8 coisas que aprendemos no começo da nossa vida nômade

26/02/2016 14:16 / Atualizado em 29/02/2016 20:12

Tudo pronto. Já planejamos e economizamos por um ano e meio. Compramos todos os equipamentos que precisávamos. Fizemos até um projeto piloto no Uruguai. Agora, é só pegar o avião para Argentina, botar em prática as nossas ideias e levar a vida que sempre sonhamos. Então, a realidade cai sobre as nossas cabeças como uma mochila de 75 litros, com meias e camisetas transbordando de cada abertura.

É, ser um “casal que larga tudo para viajar pelo mundo” pode parecer muito tentador pelas fotos. Mas, antes de olhar para o seu amor e afirmar que o seu sonho é trabalhar na estrada, fique sabendo de uma coisa: nenhuma pessoa está 100% pronta para encarar esse desafio. Isso porque a característica mais forte desse estilo de vida é o aprendizado. Ele é constante, intenso e vitalício. Semanalmente acontecem coisas que a gente não esperava e nos fazem olhar para tudo com outros olhos. Fatos que podem tanto nos levar a dar passos para trás, como nos fazer enxergar novas habilidades em potencial ou, quem sabe, uma nova oportunidade de negócio. Conheça as principais lições que a gente aprendeu na prática, nos primeiros seis meses de viagem, e que nos ajudaram a deslanchar na nossa nova e insubstituível vida.

Passeando em Paseo de las Artes, Córdoba – primeira semana de viagem
Passeando em Paseo de las Artes, Córdoba – primeira semana de viagem

1 – Sim, as duas primeiras semanas são um caos

Imagine que o nosso plano inicial em Córdoba – a primeira parada na Argentina – era mais ou menos esse: lançar o site do Mundo à Volta, captar conteúdos turísticos e ainda produzir vídeos e posts sobre o lugar. Como se não bastasse, tivemos a brilhante (e econômica) ideia de propor uma troca a donos de hostels da cidade. Nós produziríamos um vídeo comercial para eles e não pagaríamos a estadia por uma semana. E não é que o primeiro email que a gente mandou foi um sucesso? O resultado foi a gente enlouquecido filmando o hostel, correndo atrás de conteúdos cordobeses e olhando assustados para a complexidade de trabalhar e viajar ao mesmo tempo – pra completar, a Gabi ficou doente por uma semana. Foram dias importantíssimos, que nos fizeram entender na marra como a calma e a organização seriam fundamentais pra gente ter sucesso na viagem.

2 – Metade dos planos ficam no papel

Essas primeiras semanas em Córdoba nos mostraram uma verdade que ficou cada vez mais clara. A intensidade e variedade de uma vida nômade não permitem que a gente realize tudo que planejou antes de partir, na estabilidade da nossa rotina corporativa. São muitas variáveis surgindo o tempo inteiro para atrapalhar as tarefas do projeto: ir no mercado, cozinhar, comer, falar com a família, trocar de hostel, interagir com viajantes comunicativos (tá bom, que falam sem parar), ser convidado para uma celebração que só acontece naquela data. E quando a gente se dava conta, só sobrava tempo para jantar, tomar banho e ir dormir. Com todos esses obstáculos para o projeto, nós enxergamos duas opções: ou a gente aceitava a existência desses imprevistos e alongava a estadia em cada lugar para dar conta da carga de trabalho, ou desafiava perigosamente a nossa sanidade física e mental. Nós escolhemos repensar o nosso tempo. E assim, os dois meses planejados para ficar na Argentina se tornaram quatro.

Muito caminho pela frente – El Calafate, patagônia argentina (3 meses de viagem)
Muito caminho pela frente – El Calafate, patagônia argentina (3 meses de viagem)

3 – As oportunidades de multiplicam na estrada

Nós sempre acreditamos que, trabalhando com seriedade e explorando ao máximo as nossas habilidades, faríamos o nosso projeto crescer. O que a gente não imaginava era pagar apenas uma semana de estadia em dois meses e meio. Ser convidado para estar na programação de um canal de televisão que a gente sempre aspirou, no primeiro mês de viagem. Sair em sites importantes como o Nômades Digitais e em grandes jornais como o argentino Clarín e a Zero Hora, de Porto Alegre. É como se todas as novidades e incertezas desse formato profissional também abrissem espaço para um universo de ótimas oportunidades. Por ser algo tão novo, parece existir um mercado do tamanho do mundo a ser explorado, com uma multidão de potenciais clientes e parceiros começando a entender essa nova categoria de prestadores de serviço. Pelo que a gente viveu nos primeiros seis meses de viagem, tem muita coisa boa nos esperando nessa vida itinerante.

4 – Como trocar conteúdo por estadia

Como eu já falei, uma das maneiras que encontramos para economizar bastante dinheiro foi trocando conteúdo por hospedagem. No auge da nossa inexperiência, a gente oferecia tudo que sabia fazer: um vídeo comercial, fotos e recomendação no site. Mas, depois de ver quanto tempo era necessário para produzir tudo isso – o que significava um grande atraso para o Mundo à Volta – e como os hostels estão desesperados por qualquer serviço de comunicação, começamos a oferecer cada vez menos. Hoje em dia, não trocamos mais vídeos com hostels (vídeo, só pagando) e de vez em quando oferecemos fotos. Geralmente, nós apenas recomendamos o lugar no nosso site e nos vídeos, e eles já ficam bem satisfeitos. Se você é bom de Photoshop, diferente da gente, certamente vai ter bastante demanda para logos, layouts para capas de Facebook e etc.

5 – Tipo de Hospeagem Vs Rendimento

Apesar de ser uma maravilha trocar trabalho por estadia, essa modalidade mostrou ser um problema na hora de produzir por diversos motivos. Como o dono do hostel se torna um cliente, precisamos reservar muito da nossa atenção pra ele. Todos os demais hóspedes estão aproveitando as férias, o que inclui confraternizações diárias e muitos convites negados da nossa parte – alguns aceitos, porque não somos de ferro. E mesmo quando ficamos de fora das festinhas, elas acontecem na mesa ao lado e atrapalham bastante a nossa concentração. Nós achamos o Couchsurfing uma ferramenta apaixonante, de pura conexão e humanidade, mas isso também acaba roubando horas do nosso dia de trabalho. Conclusão? Variamos o tipo de hospedagem de acordo com o momento da viagem. Quando precisamos muito focar no projeto e encontramos um apartamento barato, usamos o Airbnb. Aí, sim, conseguimos produzir o máximo que podemos e fica muito claro os pulos de evolução que acontecem nesses períodos. Tanto no projeto como na nossa vida, já que esse formato nos aproxima bastante de uma rotina, porém com um estilo nômade.

Gabi trabalhando no hostel na Ilha de Chiloé, Chile – 4 meses de viagem
Gabi trabalhando no hostel na Ilha de Chiloé, Chile – 4 meses de viagem

6 – Quem faz o quê

É inacreditável o que duas pessoas podem fazer quando a divisão do trabalho é bem feita. No início da viagem, a nossa divisão era assim: eu era responsável pela produção dos vídeos, que é a função mais desgastante no Mundo à Volta, e a Gabi se encarregava dos posts, mídias sociais e contatos. Só no terceiro mês de viagem, depois de organizarmos melhor o nosso volume e os nossos métodos de trabalho, conseguimos olhar além da produção de conteúdo e perceber outras necessidades muito importantes. Como, por exemplo, buscar parceiros para a marca. Foi quando a nossa “empresa” sofreu uma grande reestruturação. Eu passei a produzir também os nossos posts e a Gabi migrou para a “área comercial”. Ela ainda cria e planeja conteúdos, mas está focada principalmente em fazer contatos com empresas que possam trabalhar com a gente. Essa mudança de foco nos fez ver todo o potencial do nosso projeto e já criou ótimas oportunidades de crescimento.

7 – Diminuir o tamanho da mochila

Muitas pessoas falam sobre a importância do desapego na vida e a gente tem certeza que aprender a ter menos coisas deixa o nosso espírito mais leve e nos faz evoluir. Isso também acontece com o tamanho da mochila. Mas, o maior problema de carregar muitas coisas é o peso que elas fazem sobre as nossas costas, mesmo. Numa viagem longa, o ritual de vestir o mochilão acontece muitas vezes e o corpo e a mente vão ficando bastante cansados. Uma saída que nós encontramos para, ao menos, amenizar esse desgaste é descansar muito nos dias de deslocamento ou mudança de estadia. Chegamos na nova “casa”, nos deitamos e só levantamos para comer. Outro problema de ter muita coisa na mochila é estar sempre procurando – e demorando – para encontrar aquela bendita roupa. Nós estamos aprendendo a carregar cada vez menos bagagem e isso aumenta a esperança, inclusive, de que a viagem pode durar muito mais.

8 – Realmente, é a vida dos nossos sonhos

Não sei quanto a você, mas todos esses desafios que eu acabei de citar são extremamente estimulantes para nós e fazem parte, sim, de tudo que a gente sonhava. Estamos levando uma vida que é tudo menos entediante e limitada. Que além do constante aprendizado e crescimento, nos presenteia com dias inesquecíveis todas as semanas. Finalmente, estamos vivendo através de conexões verdadeiras com o mundo a nossa volta, que nos dão a certeza de que estamos vivos. Criando, conhecendo, experimentando. Amando. Fazendo o que gostamos e sabemos fazer, mas também descobrindo que nós podemos muito mais.

 

Eu e a Gabi em El Calafate, na Patagônia Argentina
Eu e a Gabi em El Calafate, na Patagônia Argentina

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E uma boa viagem pra você.

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