Samba que lá vem história: blocos que têm muita coisa pra contar

Descubra a história de 10 blocos tradicionais do Rio de Janeiro

Goste você ou não do Carnaval, é mais do que normal que, em meados de fevereiro, as ruas sejam tomadas por gente fantasiada e feliz, embriagada de festa, a qualquer hora do dia ou da noite, sempre pronta para cantar e dançar.

O Carnaval de rua do Rio de Janeiro não só é maior em termos de público, mas também de história pra contar. Ao longo de muitos anos e quilos e mais quilos de confete, a cidade maravilhosa escreveu uma história de luta política e resistência em meio a folia.

Cortejo do Boitatá pelas ruas da Lapa
Cortejo do Boitatá pelas ruas da Lapa

A Catraca Livre fez uma seleção de 10 dentre os milhares de blocos que saem às ruas para contar um pouco da origem dessa ofegante epidemia, que se chama Carnaval. Se liga:

  • Cacique de Ramos

O bloco criado na Zona Norte, em janeiro de 1961, pelas famílias Oliveira, Félix do Nascimento e Espírito Santo, o Cacique Ramos nasceu com o objetivo de divertir a galera da região da Leopoldina. Em seus muitos anos de história, o Cacique foi responsável por lançar clássicos do samba que estão na boca do povo até hoje, como: “Coisinha do pai”, de Almir Guineto, Luiz Carlos e Jorge Aragão, e “Vou Festejar”, de Jorge Aragão.

O bloco, que também é conhecido por colecionar estrelas, deu origem ao grupo Fundo de Quintal e entre seus membros históricos estão Arlindo Cruz, Jovelina Pérola Negra, Luiz Carlos da Vila, Jorge Aragão, Almir Guineto, João Nogueira, Zeca Pagodinho e Beth Carvalho – que não só popularizou vários dos sambas do Cacique em suas gravações, como tornou-se madrinha do bloco.

Quando? Domingo, segunda e terça-feira de Carnaval, às 15h
Onde? Av. Chile – Centro

  • Céu na Terra

Fundado em 2001, o Céu na Terra é um dos símbolos da renovação e revitalização do Carnaval de rua do Rio de Janeiro. O bloco criado nas ladeiras de Santa Teresa tinha como tradição a utilização do bondinho em seu desfile de pré-Carnaval, arrastando a multidão multicolorida pelo bairro. A Orquestra Céu na Terra é responsável pelo seu repertório de marchinhas tradicionais completando com outras autorais, cirandas, maxixes, sambas e frevos.

Quando? 
Sábado de pré-Carnaval e sábado de Carnaval, às 7h
Onde? 
Largo dos Guimarães (Concentração) – Santa Teresa

A Orquestra Céu na Terra tocando dentro do antigo bondinho
A Orquestra Céu na Terra tocando dentro do antigo bondinho
  • Simpatia é Quase Amor

Criado em meio as campanhas pelas Diretas Já, em 1985, o Simpatia é Quase Amor tem como suas cores temáticas o amarelo e o lilás, em homenagem ao remédio Engov, que ajuda a evitar a ressaca no dia seguinte da bebedeira. Seu nome é inspirado em um personagem do compositor Aldir Blanc que, assim como o bloco, é um fanfarrão conquistador. O deboche político também faz parte do espírito do Simpatia, que em seu grito de guerra manda um alô para a “burguesia de Ipanema”. Tem entre seus padrinhos Albino Pinheiro e Dona Zica da Mangueira.

Quando? Sábado pré-Carnaval e domingo de Carnaval, às 14h
Onde? Praça General Osório – Ipanema

O bloco tradicional de Ipanema arrasta uma multidão
O bloco tradicional de Ipanema arrasta uma multidão
  • Escravos da Mauá

Nascido e criado na Praça Mauá, o bloco Escravos da Mauá percorre as ruas do bairro da Saúde nas proximidades da Praça, passando pela Pedra do Sal e pelo Morro da Conceição. O bairro, que chegou a ser conhecido como Pequena África do Rio de Janeiro, recebia os ex-escravos e as colônias de negros baianos que vieram para o Rio em busca de trabalho no porto e moradia barata, mesmo depois da abolição da escravatura. Em menção à história do local e aos criadores do bloco (funcionários públicos do INT – Instituto Nacional de Tecnologia), para chegarem a um nome foi um pulo.

Quando? Domingo pré-Carnaval, às 13h
Onde? Largo São Francisco da Prainha – Saúde

  • Suvaco do Cristo

Apesar da pouca idade, o bloco nascido em 1986 é um dos mais tradicionais do Carnaval de rua carioca. Como o próprio nome explica, o Suvaco nasceu no bairro do Jardim Botânico, sob as axilas dos braços abertos do Cristo Redentor – e que surgiu de uma fala do compositor Tom Jobim, morador do bairro, que dizia que em sua casa tudo mofava justamente por estar ali. Como um bloco para reunir os amigos – entre eles o compositor Jards Macalé, Lenine e o poeta Chacal – o Suvaco cresceu, se tornando um dos mais populares blocos da Zona Sul do Rio.

Quando? Domingo pré-Carnaval, às 8h
Onde? Rua Jardim Botânico, esquina com Rua Faro – Jardim Botânico

A primeira formação do bloco em 1986
A primeira formação do bloco em 1986
  • Bloco das Carmelitas

O bloco foi batizado a partir de uma “piadinha” contada por um morador do bairro de Santa Teresa que disse ter visto uma freira pular os muros do Convento das Carmelitas para se misturar aos foliões. Por isso, desde 1990, o bloco faz dois desfiles: um no início do Carnaval, marcando a data da fuga da freira que caiu no samba, e na terça de Carnaval, quando ela pôde voltar ao convento sem chamar atenção. Os foliões costumam usar fantasias de freira para que ninguém identifique a fujona.

Quando? Sexta de Carnaval, às 15h, e terça-feira de Carnaval, às 10h
Onde? Esquina da Ladeira de Santa Teresa com Rua Dias de Barros (Sexta de Carnaval) e Largo do Curvelo (terça-feira de Carnaval) – Santa Teresa

Boneco gigante em homenagem a freia fujona do Convento das Carmelitas
Boneco gigante em homenagem a freia fujona do Convento das Carmelitas
  • Cordão do Bola Preta

Criado em 1918 por Álvaro Gomes de Oliveira (o Caveirinha), Francisco Brício Filho (Chico Brício), Eugênio Ferreira, João Torres e os três irmãos Oliveira Roxo, Jair, Joel e Arquimedes Guimarães, o Bola Preta é o mais antigo bloco em atividade no Rio de Janeiro. Ao ver passar uma linda mulher de vestido branco com bolas pretas, um dos fundadores do bloco criou o nome que hoje é um dos mais conhecidos do Brasil. O hino do Bola é uma das mais famosas marchinhas de todo o Carnaval carioca, com os versos “Quem não chora não mama/ Segura, meu bem/ A chupeta/ Lugar quente é na cama/ Ou então no Bola Preta”.
Atualmente o Cordão do Bola Preta disputa com o Galo da Madrugada, de Recife, o título de maior bloco de Carnaval do mundo, arrastando milhões de foliões.

Quando? Sábado de Carnaval, às 8h
Onde? Rua Primeiro de Março (entre Rua Buenos Aires e Rua do Rosário) – Centro

  • Banda de Ipanema

Fundada em 1964 por Albino Pinheiro, Jaguar, Ziraldo, Sérgio Cabral e a turma do jornal O Pasquim, a Banda de Ipanema foi criada no mesmo ano do golpe, sendo utilizada como meio de se fazer críticas políticas e até debochar da situação do país mesmo durante o regime militar . Os integrantes do bloco, que usavam terno e tocavam instrumentos quebrados, contratavam uma banda de verdade para tocar.

O primeiro desfile da banda saiu do famoso bar Jangadeiros – reduto de artistas, palco do cinema novo, da bossa nova e dos tempos áureos da boemia. Desde então, a Banda de Ipanema teve entre seus padrinhos e madrinhas nomes como Chico Buarque, Leila Diniz, Clara Nunes, Clementina de Jesus, Bibi Ferreira, Grande Otelo, Martinho da Vila e Cartola, entre muitos outros. Até hoje o bloco arrasta multidões pela ruas do bairro, em um ambiente democrático, reunindo jovens, velhos, gays, héteros, drags, senhoras de família e crianças para juntos brincarem o Carnaval.

Quando? Sábado de Carnaval, às 16h
Onde? Rua Gomes Carneiro até a Praça General Osório – Ipanema

Hermínio Bello de Carvalho, Jaguar, Ziraldo e Sérgio Cabral, fundadores da Banda de Ipanema em 1990
Hermínio Bello de Carvalho, Jaguar, Ziraldo e Sérgio Cabral, fundadores da Banda de Ipanema em 1990
  • Afoxé Filhos de Gandhi

Fundado em 1951, o Afoxé Filhos de Gandhi é um dos primeiros blocos afros do Rio de Janeiro, fruto de uma história que remonta às lutas sindicais de estivadores na década de 50. Pouco se sabe sobre seus idealizadores, mas é certo que foi fundado por iniciativa de trabalhadores da zona do Cais do Porto do Rio de Janeiro, influenciados por alguns integrantes do Ijexá Filhos de Gandhi, fundado em Salvador em 18 de fevereiro de 1949.

Com trajes essencialmente brancos e detalhes em azul celestial, melodias que rementem a cânticos e batuques sincopados, tais quais no candomblé, são o repertório desse bloco que é um dos símbolos de resistência do Carnaval.

Quando? Domingo e segunda-feira de Carnaval, às 15h
Onde? Praça da Harmonia – Saúde (domingo) e Post 6 da Praia de Copacabana (segunda-feira)

O branco e azul dos Filhos de Gandhi
O branco e azul dos Filhos de Gandhi
  • Cordão do Boitatá

A história do ressurgimento do Carnaval de rua do Rio de Janeiro nas últimas duas décadas tem muito a ver com a trajetória do Boitatá. O bloco, que ocupa a região da Praça XV desde 1997, sempre no domingo de Carnaval, é conhecido pelo apego às tradições das festas populares que embalam o Brasil ao longo do ano.

O repertório é uma mistura de ritmos e homenagens a grandes artistas brasileiros e a presença de alguns convidados no palco virou marca do cordão. Se tem um bloco que manda ver na criatividade nas fantasias é esse! Então se tem algum dia pra investir uma em especial, guarde pro domingo de Carnaval.

Quando? Domingo pré-Carnaval e domingo de Carnaval, às 9h
Onde? Arcos da Lapa (domingo pré-Carnaval) e Praça XV (domingo de Carnaval)