Aula de História com roda de samba sábado na Penha

Neste sábado, dia 18, acontece mais uma edição do evento Ágoras Cariocas. O professor de História Luiz Antonio Simas ministra uma palestra – ou melhor, um bate-papo informal e delicioso – sobre o bairro da Penha, sua linda igreja, a tradicional festa que acontece por lá, os sambas e botecos da região…

Depois do papo tem roda de samba aberta – leve seu instrumento. Tudo de graça (vale contribuir na hora em que passarem o chapéu). A conversa acontece a partir das 11h na ladeira do Parque Shangai (Largo da Penha, 19, Penha).

O Ágoras Cariocas é organizado pelo coletivo Norte Comum.

Saiba mais no texto abaixo, de autoria do próprio  professor:

Penha, padroeira do Carnaval

Contam que, no início do século XVII, aqui no Rio, o português Baltazar de Abreu Cardoso saiu para caçar. Subitamente, apareceu diante dele uma cobra gigantesca. Apavorado, o portuga apelou: – Valei-me, minha Nossa Senhora da Penha! Feito o apelo, um lagarto botou a peçonhenta para correr. Comovido, Baltazar ergueu uma ermida no local do milagre e prometeu fazer anualmente uma festança para relembrar o fato. Surgia assim uma das maiores tradições cariocas: a Festa da Penha.

Feita a devida referência ao sagrado, constato que milagre maior do que o da santa foi o do povo carioca, que tomou para si a festa e a transformou, no início da República, numa espécie de folia pré-carnavalesca e espaço de exercício da cidadania informal.

A República das oligarquias criminalizava a cultura popular. A onda desse pessoal era modernizar e higienizar o Rio de Janeiro em padrões europeus, adotando Paris, a capital francesa, como modelo. E tome de derrubar cortiços e criminalizar as referências culturais do povo mais humilde, sobretudo dos descendentes de escravos. Neste clima, as manifestações populares – o samba, a capoeira e a macumba, por exemplo – eram duramente reprimidas, vistas como símbolos do atraso e da barbárie.

Mas o povo deu o nó em pingo d´água. A rapaziada virou dona da festa e dela fez seu pertencimento. Os capoeiras cortaram o mato nas rodas de volta ao mundo, as baianas prepararam a comida do santo e os bambas mostraram os sambas que tinham acabado de compor. A festa transformou-se, depois do Carnaval, no maior evento popular do Rio de Janeiro.

Os poderosos fizeram de tudo para impedir o furdunço. Em 1904, 1907 e 1912, a prefeitura proibiu rodas de samba na Penha. A rapaziada foi lá, zombou da proibição e fez. Havia ordem de prisão para praticantes da capoeira. O berimbau puxou o toque de São Bento Grande e o povo gingou. A baiana temperou o acarajé, a cerveja gelou e o Rio de Janeiro mostrou que o espaço da civilização da nossa cidade é a rua.

Acho, por tudo isso, que a cidade deveria zelar pelos festejos da Penha, zuelando tambores na ermida. A festa é parte integrante da História carioca. A decadência dos festejos – por uma série de motivos que demandariam inúmeras discussões – é emblemática dos paradoxos de uma cidade que, vez por outra, parece querer negar seus traços culturais mais fecundos.

A maioria da população pode ter, enfim, se esquecido de Nossa Senhora da Penha. Que ela, todavia, não se esqueça do Rio de Janeiro e nos proteja. A santinha, afinal, sempre anunciou por aqui, fuzarqueira como ela só, a proximidade do Carnaval“.

Aula de História com roda de samba sábado na Penha

Neste sábado, dia 18, acontece mais uma edição do evento Ágoras Cariocas. O professor de História Luiz Antonio Simas ministra uma palestra – ou melhor, um bate-papo informal e delicioso – sobre o bairro da Penha, sua linda igreja, a tradicional festa que acontece por lá, os sambas e botecos da região…

Depois do papo tem roda de samba aberta – leve seu instrumento. Tudo de graça (vale contribuir na hora em que passarem o chapéu). A conversa acontece a partir das 11h na ladeira do Parque Shangai (Largo da Penha, 19, Penha).

O Ágoras Cariocas é organizado pelo coletivo Norte Comum.

Saiba mais no texto abaixo, de autoria do próprio  professor:

Penha, padroeira do Carnaval

Contam que, no início do século XVII, aqui no Rio, o português Baltazar de Abreu Cardoso saiu para caçar. Subitamente, apareceu diante dele uma cobra gigantesca. Apavorado, o portuga apelou: – Valei-me, minha Nossa Senhora da Penha! Feito o apelo, um lagarto botou a peçonhenta para correr. Comovido, Baltazar ergueu uma ermida no local do milagre e prometeu fazer anualmente uma festança para relembrar o fato. Surgia assim uma das maiores tradições cariocas: a Festa da Penha.

Feita a devida referência ao sagrado, constato que milagre maior do que o da santa foi o do povo carioca, que tomou para si a festa e a transformou, no início da República, numa espécie de folia pré-carnavalesca e espaço de exercício da cidadania informal.

A República das oligarquias criminalizava a cultura popular. A onda desse pessoal era modernizar e higienizar o Rio de Janeiro em padrões europeus, adotando Paris, a capital francesa, como modelo. E tome de derrubar cortiços e criminalizar as referências culturais do povo mais humilde, sobretudo dos descendentes de escravos. Neste clima, as manifestações populares – o samba, a capoeira e a macumba, por exemplo – eram duramente reprimidas, vistas como símbolos do atraso e da barbárie.

Mas o povo deu o nó em pingo d´água. A rapaziada virou dona da festa e dela fez seu pertencimento. Os capoeiras cortaram o mato nas rodas de volta ao mundo, as baianas prepararam a comida do santo e os bambas mostraram os sambas que tinham acabado de compor. A festa transformou-se, depois do Carnaval, no maior evento popular do Rio de Janeiro.

Os poderosos fizeram de tudo para impedir o furdunço. Em 1904, 1907 e 1912, a prefeitura proibiu rodas de samba na Penha. A rapaziada foi lá, zombou da proibição e fez. Havia ordem de prisão para praticantes da capoeira. O berimbau puxou o toque de São Bento Grande e o povo gingou. A baiana temperou o acarajé, a cerveja gelou e o Rio de Janeiro mostrou que o espaço da civilização da nossa cidade é a rua.

Acho, por tudo isso, que a cidade deveria zelar pelos festejos da Penha, zuelando tambores na ermida. A festa é parte integrante da História carioca. A decadência dos festejos – por uma série de motivos que demandariam inúmeras discussões – é emblemática dos paradoxos de uma cidade que, vez por outra, parece querer negar seus traços culturais mais fecundos.

A maioria da população pode ter, enfim, se esquecido de Nossa Senhora da Penha. Que ela, todavia, não se esqueça do Rio de Janeiro e nos proteja. A santinha, afinal, sempre anunciou por aqui, fuzarqueira como ela só, a proximidade do Carnaval“.