No palco das ruas, a vida e obra de Piauí da Sanfona
Nas ruas de São Paulo há quase duas décadas, Piauí da Sanfona e a banda Luar do Sertão se apresentam todos os dias a partir das 10h
Na rua que é palco, sanfona, zabumba, pandeiro e triângulo estão prontos para a próxima apresentação do dia. São quase três da tarde na Praça da Sé, em um grande sertão chamado São Paulo. O show começa pontualmente às 16h e os artistas se preparam entre goles de café, prosa cotidiana e o vai e vem do centrão. Ali está Luís Ramalho, o ‘Piauí da Sanfona’, que há exatos 18 anos saiu da pequena cidade de São Raimundo Nonato (PI) para ganhar o mundo. Acompanham o artista os amigos alagoanos Luciano Maximiliano dos Santos e José Lima de Melo, o paraibano José Vicente (Fuleragem) e o pernambucano Dioclécio Mariano Santana, (O Chamego da Zabumba).
Juntos, eles formam a banda Luar do Sertão, quinteto que todos os dias relembra tradicionais baiões e arrasta-pés, exaltando os valores da diversificada cultura nordestina no coração da maior cidade do país.
E ao forró Piauí deve a sua vida. Desde que chegou a São Paulo, em meados dos anos 90, ele aposta nas oportunidades da cidade grande para escrever a própria história.
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De São Raimundo Nonato trouxe na mala um punhado de roupas, a valentia da difícil vida severina e o destino entregue à sorte em uma trajetória que, tempos depois, seria cantada pelas ruas do labirinto concreto paulistano.
Passados os anos, Piauí não ganhou dinheiro nem vendeu milhões de discos. Mas como sanfoneiro conquistou o respeito e admiração das multidões, além das grandes amizades que a vida de artista de rua iria apresentar.
De Gonzaga e Dominguinhos todo sanfoneiro tem um pouco
Com uma sanfona emprestada, o músico reinterpreta grandes nomes de seu universo popular, suas influências pessoais. De Luiz Gonzaga a Dominguinhos, Piauí faz do forró seu sustento e relembra seus tempos de infância, quando tudo começou: “Sempre tive bastante interesse pela música, mesmo diante das dificuldades da vida. Lembro que ainda criança arriscava umas batucadas na latinha de goiabada. Até que um dia conheci a sanfona e, por conta própria, aprendi as primeiras notas. Tocar isso aqui é uma questão de dom” ressalta orgulhoso sentado num banquinho no meio à praça.
Além de sanfoneiro, Piauí também já trabalhou como eletricista, mas confesso, revela sua sina e amor ao forró “Muitas vezes quando estava a caminho do trabalho e ouvia alguém tocando sanfona pela na rua, não pensava duas vezes. Ali, eu parava e de lá não saía mais”.
Entre trocados e merréis
Com a carreira de músico, Piauí vive das módicas contribuições deixadas na caixinha de madeira colocada na praça. Nos dias de fartura, o sanfoneiro afirma que as apresentações já garantiram até 300 reais. Por outro lado, não compensam os poucos trocados que muitas vezes não passam de algumas dezenas de reais.
No bairro do Cambuci, Piauí mora com a mulher e três filhos, em uma simples casa de dois cômodos. Para os próximos passos, o sanfoneiro sonha alto e enxerga na carreira política um caminho melhor para a situação dos artistas de rua. Atualmente, Luís é candidato a deputado estadual pelo PTB (Partido dos Trabalhadores do Brasil) para as eleições que acontecem em outubro deste ano. “Já tomei borrachada, porrada e tentaram me tirar das ruas de tudo quanto é jeito. Mas daqui não saio nunca. Somos trabalhadores, artistas, e não temos porque sofrer perseguição de polícia. Em nome de todos nós, se Deus permitir, vou defender a nossa luta por meio da política e garantir nossos direitos”, exclama.
A banda se apresenta todos os dias, na Praça da Sé, a partir das 10h e segue entre intervalos até as 18h (ou mais)…