Conheça o ‘Museu do Vinho’, em Bento Gonçalves

Por Eduardo Vessoni, do site Viagem em Pauta

No mundo dos vinhos tem todo tipo de colecionador.

Tem aquele que exibe rolhas em vasos de vidro, os que se orgulham de coleções de rótulos e, claro, os que passam a vida guardando garrafas de vinhos que envelhecem sem pressa.

 

Mas em Bento Gonçalves, cidade da Serra Gaúcha que ainda se agarra às tradições da época da chegada dos primeiros imigrantes europeus, tem gente que coleciona história (do Brasil e do mundo).

Rinaldo Dal Pizzol, o velho experiente da viticultura que adora citar capítulos históricos para falar de vinho, também é um colecionador (de história, naturalmente).

wp-image-726698 size-full
O rótulo mais antigo é de 1937, um provável Cabernet Franc produzido pela Cia Vinícola Riograndense[/img]

Mas o maior orgulho é o Velho Capitão, um tinto produzido pela então viticultora Dreher em homenagem a Assis Chateaubriand, gaúcho da área da comunicação que sempre esteve envolvido em assuntos relacionados à viticultura e responsável pela vinda da Möet & Chandon para o Brasil.

O museu abriga também peças como garrafões empalhados da década de 30, duas garrafas raras de Pedro Domecq usadas para o Troféu Carlos I, em 1974, e uma área destinada à exposição de 99 saca-rolhas.

 

Do exterior, o acervo adquirido durante viagens feitas pelo próprio colecionador conta também com um Möet & Chandon Brut Imperial de 1969; um Couvee Speciale da Argélia (1979), além de garrafas da Armênia, China, Japão e (quem diria) da Bolívia.

Mas nem só com garrafas e rótulos se faz a coleção particular dessa empresa que, em 2014, comemorou seus 40 anos de funcionamento.

Do lado de fora, entre gansos, pavões e coelhos, o mundo do vinho se exibe, literalmente, em um terreno de 5 mil m².

 

O projeto “Vinhedo do Mundo”, considerado a 3ª maior coleção privada de uvas do mundo, é um espaço didático e experimental que abriga 401 variedades de uvas provenientes de mais de 30 países dos cinco continentes. Tem Monuka trazida do Afeganistão, Shiraz do Irã e a uva Királyeányka da Romênia.

É tanto apego pela história e tradições locais que as duas enotecas que ficam do lado de fora do pequeno vinhedo internacional funcionam no interior de dois fornos desativados da antiga olaria local, onde garrafas empoeiradas guardam vinhos como um Merlot de 1981 (que “surpreende pela alta qualidade”, segundo o enólogo Dirceu) e um Cabernet Sauvignon de 1995.

 

O local abriga também uma réplica do primeiro vinhedo construído pelos imigrantes que chegaram à região, a partir de 1875.

Embora reservadas apenas para consumo próprio, as garrafas sempre vão parar à mesa quando chega algum forasteiro como o assamblage 2000 feito para a virada do milênio com vinhos das safras de 98 e 99: um encontro intenso de Cabernet Sauvignon e Franc, Merlot e Tannah que, com os anos, ganharam notas de uísque.

Aquelas histórias parecem não ter fim (pelo menos no que depender do Rinaldo Dal Pizzol).

Assim que anuncio o fim da entrevista, enquanto vou guardando o bloco de anotações no bolso, ele solta um sonoro “não” e segue descrevendo cada uma das garrafas do acervo do museu como se ainda faltasse história para contar.