Curso básico para fotografar mulheres nuas sem ser um babaca

 

Nas últimas semanas, algumas denúncias graves pipocaram nas redes sociais relatando casos de modelos que sofreram assédio de fotógrafos. Um deles, inclusive, era “famoso” no meio de música eletrônica e tinha um apreço especial de pedir fotos das suas futuras modelos mostrando a lingerie para “testar”. Outro, chegou a tocar em diversas meninas que sequer seguiam carreira de modelo durante as sessões de fotos. Essas duas denúncias foram as primeiras de, provavelmente, muitas que ainda estão por vir.

Não é de se surpreender que esses fotógrafos usavam a desculpa de fazer “ensaios sensuais” para abusar das modelos que topavam participar do projeto. Com o crescimento de fotógrafos do Instagram e profissionais mais veteranos que gostam de tirar fotos de nu, infelizmente é preciso falar o básico: não aproveite de ninguém em qualquer situação e, pior ainda, se essa relação for de trabalho.

Com isso em mente, pedimos para três experientes modelos da nova cena de peladezas jovens darem dicas para fotógrafos homens que estão começando. Um tutorial rápido e prático sobre o que não fazer com as modelos. Jacqueline Jordão, Karina Wenceslau e Thays Vitangelo também contaram algumas histórias de horror que passaram enquanto estavam trabalhando.

“Já aconteceu de estar no meio de um ensaio e o fotógrafo chegar pra mim e dizer o quão difícil era pra ele se controlar e não sentir tesão em me ver pelada. Isso no meio do ensaio. Me senti super fragilizada”, conta Karina.

Já Thays relatou ter sofrido abusos verbais de um fotógrafo e já chegou a perder trabalho porque não aceitou sair com um figurão do meio. Ela também já se posicionou ativamente nas suas redes sociais contra fotógrafos que usam projetos de empoderamento feminista para xavecar as modelos (profissionais e não-profissionais) que passavam por suas lentes.

Thays concorda que essa aparição de denúncias é positiva, mas aponta que ainda é muito pouco. Apesar de modelos e fotógrafos criarem grupos fechados de trocas de experiências ruins e indicações de pessoas confiáveis, a voz da modelo que foi abusada ainda é muito desconsiderada. “Percebemos que não falávamos dos abusos por conta do fotógrafo ser ‘famosinho’, e o pessoal tinha medo. Você vai falar isso e sair como errada, ou louca ou querendo atenção. Também percebemos que é difícil ter voz, porque muitas pessoas ainda enxergam isso [o nu fotográfico] como errado, porque fomos nós que topamos em posar peladas.”

Já a Jacqueline conta que foi menosprezada pelos fotógrafos por ser modelo plus size. “Tem fotógrafo que só me chama para falar que tirou foto de mina gordinha. Depois, ele caga para mim. Quando comecei a fotografar, saí do meu primeiro ensaio e falei que queria fazer aquilo pra sempre. Todo mundo que estava comigo deu risada e duvidou de mim. Depois que vieram outras oportunidades, eles ficaram em choque.”

Ilustração: Juliana Lucato/ VICE

Tenha um portfólio (Organizado? Melhor ainda)

“Eu sempre peço referência de um fotógrafo para outras meninas e, principalmente, vejo o portfólio dele para ver se ele é fotógrafo mesmo. Existem alguns homens por aí que nem fotografam e usam isso para se aproveitar”, conta Karina. (continue lendo aqui)