Legado de Lupicínio Rodrigues é relembrado em seu centenário

O artista, que completa 40 anos de morte em agosto, compõe a memória da música brasileira

Lupicínio Rodrigues completaria 100 anos no dia 16 de setembro

O compositor e intérprete Lupicínio Rodrigues celebraria 100 de vida em setembro. Criador do estilo musical “dor-de-cotovelo”, é representante de um dos movimentos regionalistas brasileiros praticamente sozinho.

Embora tenha sido eternizado nas vozes de artistas como Francisco Alves, Elza Soares e Jamelão, Lupi – como era chamado pelos amigos – é o símbolo do samba gaúcho e dos corações partidos.

Nem carioca e muito menos paulista, nasceu e passou a maior parte de sua vida em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Filho de uma família humilde, na qual era mais um entre 21 irmãos, entrou em contato com a música ao sete anos.

Após algumas tentativas de envolve-lo em outras atividades, seu pai o perde para boemia – sua principal fonte de inspiração.

Era neste universo que o poeta poderia vivenciar a noite da forma mais plena, momento em que os sentimentos estão mais à flor da pele e, a partir deles, compõe-se com mais facilidade. A inclinação em traduzir as desilusões amorosas que permeiam o coração de todo boêmio o torna mestre do samba-canção.

Suas composições, que levam o rótulo de dor-de-cotovelo, fazem alusão aos beberrões que, apoiados em seus braços, choram seus amores no balcão do bar. Neste sentido, ele não é o primeiro a explorar o sofrimento. No entanto, Lupi lança um cancioneiro que renova a música romântica brasileira, além de inserir o Sul do Brasil no território do samba.

Começo

A carreira artística de Lupicínio tem início ao vencer um concurso, em 1935, com o samba “Triste História” – escrito em parceria com o cantor Alcides Gonçalves. A dupla continua a compor, fazendo sucesso com “Quem Há De Dizer” (1948), “Cadeira Vazia” (1950) e “Castigo” (1953).

O gaúcho, que alcança reconhecimento nacional e internacional com suas composições, atribui a difusão de sua obra para outras capitais aos marinheiros. Frequentadores dos cabarés de Porto Alegre, eles foram a via para que o samba “Se Acaso Você Chegasse” (1938) chegasse até o Rio de Janeiro, segundo Lupicínio.

Esta canção, gravada por Ciro Monteiro, expõe um pouco mais o seu talento promissor. Contudo, apenas em 1939, quando Lupicínio vai a cidade maravilhosa pela primeira vez, ele conhece o cantor que o lança ao grande público: Francisco Alves.

Meio

A parceria com o Rei da Voz, que gerou críticas positivas para sambas como “Nervos De Aço” (1947) e “Esses Moços” (1948), passa a projetar o nome do compositor. A canção “Vingança“, lançada pela cantora de rádio Linda Batista, em 1951, torna-se seu maior sucesso, batendo recordes de venda.

Sem tocar nenhum instrumento, Lupi utiliza-se da própria voz para marcar de vez um novo formato de canção. Com uma linguagem quase falada, em tom baixo, ele é o pioneiro do que, mais tarde, João Gilberto transformaria na bossa nova.

Com seu estilo firmado, compõe mais de 600 letras, mas apenas cerca de 150 são gravadas. Como compositor, antingindo seu auge entre as décadas de 1930 e 1950, sai de cena com a chega das músicas engajadas e do rock.

Eterno

Por outro lado, o distanciamento da função de compositor o aproxima da narrativa das crônicas. Em 1963, Lupicínio começa a escrever semanalmente para o jornal Última Hora sobre a boemia em Porto Alegre e suas músicas.

Na década de 1970, sua obra volta a memória de João Gilberto – que cumpre o papel de eterniza-lo na história da música brasileira. Neste momento, Lupicínio tem a oportunidade de gravar LP’s e apresentar shows. Em 1974, morre por insuficiência cardíaca.

Pela influência de João, as composições de Lupi não caem no esquecimento ao serem gravadas por nomes como Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Elza Soares e Jamelão. O último, inclusive, dedica dois discos ao compositor.

Curiosidade

Gremista de coração, Lupicínio pôde compor o hino do seu clube de coração em 1953.

Assista ao especial “O Amor deve ser Sagrado”, em homenagem aos 100 anos de Lupicínio, exibido pela TV Brasil: