Binho, Moinho, Pinheirinho…

No texto, publicado em seu blog, o premiado escritor pernambucano Marcelino Freire reflete sobre as possíveis razões que levaram ao contestado episódio

Em protesto ao fechamento do mais antigo encontro literário da periferia de São Paulo, inúmeras são as palavras de apoio ao projeto. Nomes como Marcelo Tas, Emicida, Fernando Anitelli e agitadores culturais de toda cidade demonstram suas palavras de indignação, manifestando-se pela continuidade do encontro que, há 8 anos, acontece no bairro do Campo Limpo.

No texto abaixo, publicado em seu blog,  o premiado escritor pernambucano  Marcelino Freire reflete sobre as possíveis razões que levaram ao contestado episódio.

“Deve ser isto. Por este motivo. Descobri. Eles não gostam do diminutivo. Daquilo que nasce pequeno. E se agiganta. Daquilo que é fruto da teimosia. Da força de um povo. Gente que se apropria de espaços que ninguém dá valia. Gosta do que ninguém gosta. Por exemplo: de poesia. De arte na periferia. E que arte!

Há 15 anos o Sarau do Binho, o mais antigo que temos, promove essa revolução. Guiada pelo coração do grande poeta. Pelo sonho que ele arquiteta para a sua comunidade. Binho é do tamanho da nossa cidade. Patrimônio de nosso país. Quem conhece o Binho sabe o que a minha alma diz. Entende por que, aqui, estou gritando. Mais uma vez inconformado.

Uma hora é o Moinho, noutra o Pinheirinho. Agora o Binho. Perdão se exagero na comparação. Mas é a verdade. Com o fim do Sarau do Binho muitas famílias ficarão igualmente à margem. Muitas conquistas despejadas. Mentes desarticuladas. Povo sem ter o que comer. Eu mesmo já me alimentei dessa energia. Bebi desta fonte vigorosa e rica. Quantos artistas por ali passaram. Fizeram circular ideias e palavras. Para além da mesa de bar.

Binho é um dos caras mais apaixonados que eu tive a honra de encontrar. Conhecer, assim, para valer. A toda hora ele tem um projeto para tocar. Porque acredita na paixão transformadora da literatura. Binho, sozinho, fez mais do que muitos governos juntos. Um verdadeiro trabalho de autoestima e de educação. De amizade e de comunhão.

É injusto – por problemas burocráticos que há tempo o Binho, junto a todas as instâncias, tenta resolver – que o Sarau tenha as suas portas fechadas pela prefeitura e a sua missão, assim, seja abortada, sua longa história interrompida. Todos perdemos com isto. Comecemos então desde já nossa mobilização. Quem disse que somos pequenos?

Somos grandes e fortes, meus amigos. E unidos – pela poesia – venceremos.”

Redação

Por Redação

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