Este fotógrafo inglês passou três semanas morando em uma ocupação em SP; Veja o resultado
Sebastian Palmer dividiu banheiro, cozinha e histórias com as 53 famílias de um prédio ocupado na Rua Martins Fontes
Nos próximos meses, muitos fotógrafos estrangeiros virão ao Brasil registrar atletas mundialmente famosos, estádios pomposos e todo o glamour que a Copa do Mundo promete. Os mais atentos poderão descobrir também as famílias que tiveram de ser desalojadas para que o evento possa acontecer.
A questão da falta de moradia já chegou às lentes do inglês Sebastian Palmer. No ano passado, ele passou três semanas em uma ocupação ilegal na Rua Martins Fontes, no Centro de São Paulo, dividindo espaço, banheiro, cozinha e histórias com as 53 famílias que moravam no prédio na época.
O resultado foi o ensaio fotográfico HOPE (Esperança, em inglês). Confira as fotos e uma entrevista com Sebastian Palmer:
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Como você foi parar na ocupação?
Por engano. Eu estava com a Joana, minha produtora, e tive a ideia de ir ao Treme-Treme, porque li sobre as pessoas que moram lá, traficantes, as prostitutas. Essa era a ideia original, mas foi difícil de ter acesso. Então, por acaso, depois de ter entrado lá, a Joana viu um prédio ocupado e entrou lá. Acabamos indo para lá.
Como você foi recebido pelos moradores da ocupação?
Alguns deles foram realmente amigáveis desde o começo. Mas outros ficaram desconfiados, se perguntando “o que esse estrangeiro com uma câmera grande está fazendo aqui? O que ele quer?”. Levou pelo menos uma semana para eles se acostumarem.
Agora, quando eu volto para o Brasil, falo com todos e eles são bem amigáveis.
Você mostrou o trabalho final a eles? Eles gostaram?
Mostrei. Eles gostaram, mas eu acho que alguns não entenderam. Eles imaginaram que seria mais ou menos como o que a maioria das pessoas acha que fotografias devem ser. Porque minhas fotos não são fazem o tipo clássico. Algumas pessoas não sabiam o que pensar.
Seu trabalho enfatiza a religiosidade das pessoas. Por quê?
Quando comecei o trabalho, não sabia o que eu ia fazer, como ia documentar essas pessoas. Mas quanto mais ficávamos lá mais percebíamos que todo mundo era religioso. Todos tinham histórias ruins, vidas ruins, e mesmo assim achavam que estava tudo ótimo, e que eles deviam trabalhar duro. Alguns deles trabalham sete dias por semana. Havia uma mulher que tinha seis filhos, todos de homens diferentes. Uma das crianças se viciou em crack aos 10 anos, e ela não o viu mais.
Muitas histórias malucas, mas todos estavam felizes. E eu notei que todos tinham algum símbolo religioso em seus quartos. Apenas fez sentido juntar isso.
Seu projeto chama Hope (esperança, em inglês). Qual é a esperança dessas pessoas?
Eles esperam uma vida melhor, ter uma casa própria. A mãe que eu comentei espera ver seu filho. Basicamente uma vida melhor.
O que essa experiência te ensinou sobre o Brasil?
Acho que me mostrou a falta de tolerância com pessoas de classes mais baixas. Os moradores falam que muitas pessoas pensam que eles são ladrões, viciados ou alcoólatras, o que não é verdade. As regras na ocupação dizem que não é permitido entrar lá bêbado ou nada desse tipo. E todos trabalham duro, acordam cedo, são cozinheiros, faxineiros, pedreiros. A sociedade em geral os olha com maus olhos.