‘Minha filha diz que quanto mais fico velha, mais eu trabalho’, afirma Mayana Zatz
Na juventude, ela tinha três grandes ambições: estudar genética, numa época em que ninguém sabia bem o que era isso, trabalhar na USP e ter filhos. Hoje, aos 67 anos, a geneticista Mayana Zatz se tornou uma das referências no assunto, é a diretora do Centro de Pesquisas do Genoma Humano e Células-Tronco do Instituto de Biociências da universidade, tem dois filhos e, recentemente, se tornou avó.
Aqueles sonhos se realizaram, e novos planos surgiram. “Segundo minha filha, quanto mais eu fico velha, mais eu trabalho.”
Nos próximos anos, a pesquisadora pretende dar sequência a dois grandes projetos: o 80+, que coleta dados genéticos de pessoas com mais de 80 anos, que visa ajudar os mais novos a viver melhor no futuro, e o de células-tronco, que busca entender melhor as doenças genéticas a partir dessas células. “Sinto falta de atender os pacientes, também quero poder me dedicar mais a isso.”
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Mayana afirma que nada mudou em sua vida profissional depois de completar 60 anos e que em seu dia a dia tem vários exemplos para se inspirar. No projeto 80+, ela tem contato com um banco genético de cerca de 1.500 pessoas da cidade de São Paulo com mais de 80 anos, todas elas saudáveis e independentes.
O estudo é realizado em parceria com a Faculdade de Saúde Pública da USP e o Hospital Israelita Albert Einstein. Enquanto o Centro do Genoma seleciona os octogenários e avalia os dados genéticos do banco, a Faculdade de Saúde Pública compartilha dados de um grupo de pessoas com mais de 60 anos, nem todas saudáveis, que são acompanhados desde 2000 e usados para comparação. O hospital submete quem aceitou participar da pesquisa a ressonâncias magnéticas para avaliar o cérebro dessas pessoas.
Segundo Michel Naslavsky, 26 anos, doutorando de genética que também participa do projeto, a pesquisa é a única no mundo deste porte e feita por um único centro de pesquisas.
Qual a aplicação prática do projeto? A mais imediata é que a equipe recebe famílias com doenças genéticas para avaliação. Quando não se sabe o que causa a doença, o pesquisador precisa fazer buscas por mutações e, para isso, é preciso ter alguma referência. “E qual referência melhor do que uma amostra da população da mesma cidade do paciente e que não teve nenhuma doença desse gênero? Já tivemos alguns resultados a partir disso”, diz ele.
Já a intenção final, de acordo com Mayana, é fazer o sequenciamento dos genomas do grupo do 80+. “Com o estudo do genoma, você encontra alterações que não sabe se patogênicas ou se são alterações que apenas determinam características físicas. O banco dos idosos é importante porque, se eu achar mutação e não souber interpretar, vou ao banco e checo. Se eles têm essa mutação, então não preciso me preocupar com isso, não é nada relevante.”
Neste banco de pessoas com mais de 80 anos que serve de base para a pesquisa há perfis variados: quem foi indicado pelo neto, quem leu sobre o projeto e quis participar e também pessoas famosas em suas áreas, como o jurista Hélio Bicudo, 97 anos, e o escritor Zuenir Ventura, 84 anos.
Todos, para participar, responderam a um questionário e passaram por uma avaliação cognitiva. Depois, foram retiradas amostras de sangue e, quando possível, passaram por ressonâncias cerebrais.
“Genética é uma coisa fascinante e que mantém sua curiosidade ligada o tempo todo. É uma área que está evoluindo, cada questão que você responde hoje faz surgir um monte de outras perguntas, é brincar de quebra-cabeças o tempo todo. Ela me mantém sempre motivada espontaneamente”, afirma Mayana.
Se você conhece alguém com mais de 80 anos que leva uma vida independente e pode fazer parte desse banco de dados genético, pode indicá-lo para participar da pesquisa pelo e-mail [email protected].