Do grupo Barra Funda aos cordões carnavalescos
O Carnaval em São Paulo teve uma significativa transformação cultural em sua centenária trajetória. Em 1914, Dionísio Barbosa reuniu seus familiares e amigos para formar o Grupo Carnavalesco da Barra Funda, posteriormente batizado de Grupo Carnavalesco Camisa Verde.
Filho de escravos e um dos primeiros negros nascidos livres no Brasil, Barbosa era apaixonado pelos ranchos carnavalescos e inconformado com os corsos da alta sociedade paulista – uma folia exclusiva dos ricos e brancos.
Considerado um “Quilombo urbano de resistência cultural”, o grupo desfilava pelas ruas do bairro da Barra Funda e adjacências com camisas verdes e calças brancas.
O Camisa Verde enfrentou sérios problemas de ordem política, pois a cor adotada pelos integralistas da Ação Integralista Brasileira, frente política de oposição ao governo centralista de Getúlio Vargas, também era o verde.
Em meados de 1936, confundidos com simpatizantes da Ação Integralista Brasileira de Plínio Salgado, os foliões do grupo carnavalesco foram perseguidos pela polícia política de Vargas e deixaram de aparecer publicamente, passando a viver na clandestinidade como uma forma de resistência aos anos de luta pela cultura do samba.
O grupo Barra Funda foi o pioneiro nas manifestações carnavalescas que ocorriam na periferia e desencadeou uma série de iniciativas por toda a cidade.
Fio de Ouro, Rosas Negras, Paulistano da Glória, Vae-Vae, Coração de Bronze e Campos Elíseos foram alguns dos cordões fundados em diferentes regiões da cidade com a finalidade de brincar o Carnaval de rua, fortalecendo o Carnaval de São Paulo.
Sem apoio das autoridades, com poucos recursos e marginalizado por uma parte da sociedade, os cordões passam por dificuldades para saírem às ruas e, mesmo assim, os últimos cordões que trocaram o estandarte por pavilhão foram o Camisa Verde e Branco e Vai- Vai.
Texto elaborado por T. Kaçula, Edson de Jesus e Roberto Almeida, coordenadores do “Projeto 100 Anos de Samba Paulista”.