“Infelizmente quem compõe no morro não tem direito a gravação”

21/08/2014 01:22

Padeirinho tinha como tema a denúncia social dos morros do RJ
Padeirinho tinha como tema a denúncia social dos morros do RJ

Muitos compositores enfrentam o mesmo problema: são anônimos. Sem a oportunidade de gravarem suas próprias canções, eles não chegam nem a lançar um disco. Dando fama a quem lhes interpretam, vivem uma eterna decepção. Apesar do largo currículo no samba, Oswaldo Vitalino de Oliveira, mais conhecido por Padeirinho da Mangueira, é um exemplo de artista pouco reconhecido.

Autor de sambas-enredo e sambas para blocos, ritmista, expoente do samba sincopado, teve as primeiras letras gravadas por Jamelão. Dentre elas, “Mora no Assunto” (1952) (com Joaquim dos Santos), “Linguagem do Morro” (1961) e “Fofoca no Morro” (1962). A pobreza – que ele e todo povo do morro vivem – dá o tom engajado, de denúncia, para muitas de suas canções.

O cantor paulistano Germano Mathias grava “A Situação do Escurinho” (1957) (com Aldacír Louro), “Linguagem do Morro” (1961), “Colher de Chá” (1963), “Não Diz que É Doutor” (1966) e “Terreiro de Itacuruçá” (1968). Inclusive, Jamelão e Germano são os dois intérpretes que mais gravam composições de Padeirinho.

Frequentador das rodas de samba no Teatro Opinião, com Dalmo Castello, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola e Baianinho, atua no show “O Samba Pede Passagem” ao lado dos compositores mangueirenses Jorge Zagaia e Bide. Com cerca de 300 canções registradas, 70 gravadas por outros artistas, como Nara Leão, Elza Soares, Paulinho da Viola, Leci Brandão, Beth Carvalho e João Nogueira.

Sem conseguir lançar um disco próprio, sendo reconhecido apenas pelo registro de outros artistas, Padeirinho escreve uma letra frustrada a respeito desta situação – que afeta a maioria dos compositores. Em “Decepção de um Autor”, ele diz:



“Desci do morro com meu samba pra cidade
E tive uma grande decepção
No meio da alta sociedade
Desfizeram da minha composição
Infelizmente quem compõe no morro
Não tem direito a gravação
(Sem razão)

Enquanto o compositor do morro
Pede socorro
E não encontra proteção
Existem os que vivem no apogeu
As custas de melodias de autores como eu”