Revista Rap Brasil 1

Por: Alexandre De Maio

Nasce a primeira revista brasileira de Hip-Hop

O ano era 1999, e a chamada na capa dava a dimensão do ineditismo da empreitada: “a primeira revista brasileira de Hip-Hop”. Isso mostra o lugar que o quinto elemento do Hip-Hop ocupava naquele tempo e o quanto de luta ainda tinha pela frente.

Para quem se deslumbra com o atual patamar de destaque do rap nacional, vale mencionar que em 1999 o rap já tinha passado pelo estouro do disco Sobrevivendo no Inferno dos Racionais MCs (que na época já tinha visibilidade, principalmente através da figura de Mano Brown numa publicidade na página 4). Além disso, diversos grupos estavam em evidência naquele momento (como por exemplo…)  – muitos deles, um tanto esquecidos nos dias atuais.

O editorial desta edição inaugural (página 6)  encerrava da seguinte forma: “O Hip Hop veio de outro país, somou-se e adaptou-se à nossa cultura, cresceu nos grandes centros, e se espalhou por todo o Brasil. E hoje começa a se infiltrar nas mentes de todo o país dando cada vez mais força à Revolução Nacional pela Arte da Cultura Hip Hop”. É disso que se trata a revista: da cobertura de uma pequena revolução em tempo real; à margem da sociedade, e que hoje disputa grandes números de audiências nas plataformas de streaming.

O programa de rádio do Natanael Valêncio, “Movimento de Rua”, na rádio Imprensa,  era um dos poucos espaços no dial comercial, e já figurava na primeira edição como matéria de abertura da revista (página 9). A lendária dupla Thaíde & DJ Hum esbanjam conhecimento em entrevista (páginas 10, 11 e 12), onde Thaíde afirmou com razão: “Pitta é um Maluf pintado de preto”.  A dança estava representada na primeira edição com os Jabaquara Breakers (páginas 13, 14, 15, 16, 17 e 18). O Pavilhão 9, já na fase com banda, também tem espaço nesse primeiro número (páginas 19 e 20). O álbum Traficando Informação, do MV Bill, estava estourado em 1999 e ele também aparece na revista (página 23). As posses de rap eram muito fortes no fim dos anos 1990 e a Família DRR aparece nesta edição (página 25), trazendo a realidade do extremo leste de São Paulo. O grafiteiro Marcão aparece representando um dos elementos da cultura (página 27). Na época, Spainy & Trutty mesclavam rap e pagode (página 59), o RZO estava em sua grande fase e também marcou presença (página 61). Estourado com a faixa “H.Aço”, DMN estava presente na entrevista com o MC Eli Efi (página 65). Ainda havia espaço para a entrevista com Rooney Yo Yo da histórica marca Pixa-in (página 69), além de uma matéria sobre cotas na USP (página 78), bem antes de serem implementadas. Fechando a edição, uma matéria com o lendário produtor de rap, DJ Luciano (página 83).

Arthur Dantas Rocha é autor do livro ” Racionais Mcs – Sobrevivendo no Inferno”, lançado em 2021 pela editora Cobogó.

Por Velot Wamba