Nem cadeira de rodas impede costureira de 90 anos de cursar faculdade de moda
Zuleika Saeta diz que seguiu uma intuição. O telejornal anunciando o último dia de inscrição para o Enem fez a costureira aposentada de 87 anos repensar seu sonho: o de estudar moda. Era 9 de julho de 2010.
Sem computador em casa, pediu que uma amiga a ajudasse. Ficha preenchida, precisava se preparar para as provas de novembro. “Cheia de dúvidas em várias matérias”, frequentou um cursinho social.
Passou, inscreveu-se no curso de moda da Universidade Veiga de Almeida, na Tijuca (RJ), e ganhou uma bolsa de estudos. Com aulas diárias e muitos trabalhos, adoeceu e precisou se afastar.
“Primeiro, fiquei com imunidade baixa e tive herpes zóster. Precisei de muito tempo para me recuperar. Depois, passei por uma cirurgia na coluna”, conta. Mas deu a volta por cima e retomou os estudos este ano.
“Comecei a faculdade de bengala e voltei cadeirante”, compara. Mas não desanima. “Nunca é tarde para recomeçar _ qualquer coisa. A gente precisa querer e perseverar. E saber que as coisas não vêm na sua mão.”
Aos 90 anos, cursando o terceiro período, a costureira aposentada diz que a linguagem foi sua maior barreira em sala de aula. “Meus colegas de classe têm a idade dos meus bisnetos.” E também a tecnologia. “Tive de compar um tablet!”.
Perguntada sobre o que acha da moda atual, afirma que “nada é estranho”. “Sempre fui vanguardista”, justifica. Diz que foi extravagante, mas hoje prefere ser discreta, usando túnica e roupas folgadas.
Sem pressa de ter o diploma em mãos, Zuleika quer mesmo compartilhar o aprendizado com a comunidade vizinha, Dona Marta. “Sei que posso ajudar de alguma forma. E é isso que eu vou fazer.”