johnson que havia muito que não aparecia em nossas rodas noturnas. Este, por sua vez, era o que menos agüentava nossas brincadeiras, quando alguém falava de suas sardas e de seus dentes enormes, ele só faltava explodir, ficava feito pimentão. Era um bom garoto, porém, muito infantil, tanto na idade quanto nas atitudes, a verdade é que sempre tivemos a esperança de que algum dia ele falaria de um de nós para uma de suas irmãs, por
isso deixávamos que participasse das nossas conversas. Em toda a minha vida eu só ouvi e vi o Johnson falando e fazendo uma única coisa que vale a pena comentar, apenas uma coisa que valeria a pena levar para o túmulo.

Por Redação