Realizei meu fetiche: Fiz um freela como garoto de programa

Por: Catraca Livre

Eu tinha uns 15 anos quando assisti ao filme Garotos de Programa, do cineasta Gus Van Sant, estrelado pelos atores Keanu Reeves e River Phoenix em 1991. Essa foi a primeira vez que um assunto chamou minha atenção: a vida de garotos de programa. Não sei muito bem se foi o enredo, a direção, a trilha sonora, a excentricidade dos personagens ou meu lado puto mesmo, mas sei que enquanto meus amigos queriam ser O Exterminador do Futuro, eu já almejava uma vida com sexo, psicotrópicos e festas.

Seja sincero, aproveite que ninguém está olhando e responda: você já pensou na possibilidade de ganhar a vida transando com desconhecidos ou fazer isso apenas ocasionalmente? Digo “desconhecidos” porque um amigo dificilmente iria querer pagar para gozar com você. Isso poderia comprometer suas relações e o ser humano raramente consegue separar sexo de negócios ou sexo de amizade. Se dois amigos transam é porque estão bêbados ou são jovens demais para refletirem sobre o assunto.

Antes que alguém me pergunte, não, eu nunca paguei para transar com um garoto ou garota de programa. Talvez eu seja conservador demais para isso, acabaria broxando e ainda constrangido após ter que pagar pelo “serviço” incompleto devido à minha falta de gerenciamento sexual e psicológico. Foi aí que percebi que meu fetiche não era contratar um GP, mas sim, ser um garoto de programa pelo menos uma vez na vida.

Salas de bate-papo virtuais, ruas, saunas, sites relacionados ao tema… onde eu faria este freela como GP? Depois de tanto ouvir de todo mundo que fazer ponto nas ruas não seria a melhor opção – “Cara, você vai acabar apanhando ou levando uma facada” – acabei desistindo dessa hipótese.

Você pode nunca ter pensado nisso, mas em seu colégio, faculdade, trabalho, vizinhança ou família, pode ter alguém que já tenha feito ou ainda faça programas. Mas não seja ingênuo ao imaginar que prostituição é somente o simples ato da troca de sexo por dinheiro. Há quem transe para manter o emprego, descolar VIPs ou drinks na balada e até para segurar um casamento. Quem nunca fingiu um orgasmo?

Usando e tentando me convencer sobre os argumentos acima, fui em uma sauna gay do centro de São Paulo. Paguei R$ 40,00 para entrar e ganhei um cartão magnético que funcionava de comanda para pegar bebidas e também abrir um armário numerado dentro de um vestiário. Guardei toda minha roupa lá dentro (incluindo as meias e a cueca), peguei a toalha e os chinelos que vinham guardados em um saco plástico e fui desbravar o local. Você já assistiu ao filme De Olhos Bem Fechados, do cineasta Stanley Kubrick, que mostra uma festa luxuosa com muitas pessoas lindas transando por todos os cantos? Então, a sauna não tinha nada a ver com isso e o clima era bem bagaceiro, como se todas as pessoas do metrô resolvessem se masturbar ou transar umas com as outras. Entre possíveis senhores casados e jovens solteiros, também havia alguns michês oferecendo seus serviços. No início, fiquei um pouco perdido, andando pelos corredores que levavam até salas com exibições de filmes eróticos, cabines de sexo, cantinhos escuros, diferentes tipos de saunas, banheiros e um bar. Bebi umas quatro cervejas e gozei ao me masturbar olhando toda aquela bagunça. Depois, peguei um táxi e voltei para casa exalando um forte cheiro de eucalipto, pois não estava no clima de tomar uma ducha ao lado de ninguém. “É, não foi desta vez que fiz um programa”, pensei comigo mesmo enquanto ligava o chuveiro de meu apartamento.

Confesso que tentei usar o Grindr ou Scruff, aplicativos para localizar gays em busca de sexo próximos a você, mas lá a oferta de quem deseja uma transa gratuita é tão grande que ninguém está disposto a pagar por uma foda.

A partir daí, passei a conversar sobre esta matéria com todo mundo que fosse possível e me desse mais de 5 minutos de conversa. Eu sempre dava um jeito de comentar “Ah, to escrevendo sobre michês, você conhece ou já saiu com algum?”. As reações eram as mais diversas, desde “Meu, por que faz isso?”, até “Ainda não, mas depois vou querer umas dicas suas”.  E deu certo, um amigo acabou me indicando um GP que, segundo ele, poderia me introduzir nesse meio. Apesar do trocadilho infame, foi a partir daí que eu realmente entrei de cabeça nesse universo.

O Fernando é modelo e garoto de programa há 4 anos. Ele só faz atendimentos exclusivos e cobra alto por isso, apesar de ele achar um valor totalmente compatível com o mercado. “Eu falo português, inglês e espanhol fluentemente, fiz faculdade de comunicação, teatro no Wolf Maia e sou uma ótima companhia, tanto para o sexo como para conversar. Costumo ganhar entre 7 e 12 mil reais por mês; é um bom emprego e tenho talento para isso”. Essas foram algumas de suas frases em menos de 5 minutos de conversa. Comecei a fazer as contas mentalmente, mas antes de concluir o cálculo, perguntei quantas vezes por semana ele transava. “Só uma coisa vicia mais do que sexo, o dinheiro. Eu transo quantas vezes forem necessárias e não preciso gozar em todas, quem goza é o cliente. E deixa de ser otário, nunca ouviu falar de Viagra ou Cialis? Dá um Google, veja os valores das pílulas e calcule quanto precisa cobrar pelo programa para começar a ganhar dinheiro”. Taí minha primeira consultoria mercadológica do sexo pago. (Clique aqui para continuar lendo).