‘Comecei a praticar esporte e achei um tempo que não existia’, diz executivo de 66 anos

Em parceria com qsocial
17/08/2015 08:00 / Atualizado em 06/11/2015 10:40

Até os 45 anos, o executivo Márcio Milan levava uma vida totalmente sedentária, não sabia nadar, trabalhava 16 horas por dia e não tinha tempo para a família. Hoje, aos 66, já participou de 49 maratonas, 10 ultramaratonas, 11 RAAM (Race Across America), considerada a prova de ciclismo mais difícil do mundo, e três Ironman, aquela modalidade de triatlo de longas distâncias que inclui 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42,195 km de corrida. Seu rendimento no trabalho melhorou e sua dedicação à família também.

“Quando comecei a praticar esporte, encontrei um tempo que não existia”, conta. “Minha família começou a me apoiar não só pelo tempo que passei a ter para ir ao cinema, ao teatro, mas porque descobriram outra pessoa em mim: mais alegre, que olhava mais a natureza, mais descontraída, mais amiga, mais amorosa com os filhos, com os netos.”

No trabalho, a adrenalina e a disposição obtidos também produziram efeito, e o executivo do Grupo Pão de Açúcar diz que teve de equilibrar as cobranças.

“Fiquei mais eficiente no trabalho e, como conseguia entregar mais, achei que a equipe também podia, mas não é assim. Percebi que estava exigindo mais do que deveria dos meus funcionários, pois eles não estavam passando pelo mesmo processo. A gente não pode levar essa competitividade toda do esporte para a equipe. Foi um aprendizado.”

Ele começou a sentir a necessidade de praticar esporte aos 45 anos, quando decidiu mudar de vida e participar de maratonas. Correu em Santa Catarina, em Nova York e em Paris.

Trecho noturno da RAAM, prova de ciclismo dos EUA considerada a mais difícil de todas
Trecho noturno da RAAM, prova de ciclismo dos EUA considerada a mais difícil de todas - Luiz Machado

Como considerou seu desempenho fraco, resolveu contratar um professor e atingir uma meta bem mais difícil: uma ultramaratona na África do Sul, de 90 km. “Tomei essa decisão em abril, e a ultramaratona era em junho. Tive pouquíssimo tempo para me preparar, e era totalmente diferente de uma maratona. Fui sempre colocando um objetivo maior, e me tornei o primeiro brasileiro a concluir essa prova.”

Foi assim também quando recebeu o convite para o primeiro Ironman. “Sem saber nadar nem pedalar, aceitei o desafio. Para superar, você tem de estar sempre insatisfeito com o que alcançou para buscar a próxima meta.” Após quatro meses de preparação, muito esforço pessoal e sacrifícios para encaixar os treinos em sua agenda, o objetivo foi alcançado.

O próximo passo foi a RAAM, prova a que tem se dedicado nos últimos três anos. São 5.000 km pedalados durante sete dias, cruzando os Estados Unidos de sudoeste a nordeste. Márcio conta todos os detalhes sobre a corrida do ano passado, sua 10ª disputa, no livro “RAAM Mr. Milan – No Limite do Corpo, da Alma e da Razão”, da editora Poligrafia. Em junho, ele concluiu sua 11ª participação.

“É a mais difícil do mundo para ciclistas. Você pedala a mais de 50°C durante o dia e vai para temperaturas negativas à noite. Tem trechos com mais de 4.000 metros de altitude, altos e baixos, não tem parada. É como se ligasse o carro e jogasse a chave fora. Requer preparação física e psicológica, planejamento de logística, afinamento com a equipe de staff. Você acaba a prova e já começa a se preparar para a próxima.”

Márcio Milan pedala durante a RAAM, que tem um percurso de 5.000 km
Márcio Milan pedala durante a RAAM, que tem um percurso de 5.000 km - Luiz Machado

E como é chegar ao fim dessas modalidades de ultrarresistência? Um misto de emoções, segundo o atleta. “Quando você está terminando, é muito gratificante, vem uma adrenalina, uma endorfina, parece que você está começando a prova, dá um gás para ir até o final. Quando você acaba e senta, parece que acabou tudo, a luz vai se apagando, você não consegue se levantar da cama do hotel no dia seguinte.”

O fato é que a luz se acende de novo, em busca de mais retas de chegada. “Todos os anos faço check-up, e os resultados só melhoram. Isso mostra que estou no caminho certo.”