Moisés da Rocha: um dos principais difusores do samba
Um exemplo de preservação da cultura afro-brasileira por meio da música
Seu primeiro contato com a rádio foi em busca do sonho de ser cantor. O timbre de sua voz, no entanto, chamou a atenção para além da música que interpretava: foi assim que Moisés da Rocha conseguiu o seu primeiro emprego como locutor.
Nascido em 1942, em Ourinhos, interior do Estado de São Paulo, Moisés começou a cantar no coral da Igreja Metodista com apenas oito anos. No Carnaval, participava do Bloco da Oncinha como ritimista. Foi ali que aprendeu a tocar instrumentos de percussão.
Aos 15 anos, mudou-se com a sua família para capital, no bairro da Barra Funda. Ao longo de sua adolescência, trabalhou como vendedor de bananas, balconista e jogador de futebol. Segundo a famosa frase de Moisés, “foi lá que tudo começou”.
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Embora tenha cursado radiotelegrafia, ele não fez curso de jornalismo e nem de rádio. Tudo o que alcançou como radialista, ao longo dos últimos 44 anos, foi fruto de seu esforço. Entre suas conquistas, Moisés foi pioneiro na rádio FM com um programa totalmente dedicado ao samba.
Chamado “O Samba Pede Passagem”, o programa vai ao ar pela primeira vez em 1978, na rádio Universidade de São Paulo FM. Este nome, homólogo ao título do musical apresentado por Ismael Silva e Aracy de Almeida em 1966, traduzia o caráter do programa.
Assim como Ismael, que popularizou o samba carnavalesco por meio do cantor Francisco Alves, Moisés resgatou a força do gênero. Ambos abriram caminho para muitos artistas e fizeram jus a expressão que compartilham: o samba pede passagem.
A influência de Moisés no samba era tão grande que se tornou programador da primeira emissora exclusivamente dedicada ao gênero no Rio de Janeiro, a rádio Carioca. O posto significava que ele decidiria a programação musical que tocaria lá. Mesmo se o samba fosse carioca, deveria passar nas mãos dele para avaliar a qualidade.
A missão de Moisés com o programa cumpre-se até hoje, 36 anos depois de sua primeira transmissão. Desde o início, além de tocar sambas das Velhas Guardas, “O Samba Pede Passagem” dedica-se a contar a história do gênero e a evidenciar novos talentos.
No fim dos anos 1970, foi a partir da aposta de Moisés que o grupo Fundo de Quintal passou a ficar conhecido fora da capital carioca, ajudando no rescimento do samba e dos sambistas – até então, a maioria que fazia sucesso era vinculada às escolas de samba. Além disso, o locutor foi um dos grandes incentivadores para que os integrantes do grupo seguissem carreira solo.
Zeca Pagodinho, Almir Guineto e Jorge Aragão passam a ser conhecidos pelo grande público paulistano após terem suas músicas tocadas no programa de Moisés.
O Samba Pede Passagem representa um símbolo na luta pela valorização das raízes culturais afro-brasileiras, que atua por meio da música. Divulgando músicos conhecidos ou não, Moisés resgatou, preservou, difundiu e transformou o samba ao longo dos anos.