Dispa-se do preconceito: Topless na Espanha

Por: Catraca Livre

A primeira vez que eu  fui a uma praia em que o topless é permitido foi em Málaga, na Espanha. Na praia “La Malagueta” o nudismo não é permitido, apenas o topless, ou seja, homens e mulheres são obrigados a usar os trajes de banho para cobrir as partes intímas, porém cobrir ou não a parte de cima é opcional para ambos os sexos.

Infelizmente a nossa sociedade ainda tem muito preconceito enraizado na nossa cultura, e me incluo, ou melhor, me incluía nessa turma. Viajar para a Europa foi inicialmente chocante. Eu sabia que no Brasil também existem praias de nudismo e topless, mas nunca tinha aderido.

Lembro-me que estávamos recém-chegados na Europa, e resolvemos ir à praia. Eu e o Kito ainda estávamos nos acostumando com tantas mudanças, com a idéia de viver na Europa… Era tudo muito novo e diferente.  Confesso que eu estava muito mais assustada com essa mudança do que ele. Sentamos na areia, e de repente comecei a reparar ao meu redor e não é que a mulherada estava mesmo com os peitos de fora! Que situação mais estranha ou constrangedora. No primeiro momento minha vontade foi de sair correndo…hahaha que bobona. Como a prática do topless não era obrigatória, aos poucos fui me acostumando com a situação e passei a observar que eu era a única pessoa que estava “reparando” nos outros. Estavam todos curtindo o sol, a praia. Haviam casais, idosos, crianças e ninguém estava preocupado com a vida do outro.

Fomos dar um mergulho na praia, foi quando o Kito virou pra mim e disse “Você não vai fazer topless não?”

Minha reação? Fiquei em choque…hehehe

Eu pensava “Ele só pode estar louco”, “Eu ficar praticamente nua na frente dos outros”, “De modo algum, o que os outros vão pensar”… Só sei que ele começou a me zuar com essa história e quando eu percebi ele já tinha arrancado a parte de cima do meu biquíni…

Grudei nele apavorada… foi quando ele me disse: “Aproveita, experimenta! Nós estamos na Europa!” Parece que ele disse as palavras mágicas. Então pensei: “Verdade, ele tem razão!”

Aos poucos uma sensação de liberdade foi tomando conta de mim, uma sensação que nunca havia experimentado. Senti que ali não existia nada de feio ou promiscuo. Percebi que o preconceito estava muito mais na minha cabeça.

Meses depois fomos à Valência, outra cidade litorânea da Espanha na qual a prática do topless também é bem comum. Mas dessa vez foi bem diferente. Já havíamos viajado por diversos países, e se tem uma coisa que eu aprendi por essas andanças é dizer não às diferentes formas de discriminação e preconceito, inclusive ao preconceito com nós mesmos. No início mantive meu biquíni porque eu acho até bem bonitinha aquela marquinha de sol, mas depois não resisti em provar novamente daquela sensação de liberdade, e sem precisar do empurrãozinho de ninguém, lá estava eu no mar e LIVRE!!!!

A maldade está muito mais relacionada com nossa forma preconceituosa de ver a vida, do que com a forma real de viver das pessoas. Não estamos sendo hipócritas, é claro que a gente sabe que existe maldade, promiscuidade e discriminação no mundo inteiro. Mas conhecemos muitas pessoas ao longo da nossa jornada e a maioria delas estava mais preocupada em ser feliz, em fazer amigos. “Respeito” talvez seja a palavra-chave de todo o nosso aprendizado!