Aos 66, avó faz técnico em contabilidade e já planeja faculdade

Em parceria com qsocial
11/09/2015 13:26

Por curiosidade, a menina Eládia Gonçalves Barboza aprendeu o ofício do pai, que era técnico de rádios, e começou a montar sozinha os equipamentos. Aos 12 anos, porém, a brincadeira se transformou em responsabilidade. O pai teve de ser internado por causa de hanseníase, e a loja da família precisava continuar de portas abertas.

Eládia Barboza durante viagem a Florença, na Itália
Eládia Barboza durante viagem a Florença, na Itália

Ela não perdeu tempo e assumiu a atividade. Chegava a montar quatro rádios por semana, conta. “Todos eram vendidos ou na loja ou no hospital onde meu pai estava.” O problema foi que, para dar conta do trabalho, a escola teve de ficar para depois.

Como a garota não tinha experiência, por orientação do pai, um primo, 17 anos mais velho, passou a ajudá-la no comércio. Papo vai, papo vem, começaram a namorar. “Tudo comigo aconteceu bem cedo. Comecei também a namorar bem nova, casei-me com 17 anos e meio. Eu brinco que tinha mais juízo naquele tempo do que hoje.”

Vieram os cinco filhos e a vida em família. “Me envolvi com eles. No começo, nem sentia falta de conhecimentos, só mais tarde fiz o supletivo”, afirma.

Aos 46 anos, a vida de Eládia mudou de novo: a morte do marido a levou a trabalhar no escritório de contabilidade dele, a pedido dos sócios.

Eládia Barboza em sua formatura como técnica em contabilidade
Eládia Barboza em sua formatura como técnica em contabilidade

“Eu não entendia nada daquilo, aprendi na raça. No início, eu era uma aprendiz, mas logo comecei a fazer de tudo. O problema é que não era formada, e o Conselho Regional de Contabilidade passou a exigir o curso”, conta Eládia.

Foi por isso que, aos 64 anos, resolveu enfrentar o vestibulinho da ETEC (Escola Técnica Estadual) e tentar uma vaga no curso técnico em contabilidade.

“Decidi encarar para ver no que dava. E olha: me surpreeendi. Foi muito melhor do que tinha imaginado, passei de primeira!”

A formatura da “vovó” da turma foi em agosto. “Tive uma experiência muito gostosa, de estar no meio dos jovens, de voltar a conviver, fazer amizades. Eles sempre me respeitaram, me pediam conselhos, até saí para jantar com eles”, conta.

Essa aproximação com os mais novos teve reflexos em casa, entre os quatro netos, que têm entre 13 e 17 anos. “Sempre me incentivaram bastante e todos foram à minha formatura.”

Eládia Barboza com sua família, na formatura
Eládia Barboza com sua família, na formatura

“Na infância”, conta ela, “meu sonho era ser costureira”. “Agora é viajar, eu adoro passear. A próxima será em janeiro, para os Estados Unidos, e vou levar todos os meus netos comigo. Estamos já planejando tudo, me preparei. Vai ser a primeira vez que faremos isso. Depois, estou pensando em tentar uma faculdade.”

Ela explica a dúvida: a rotina de trabalhar de dia e estudar à noite não foi fácil. “Sinto muito orgulho do que fiz e me emociono da minha trajetória. Tive de vencer vários desafios na vida, e o curso técnico foi um deles. De qualquer forma, estou com 66 anos. Uma faculdade dura quatro anos, então terei mais de 70. Mas estou tentada a vencer mais essa…”