Cidade Nua apresenta “A moça da Janela”

Por: Catraca Livre

A inspiração vem do filme The Naked City (A Cidade Nua) de Jules Dassin (1948), e de sua atmosfera do film noir americano. Como o titulo deseja indicar, as estórias da série se inserem em localização citadina, sem maiores limitações.

A Moça da Janela teve o seu primeiro segmento postado em 31 de janeiro do corrente ano e cobre oito partes. Depois da primeira novela da série, seguiram-se outras três, a que designei, respectivamente,  DorisDoce Ilusão, e, por fim e por enquanto, , sob o título Um bom Partido, encetada em 27 de julho, sendo novela composta por dezenove segmentos.

Apresento adiante, o primeiro segmento de Cidade Nua, com a estória  A  Moça  da  Janela.

Para os leitores que porventura desejarem inteirar-se da continuação e conclusão dessa primeira novela, eles poderão ler os demais sete episódios no quadro de meu blog mauroazeredo.blogspot.com

Todas as demais novelas acima referidas se acham igualmente inseridas no aludido blog.

A Moça da Janela

Na rua onde morava havia um casarão com jeito de abandonado. Corriam estórias a seu respeito – que os donos tinham  morrido e gente se aproveitara para ocupá-lo; ou que a propriedade fosse contestada em interminável ação dessas que se arrastam anos a fio na justiça.
De qualquer forma, a vizinhança não parecia ver com bons olhos quem lá morasse. Dos seus próprios pais não se lembrava de ter ouvido nada. Talvez um muxoxo de sua mãe, quando lhe perguntara algo a propósito. Ficou então com a impressão de que melhor seria não perder tempo com as pessoas que aí morassem.
Os meses e os anos passaram, sem que nada mudasse daquela visão sumária. Diziam que saíam cedo e voltavam tarde, em geral apressados e malvestidos.
Só a aparência do prédio traía a falta de atenção ou de meios de seus residentes. Mas era aquela transformação lenta e insidiosa que o convívio diário costuma disfarçar. O avanço na deterioração só se atinava se alguém por um tempo o largasse de vista.
Em um fim de tarde com o céu enfarruscado, José veio à janela para ver se tinha de levar o guarda-chuva. Poderia ir andando até o ponto da reunião, se bem que fosse um estirão de quatro ou cinco quarteirôes. Melhor assim sair prevenido, se julgasse real a ameaça de aguaceiro.
O olhar ligeiro não viu apenas as nuvens pesadas e escuras. Como se fizesse um risco imaginário, ele cruzou também pelo casarão, que ficava do lado oposto, em  transversal de uns cinquenta, setenta metros.
A surpresa, no entanto, fez com que sua atenção se detivesse.
Não havia luz de rua próxima daquele prédio. No lusco-fusco do fim de dia, a visibilidade era precária. Não obstante, em um dos janelões do segundo andar acreditou entrever as feições de o que parecia ser uma jovem.
Como nunca antes deparara abertas qualquer das largas venezianas, e muito menos nelas notara a presença de algum morador, de  pronto procurou forçar-lhe a visão, intentando distinguir o entrevisto rosto.
Não teria certeza, mas logo o que estivesse do outro lado desapareceu por trás das sombras que envolviam a velha construção.
No relance, uma dúvida lhe ficara. De imediato, não se deu muita conta. Depois, contudo, a imagem ou o seu imperfeito esboço tornaria.

Próximos capítulos:

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8