Médico de 76 anos prepara-se para seu 3.873º salto de paraquedas
Alistar-se no Exército foi o caminho que Luiz Schirmer encontrou para sobreviver. “Eu precisava comer, dormir e me vestir”, lembra. “Foi a minha casa, a minha educação. E onde aprendi todos os meus valores.”
Foi lá também que o jovem de 17 anos, que por anos trabalhou como faxineiro limpando privadas e varrendo o chão, alfabetizou-se. “Tive muitos bons exemplos, que me estimulavam dizendo que eu era inteligente.”
Mergulhou nos livros e 17 anos depois se formou na Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, especializando-se em ginecologia e obstetrícia, profissão que exerce até hoje em Florianópolis.
“No verão, chego a trabalhar 24 horas, atendendo muitos argentinos”, diz. Mas é na baixa temporada que Schirmer se dedica ao que mais gosta: saltar de paraquedas, outra paixão que descobriu no Exército.
Primeiro campeão brasileiro de paraquedismo em 1964, Schirmer foi um dos precursores da modalidade de salto livre. Participou de quatro Mundiais e até hoje disputa campeonatos. “Acabo de completar 3.872 saltos”, contabiliza.
Com o esporte, aprendeu a ser otimista. “Imagina se eu fosse sair do avião a 5.000 metros pensando que o paraquedas não ia abrir?”, pondera. “Viver é ter emoção e, quanto melhor a emoção, melhor é a vida.”
A sensação de saltar, diz ser indescritível. “Você vê o mundo de outra perspectiva. Em queda livre a 200 km por hora, você olha para quem saltou depois e tem uma sensação nítida de que ele está parado, e você, subindo.”
Depois que consegue equilibrar o corpo, Schirmer explica que um simples movimento da mão faz o paraquedista mudar de direção. “E aí você experimenta a sensação de voar e vive momentos de muita alegria.”
E qual ele guarda na memória para sempre? Gamboa (SC), diz, sem titubear. “Saltamos em quatro e demos as mãos. No primeiro giro, o sol terminava de se pôr, uma bola linda, vermelha, incandescente.”
“No segundo giro, a lua cheia nascia, linda, prateada. Olhei para baixo e vi a lagoa, em formato de coração, brilhando. Fiquei arrepiado. Que mais que eu quero de lindo nesta vida, me perguntei.”
“Foi quando o paraquedas abriu e pousei na praia. Lá estava minha esposa [Eliana, também médica e com quem é casado há 47 anos] me esperando, para um abraço e um beijo. Foi uma cena maravilhosa.”