O samba urbanizado

Grupo Carnavalesco Barra Funda, em 1915

Em 1914, Dionísio Barbosa, filho de escravos e um dos primeiros negros nascidos livres no Brasil, apaixonado pelos ranchos carnavalescos e inconformado com os corsos da alta sociedade paulista, uma folia exclusiva dos ricos e brancos, reuniu seus familiares e amigos para formar o Grupo Carnavalesco da Barra Funda, posteriormente batizado de Grupo carnavalesco Camisa Verde, que desfilava pelas ruas do bairro da Barra Funda e adjacências com camisas verdes e calças brancas.

O grupo era considerado um quilombo urbano devido às características e costumes de seus integrantes, pois o bairro da Barra Funda era considerado um bairro periférico e a maioria de seus moradores era negra e habitante dos porões dos casarões nas imediações da estrada de ferro da Sorocabana.

O extinto largo da banana, hoje Memorial da América Latina, é considerado o marco zero do samba paulistano por ter sido o ponto de encontro mais importante dos sambistas que ali viviam entre um descarregar de cargas de bananas vindas do interior e uma pernada nas rodas de Tiririca (capoeira paulista), jogada com a nata da malandragem paulistana.

Essa movimentação rítmica e cultural na região do largo da banana foi fundamental para que outras importantes manifestações carnavalescas desabrochassem em toda a cidade. Fio de Ouro, Coração de Bronze, Vae-vae, Rosas Negras, Paulistano da Glória, Campos Elíseos e a mãe de todas as Escolas de samba de São Paulo, a Lavapés, fundada por Madrinha Eunice em 1937.

Com a expansão do samba por toda a cidade, importantes núcleos de resistência foram se formando. A Praça da Sé era um importante ponto de encontro dos engraxates que, entre uma engraxada e outra, armavam uma roda de Tiririca. Outro ponto ficava nas “cinco esquinas” da baixada do Glicério e na antiga prainha onde hoje fica o Vale do Anhangabaú, que posteriormente seria o circuito dos cordões carnavalescos de São Paulo.

Texto elaborado por T. KaçulaEdson de Jesus e Roberto Almeida, coordenadores do “Projeto 100 anos de samba paulista”