Rede de Turismo Comunitário do Ceará

Destaque entre as experiências de práticas ligadas ao Turismo Comunitário no País, a Rede Tucum foi estruturada em 2006 e se tornou uma das referências em modelo de organização desta modalidade de turismo no Brasil

Por: Catraca Livre
Por Gabriela Sales e Janderson Angelim

Composta por doze comunidades localizadas nos litorais Leste e Oeste do Estado do Ceará, a Rede conseguiu ajudar na consolidação das experiências que já eram praticadas antes de sua criação, ampliou e fortaleceu as lideranças locais colaborando para o protagonismo dos mesmos junto ao poder local na luta pelos direitos e necessidades de cada localidade.

O Por Entre Mares entrevistou Monica Bonadiman, uma Italiana que deixou seu País e passou a viver em Fortaleza para participar do processo de implantação e consolidação da Rede Tucum.

Monica Bonadiman - Articuladora da Rede Tucum

Falando o português que aprendeu a falar no Ceará, com sotaques e referências do povo que aprendeu e ensinou ao partilhar seus saberes e ao conviver com os mesmos, Monica nos recebeu em Fortaleza e de forma muito hospitaleira e atenciosa falou um pouco sobre a Rede!

“outro ponto forte do projeto  é o papel das mulheres. É  muito lindo ver o envolvimento de pessoas que antes nem falavam por  vergonha ou porque achavam que não tinham mesmo nada de bom para  oferecer.” Monica Bonadiman

Por Entre Mares – Você poderia comentar sobre a implantação da Rede Tucum no Brasil. Gostariamos que falasse um pouco sobre o processo que se deu ao desenvolver a proposta e articular a Rede e o Turismo Comunitário nas localidades:

Monica Bonadiman – Já a muitos anos no Ceará se falava de turismo comunitário, quando cheguei aqui pela primeira vez, em 2006, já haviam algumas experiências desenvolvidas e o debate sobre turismo comunitário estava bem quente. Muitas comunidades e Ongs estavam criticando o modelo de turismo de massa desenvolvido no litoral cearense. Quando cheguei em 2006, já havia outras Ongs, além da Associação Tremembé que queria assessorar e financiar experiências de turismo comunitário. Então a gente sentou com eles e combinamos que a gente poderia criar uma única Rede de turismo comunitário, mas cada Ong poderia ficar priorizando nos financiamentos as comunidades prioritárias dela! E assim foi! As Ongs Terramar, Tremembé e amigos da Prainha iniciaram a captação de recursos para financiar a Rede Tucum em vários aspectos. As comunidades foram todas beneficiadas pelos projetos, em diferentes medidas e dependendo das necessidades especificas de cada uma.

Jangada "Céu Azul" descansa na Praia do Batoque - uma das comunidades da Rede Tucum

Por Entre Mares – Poderia apontar as conquistas obtidas ao longo destes anos dedicados ao Projeto?

Monica Bonadiman – As conquistas foram muitas, mas o desafio é muito grande. Conseguir criar uma alternativa de renda nas comunidades litorâneas já é um sucesso grande, mesmo sendo os números do turismo comunitário bem pequenos. Outro ponto forte do projeto é o papel das mulheres. É muito lindo ver o envolvimento de pessoas que antes nem falavam por vergonha ou porque achavam que não tinham mesmo nada de bom para oferecer. Tem mulheres que antes nem falavam, e depois de ter entrado nos grupos de trabalho de turismo comunitário, através do encontro com visitantes solidários e a valorização do trabalho delas conseguiram um resgate e o aumento da auto-estima. Outro aspecto importante é a sensibilização do turista que normalmente, depois de uma experiência assim muda a sua visão sobre o fazer turístico.

Por Entre Mares – Quais os pontos positivos e negativos que você identifica no modelo de turismo comunitário proposto pela Rede Tucum?

Monica Bonadiman – Acho que se pensa no turismo comunitário não há pontos negativos, na teoria estou dizendo… não tem impactos negativos, pelo contrario. O problema é que as coisas nem sempre acontecem como a gente quer, ou seja, se o turismo comunitário fosse desenvolvido como na teoria, seria perfeito. Todo mundo ganharia! Pessoas das comunidades, o meio ambiente, a sociedade como um todo. Mas os desafios para que o turismo comunitário funcione são muitos e muito grandes. Nós temos políticas públicas que existem para apoiar um desenvolvimento sustentável, mas nem sempre funcionam como deveriam. Por exemplo, não há recurso para efetivar um plano de marketing eficaz. Em alguns casos os grupos de turismo comunitário desanimam justamente porque as coisas são difíceis… O modelo de turismo comunitário é perfeito, a prática que nunca é.

Vazante da Lagoa da Prainha do Canto Verde (Rede Tucum)

Por Entre Mares – Quais as perspectivas da Rede Tucum para os próximos anos?

Monica Bonadiman -A idéia é crescer, melhorar o serviço, envolver mas pessoas e mais comunidades, mas levando em conta que o turismo comunitário não pode nem deve substituir as outras atividades tradicionais. Em 2010 já entrou uma nova comunidade na Rede. Os índios Tapeba de Caucaia (perto de Fortaleza), e tem previsão que outras entrem em 2011. O fato que novas comunidades demonstrem interesse em participar é um ponto muito positivo. O grande desafio para os próximos anos vai ser encontrar recursos para os projetos e trazer mais turistas para visitar a Rede e melhorar cada vez mais o serviço!

Para conhecer a Rede Tucum e obter informações sobre pacotes e hospedagens nas comunidades acesse www.tucum.org