Festival Internacional de Curtas Metragens exibe 323 filmes
Produções têm como pano de fundo temas como deslocamentos humanos, mundo digital, política, identidade, negritude, feminismo, memória e sexualidade
Até 02 de setembro de 2018
Todos os dias
Diversos horários
Recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência não informados pelo próprio organizador do evento
Grátis
Com o tema Em Busca do Tempo de Agora, a 29ª edição do Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo exibe filmes pautados por discussões bastante presentes no Brasil e no mundo. Entre os dias 23 de agosto e 2 de setembro, o público confere gratuitamente produções sobre comunicação digital, representação política, imigração, feminismo, homossexualidade, transexualidade, empoderamento e preconceito racial.
Dirigido por Zita Carvalhosa e organizado pela Associação Cultural Kinoforum, esta edição apresenta 323 curtas de 53 países em seis salas de cinema da capital (MIS, CineSesc, Cinemateca Brasileira, Espaço Itaú Augusta, Cinusp, CCSP) e 17 espaços participantes do Circuito Spcine. Os ingressos são distribuídos com uma hora de antecedência nas bilheterias.
Tradicionalmente, a programação é dividida em três partes: as mostras principais Internacional, Latino-Americana e Programas Brasileiros, que revelam um panorama do cinema atual; os Programas Especiais, com atrações já tradicionais do festival, como a Mostra Infantojuvenil e o retorno da sessão de terror, além de novidades a cada edição; e as Atividades Paralelas, que incluem debates e workshops, como o Curta & Mercado e os Kinoforum Labs.
Mostra Internacional
A Mostra Internacional reúne 64 filmes, selecionados a partir de 2477 inscritos na categoria. Além de curtas de países com forte tradição audiovisual, como França, Reino Unido e Estados Unidos, há preciosidades como “Outro dia de Sol”, de Tim Huebschle, da Namíbia.
Há também as produções premiadas nos principais festivais de cinema do mundo. O curta australiano “Essas Criaturas Todas”, de Charles Williams,foi o vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2018, e “Três centímetros”, de Lara Zeidan, do Reino Unido, ganhou o Teddy Bear em Berlim 2018.
Mostra Latino-Americana
Este ano, a Mostra Latino-Americana é composta por 29 curtas, escolhidos entre 250 inscritos. Há produções de todo o continente, da Argentina ao México.
A grande novidade é a participação de um filme de Honduras pela primeira vez. “Negra Sou”, de Laura Bermúdez, conta a história de três mulheres e uma menina da primeira comunidade garífuna – grupo étnico formado pela miscigenação de índios caraíbas com escravos africanos – da história do país.
As produções colombianas são destaques novamente no festival. Nestes filmes, é possível perceber a variedade de formatos (ficção, documentário e animação) e de temáticas. O curta “Terra Molhada”, de Juan Sebastián Mesa, participou dos festivais de Sundance, Veneza e Clermont-Ferrand e conta a história de Oscar, que vive com os avós em uma humilde casa de campo, que está no meio de um grande projeto hidrelétrico.
Programas Brasileiros
Os programas brasileiros são compostos por 109 curtas de 18 estados, selecionados em meio a 711 inscritos de todo país.
A Mostra Brasil apresenta 53 deles. Um dos destaques é “O Órfão”, de Carolina Markowicz (São Paulo), que estreou na “Quinzenda do Realizadores“ em Cannes, e recebeu o Queer Palm, prêmio para filmes com temática LGBT. Na narrativa, o público conhece Jonathas, que é adotado, mas é devolvido logo depois, por ser diferente dos outros garotos.
Este ano, o Acre voltou a ter um filme selecionado para o festival. O estado só teve quatro representantes ao longo da história do evento e sua última participação foi em 2001. O curta é “Xinã Bera”, de Dedê Maia que revela as transformações sociais, políticas, econômicas e culturais vividas pelo povo Huni Kui, do rio Jordão.
Outros dois destaques entre as produções nacionais vêm de São Paulo. “Uma Bala”, de Piero Sbragia, é um documentário que aborda o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, que quase cinco meses depois permanece sem solução, e “Maria”, de Vinicius Campos, é uma adaptação do conto homônimo de Conceição Evaristo, sobre uma empregada doméstica que reencontra o pai do seu primeiro filho.
Há uma mostra dedicada apenas aos filmes paulistas. Estão na programação 24 curtas que refletem principalmente sobre moradia e o direito de ir e vir. Em “Kairo”, de Fabio Rodrigo, a atriz Vaneza Oliveira (da série “3%”, da Netflix) interpreta uma assistente social que precisa tirar um menino da escola, na periferia da cidade, para uma difícil conversa. “O Sonho de Eder”, de Sofia Amaral, documenta a vida do universitário indígena Eder, entre a falta de alternativas de subsistência e a forte influência da religião evangélica.
No Panorama Paulista também estão obras de dois nomes conhecidos no Brasil, mas não como curta-metragistas. Jayme Monjardim, diretor de novelas, filmes e minisséries, apresenta “Diário de um Compositor em Viagem”, um registro da rotina do compositor Alexandre Guerra durante a gravação da trilha de um filme em Budapeste e em Paris. Já o artista visual Nuno Ramos dirige “Lígia”, uma edição do Jornal Nacional em que seus apresentadores e repórteres “cantam” a música de Tom Jobim.
Os alunos de 14 escolhas de audiovisual de oito estados brasileiros também têm espaço para suas produções no festival. Entre os inscritos, os filmes de estudantes representaram 30% do total, destacando produções bastante engajadas, como “Afronte”, de Bruno Victor e Marcus Azevedo (Distrito Federal), que mistura ficção e documentário para mostrar o processo de transformação e empoderamento de um jovem negro e gay.
Compõem ainda os Programas Brasileiros, as Oficinas de Audiovisual e as Oficinas Kinoforum, com filmes que pontuam a diversidade de novos olhares de comunidades de todo o país.
Programas Especiais
Entre as mostras especiais deste ano, um dos destaques fica para a Cavideo: 21 anos em 21 curtas, uma celebração à vitória da resistência cultural no Brasil. A produtora é a que mais faz filmes no país (em média 10 longas e 15 curtas por ano) e também uma das últimas locadoras que existem. Na seleção está “Depois da Chuva”, dirigido pelo próprio Cavi Borges, sobre uma mulher solitária e exilada numa cidade distante, que escreve sua vida num diário
O festival também comemora os 70 anos da Declaração dos Direitos Humanos. Para a mostra, foram selecionados 12 curtas brasileiros de diferentes épocas que tratam de direito à vida e à liberdade. Um deles é “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda”, de José Pedro Goulart e Jorge Furtado, vencedor dos festivais de Gramado e Havana em 1986. O personagem enfrenta tudo e todos para conseguir o que quer: tomar um banho dentro de uma prisão militar.
Por fim, a mostra A Juventude de Herzog e Wenders apresenta os primeiros curtas realizados por dois dos principais representantes do cinema alemão. “Hércules” (1962) é o trabalho de estreia de Werner Herzog, que busca já a sutil transgressão do mero documentário e evoca um tema central de suas obras: o ridículo da revolta titânica. Já “Silver City Revisitada” (1968) revela uma obsessão de Wim Wenders por paisagens vistas de uma série de janelas de apartamentos em Munique.
Há também uma série de atividades paralelas que envolvem debates, laboratórios e oficinas. Acompanhe a programação completa no site.