Revista Rap Rima 1

A revista RAP BRASIL, da Editora Escala Ltda- foi a pioneira no país a tratar sobre o hip hop, em 1999. Em todas as suas 21 edições buscou apresentar a cena, divulgar os artistas,  , principalmente, ajudou a disseminar a cultura. Se você também é das gerações anteriores a 2000 sabe bem que as revistas inspiraram  diversas pessoas, criação de  grupos de raps e crews de grafite.

Ainda em 1999 vamos ter a Rap Rima, que é uma edição especial, que tem como objetivo  “apresentar visualmente os fatos ocorridos na construção de uma música e traficar informação”. O volume 1 da Rap Rima tem criação e projeto gráfico de Alexandre De Maio, Edson Ikê e Marques Rebelo e reportagens de Rodrigo Mendes e DJ Fábio Rogério. São 68 páginas de conhecimento, e  logo na capa podemos perceber a relevância e o peso da história que estava sendo construída, temos uma foto que reúne os novos talentos: Dj QAP, Thaíde, Kamau, Max (Max BO), Akin Tech  , Marechal, Tio Fresh e Paulo Napoli.

O registro da capa serve como um pré-anúncio da entrevista cedida pelos componentes da ABR-Academia Brasileira de Rimas para Rodrigo Mendes. O termo ABR, surge motivado pelos acontecimentos do momento, pois a morte do romancista, dramaturgo e autor Dias Gomes, em maio de 1999, trouxe à tona várias reportagens que enfatizavam a Academia Brasileira de Letras. Napoli então ao trocar a palavra final nomeia o grupo, que era caracterizado pelo freestyle (estilo livre de rimar).

O rapper Max B.O foi quem resolveu montar o grupo. Como explicou na entrevista (página 9), anteriormente, havia participado do  Boletim de Ocorrência, de onde herdou o nome, e pretendia lançar seu projeto solo “Max e convidados”. Contudo, o projeto solo “precisava ser um compromisso mais sério pra poder reunir todo mundo no show; aí nós resolvemos formar a Academia, isso já esclarece que a academia não é uma instituição, uma fundação e não tem matrículas abertas (…)”.

Além de B.O, temos o skatista, rapper e beatmaker  Kamau dialogando (página 11)  sobre o a sua presença no ABR e no Consequência, do qual participava juntamente com DJ Ajamu e Sagat. O guerreiro silencioso, significado de Kamau em dialeto africano, já era conhecido por seus freestyle  e tinha como influência “o pessoal do Mad Stone, que faz um hiip hop positivo, Mos Deff, A Tribe Called Quest, De La Soul. E na parte que fala mais loucura, eu gosto de Wu- Tang, gosto de muita coisa”.

Akim Tech  que também colaborava na Academia, e em mais três outros  grupos,  havia saído a pouco do munícipio paulista Campo Limpo para morar no Brooklin,  apresentou seu estilo  e comentou sobre os campeonatos de freestylle nos EUA. Ainda com a necessidade de compreender a motivação e ingresso dos rappers na ABR,  temos a afirmação do Dj e rapper Tio Fresh (página 13): “o esquema da Academia é um lance diferente, é  revolucionário e eu tenho certeza que essa tendência vai se expandir pelo Brasil inteiro.”. Pela mesma razão, Napoli (página 15) diz que “a Academia veio pra somar, tá ligado, muito moleque começou a fazer freestyle.”

Seguindo a temática freestyle, desfrutamos de registros do rolê no estúdio do Duda Marotti, na gravação de uma faixa do CD do Doctor MCs, que contou com a presença de Xis, Sombra e muitos outros. Podemos saber sobre o que rolou para a criação do CD através da troca de ideias que eles tiveram com Alexandre De Maio e Rodrigo Mendes.

Posteriormente, vamos ter as composições

: Policiais (De Menos Crime), Mágico de Oz (Racionais MCs), É o terror! (GOG), Marquinho Cabeção (MV Bill), Soul do Hip Hop (Thaíde e DJ Hum) apresentadas pelo entrosamento de texto e imagens que transmitem de forma direta a mensagem desses grandes expoentes do Hip-Hop nacional. Lembrando, que vale conferir cada registro disposto nas páginas pois resgatam memórias e também provocam reflexões. Reflexões essas que vão desde as necessidades e problemáticas sociais denunciadas pelos rappers ainda serem praticamente as mesmas que precisam ser sanadas nos dias atuais até o fato de a maioria dos nomes citados ainda fomentarem a cena com suas letras.

Continuando com as entrevistas, o repórter Rodrigo Mendes apresenta os Menores Conscientes, composto por meninos de 11 a 15 anos- que participaram do CD 12 Revelações  Vol 1, de Nuno Mendes, e o grupo De Menos Crime  que comentam sobre  a relação entre a quebrada e a polícia- tema comum em suas letras. Também temos GOG (página 40) comentando sobre a música “É o terror!”, seu processo de composição e sua impressão sobre os letristas no RAP e o Márcio, do Atack Versus, (página 46) falando sobre as dificuldades dentro do mundo do RAP.

Vale destacar, que  a Revista conta com a seção Entrevistando o Produtor, com a participação de DJ CIA e DJ Luciano.  O DJ CIA ( página 54) frisa que em 1996 iniciou a sua trajetória, ainda na Banca Forte Estúdio, e apontou a dificuldade de produção no país. O DJ Luciano (página 55)  relata o que está estourado nos bailes, como as mixagens são pensadas e demais impressões sobre produção acústica, “ o sampler deve ter a ver com a letra, com o clima do som; tem a ver com uma série de coisas que envolvem o lance”. Sabemos que ambos são referências no cenário e são uns dos responsáveis por samplear e criar produções que marcam o RAP nacional.

Levando em consideração todo o conteúdo apresentado na Revista RAP Rima Vol. 1 percebemos facilmente que é  como um manifesto de quem vivenciava, resistia e tentava fazer do Hip-Hop o que ele é hoje. Tanto que já nas  páginas finais da edição (página 61) temos um texto de Marquês Rebelo, inspirado em Geraldo Vandré- advogado, cantor, compositor e poeta brasileiro, que em 1968 participou do III Festival Internacional da Canção, da TV Globo, interpretando Pra não dizer que não falei das flores.  A composição de Vandré tornou-se “um grito contra a opressão”, hino estudantil, e faz menção ao período que lutávamos por liberdade de expressão.

Rebelo destaca “nossos Vandrés hoje tem outros nomes: GOG, Edi Rock, LF, Thaíde e muitos outros; porém a luta é uma só: a Revolução através das palavras, das atitudes, porque, mano, quem sabe faz a hora não espera acontecer.”.  O conteúdo deste volume é finalizado com a letra composta por Geraldo Vandré. Agora, você é convidado a desfrutar da edição.

Por Roberta Sodré