@MeusVelhos espalha poesias no Instagram
Tudo começou com uma senhorinha que se sentou ao lado dele no ônibus e foi contando durante o trajeto um pouco da história da cidade. “Foi uma conversa tão gostosa que ‘roubei’ uma foto dela para guardar de recordação”, lembra o publicitário Bruno Varandas. E, a cada novo idoso que cruzava o seu caminho, vinha um novo retrato.
Apaixonado por ouvir histórias, colecionou 300. “Ficava intrigado com aquelas feições e o que tinha por trás delas”, explica. “Porque vejo cada idoso como se fosse um livro. Cheio de conteúdo interessantíssimo. Mas, se você não for lá conversar, ele vai se perder, porque está prestes a se fechar. E, se fechar, não abre mais, acabou.”
Passou a ser um vício. Chegava ao trabalho já mostrando para os colegas: “Olha os meus velhos!, “Tenho novos velhos!”. Numa conta pessoal no Instragam, publicava os retratos. Até que os amigos instigaram Bruno a fazer algo mais com o material. Com cem poesias escritas, pensou em juntar suas duas paixões: fotografia de idoso e poesias. “Mas, se eu fizesse isso tudo sozinho, ia ficar chato.”
Com a provocação de uma amiga de que as fotografias que ele fazia já eram poesia, veio a ideia: por que não convidá-la, então, a escrever um texto sobre uma foto? Nascia o projeto @MeusVelhos, galeria de retratos e poemas sobre a velhice que virou sucesso no Instragram, tem hoje 5.700 seguidores, a maioria na faixa etária de Bruno, 27 anos, e com colaborações de famosos, como Tiê e Alice Caymmi.
A página do Instagram é colaborativa. Para quem vê poesia nos seus velhos, Bruno envia uma foto “para que a pessoa componha um poema, uma frase, uma crônica, uma carta”. As colaborações de Átila Francucci e Daniel Giffoni são os textos que mais surpreenderam o publicitário, por não relacionar a terceira idade à melancolia. “A tendência são textos tristes, regados em saudades, perdas, dores, lembranças.”
Com @MeusVelhos, Bruno quer provocar os jovens a prestar atenção e a buscar inspiração nos idosos. “Quero quebrar os estereótipos da velhice. As pessoas têm de aprender a ver o idoso como um ser humano comum, só que mais velho.” E tem planos de transformar o projeto em uma exposição ou em um livro. “São meus dois grandes sonhos.”