Como é o dia a dia de quem viaja com menos dinheiro e trablha em troca de casa e alimentação

Amanda Barbosa, do Blog Por Uma Vida mais Rica, tem viajado o mundo através do sistema chamado work exchange, ou seja, uma forma mais econômica de conhecer outros países no qual trabalha-se em troca de casa e alimentação. Mas afinal, como, como funciona esse tipo de trabalho na prática? Foi pensando nisso que ela resolveu contar um pouco de como foi a sua rotina após passar três meses viajando pela Califórnia. Dá uma conferida:

Primeira experiência: fábrica de cider (sidra)

Localizada em Sacramento, capital da Califórnia, a uma hora e meia de São Francisco, eu optei por ter uma experiência diferente em relação às fazendas orgânicas onde vinha voluntariando. Dessa vez, o lugar era uma fábrica de cider (sidra em português), uma bebida feita à base de maçã, que encontrei através de algumas pesquisas pela internet, ou seja, não teve intermédio de nenhum site ou programa especializado em work exchange, como o Helpx ou Workaway.

Casa onde morei em Sacramento

O motivo da escolha dessa fábrica em especial, foi pelo fato de após fazer um work exchange em uma fazenda de cider na Inglaterra no ano passado (saiba mais aqui), eu despertei o interesse em aprofundar mais o meu conhecimento sobre o assunto, pois é uma bebida muito refrescante, e que mesmo possuindo um certo teor alcoólico, é bastante saudável, não contém gluten, ou conservantes e tem funções antioxidantes.

Funcionários da fábrica
Horta nos fundos da casa

A rotina

Durante o período que estava voluntariando, eu fiquei hospedada no quarto de hóspedes da casa do dono da fábrica, e tinha acesso a todas as facilidades, como máquina de lavar roupas e internet. Geralmente, eu acordava às 7h, passeava com a Rita, a cachorra da casa, e por volta de 11h, seguia para a fábrica, onde trabalhava em torno de seis horas por dia. Entre as principais funções, eu ajudava no processo de engarrafar/enlatar a bebida, colocar rótulos, pasteurizar, limpar e encher os barris para que fossem entregues aos pubs, bares e restaurantes.

Máquina de enlatar

Havia também uma edícula nos fundos da casa onde eu morava, e esporadicamente, eu ajudava a mantê-la em ordem, pois meu chefe costumava alugá-la pelo AirBnB, que para quem não conhece, é um site onde você pode alugar casas ou apenas quartos durante longo ou curto período de tempo no mundo inteiro sem burocracia.

As folgas eram geralmente aos finais de semana, porém quando necessário, eu o ajudava mesmo nesses dias, o que não me incomodou nem um pouco já que houveram vários dias na semana que meu chefe me deu folga para me levar para conhecer cidades vizinhas.

Com relação a alimentação, eu tinha acesso à geladeira da casa e à horta nos fundos, onde eu podia me servir de tudo que ali estivesse disponível como tomate, melancia, abóbora, batata, etc.

Balanço

No total, foram dois meses de voluntariado, no qual dois dos meus maiores focos nesse momento era conhecer mais do processo de produção de cider, e fazer uma imersão no idioma inglês. Por isso, escolhi um lugar onde estaria entre pessoas locais durante cem por cento do meu tempo, e posso dizer que estou bastante satisfeita com tudo o que aprendi em relação à bebida e à língua.

Vincent (meu chefe), eu e Rita

Apesar de toda experiência ter sido bastante positiva, um ponto que posso considerar negativo foi o fato do meu chefe não ser uma pessoa muito organizada em relação a horários e tarefas, e que por consequência acabava impactando na minha rotina também. Então, o meu conselho, principalmente para aqueles que gostam de um bom planejamento de viagem, é deixar tudo muito bem pré acordado com a pessoa que está te hospedando, como horas de trabalho, dias de folgas, tarefas a serem exercidas e duração de voluntariado. Melhor pecar pelo excesso do que pela falta dele!

Segunda experiência: fazenda orgânica espiritualista

Após a fabrica de cider, eu resolvi seguir para o sul da Califórnia, para ter uma segunda experiência com work exchange por lá. E foi através do programa Helpx, que eu encontrei uma fazenda orgânica localizada em Valley Center, a mais ou menos uma hora de San Diego. O local me chamou muito atenção por ser uma comunidade espiritualista, com rituais de canto e dança e que segundo eles, a dança é o alimento para Deus.

Rituais de dança

Ao chegar no local, eu fui muito bem recebida com um quarto limpo e um kit de boas vindas contendo frutas, sucos e comidas. Eles eram pessoas muito simples, desapegados de vaidade, usavam roupas modestas e nenhum tipo de enfeite. Não era nenhuma regra que os voluntários seguissem os seus costumes, mas por respeito, solicitava-se que nos vestíssemos com roupas simples como as deles, e caso fosse preciso, havia uma espécie de brechó sem custo onde nos servíamos com as roupas que estavam disponíveis.

Meu quarto na fazenda

O que é

Vivem em torno de cinquenta pessoas na comunidade, entre famílias, solteiros ou pessoas sozinhas, e TODOS trabalham simplesmente para manter a fazenda funcionando. Isso mesmo, que você entendeu, ninguém recebe nenhum tipo de remuneração! O dinheiro feito com os produtos vendidos é mantido em uma conta master, onde é usado para pagar a hipoteca, necessidades de saúde e despesas em geral.

Eles não se intitulam como seguidores de uma religião, porém são fiéis à bíblia e aos ensinamentos de Jesus. As crianças não frequentam escolas regulares, mas estudam na própria fazenda, onde os professores são pessoas da comunidade.

Ao fundo: casa onde eu dormia

A rotina

Todos os dias de manhã e no final da tarde, acontecem as reuniões onde eles dançam e cantam juntos, e ao final, compartilham ensinamentos de livros e da bíblia, expõem experiências pelas quais são gratos ou mesmo desabafam sobre quaisquer coisa que esteja lhes incomodando.

Maçãs para o preparo de suco verde

Após o ritual da manhã, cada um segue com as suas tarefas. No meu caso, eu optei por ajudar a fazer suco verde, onde basicamente era preciso lavar as folhas e frutas, pesar, bater no liquidificador e engarrafar. Eu ajudei também a fazer barrinhas de cereais, tirei leite das cabras e auxiliei no preparo de algumas refeições, como picar cebola, tomate, etc.

Verduras para preparo do suco

A carga horário era em torno de seis horas por dia, e geralmente no final da tarde, antes do jantar, pulávamos no lago para nos refrescar e relaxar, já que o clima era bastante quente.

As folgas eram aos sábados, e eu optei por não sair da fazenda, pois a minha idéia para esse work exchange era viver a experiência completa, já que não ficaria por muito tempo lá.

As refeições eram servidas prontas, ou seja, não havia necessidade dos voluntários cozinharem sua própria comida, e a maioria dos alimentos eram vegetais orgânicos cultivados na fazenda, além de peixes, onde muitas vezes eram eles mesmos que traziam quando iam ao Alaska pescar,  e também frangos orgânicos.

O balanço

Foram dez dias intensos, e uma das grandes lições que tive durante o meu tempo na comunidade, foi a de que é preciso deixar o individualismo de lado e aprender a compartilhar mais. Uma coisa que foi falada em uma das reuniões e me marcou muito, foi que, se temos amigos significa que precisamos de ajuda.

Eles ensinam que nós não somos e não estamos sozinhos, e uma maneira de sermos menos egoístas, é procurar fazer algo pelos outros antes mesmo do que por nós mesmos, pois quando nos doamos mais do que recebemos, acabamos tendo a maior das recompensas, que vem em forma da energia da gratidão!

Cabrinhas
Lago com cachoeira ao fundo

Ficou com alguma dúvida? Não deixe de me escrever, e terei o prazer em responder: porumavidamaisrica@gmail.com

Por Amanda Barbosa, do blog Por Uma Vida Mais Rica

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