Professor de judô há 50 anos diz que é preciso ‘se sentir útil para viver bem’
Contador aposentado, Kokiti Ura, 70 anos, não desliga. É professor de judô há 50 anos em uma academia de Guarulhos, na Grande São Paulo. Foi um dos fundadores do grupo de escoteiros do clube União Cultural e Esportiva Guarulhense, a Uceg. E, desde que se aposentou, há cinco anos, é presidente do mesmo clube.
As aulas de judô começaram aos 19 anos em Pompeia (SP), onde ele nasceu. Aos 22 anos, já em Guarulhos, Ura conta que estava sem ter o que fazer e decidiu entrar numa academia para voltar a treinar. Nunca mais parou. Segue o exemplo de seu mestre, que, aos 88 anos, ainda dá aulas _ apesar de não poder mais praticar com frequência, fica de olho na parte técnica. “O judô é a alegria dele. A pessoa tem que se sentir útil para viver bem. Este é o segredo”, diz Ura.
Algumas coisas mudaram desde a juventude, mas ele afirma que é preciso saber lidar com isso. “Fui encarar na semana passada um aluno com 110 kg e dancei. Tenho 73 kg. Quando você envelhece, diminui de peso, e a geração de hoje é muito grande. Mas me divirto, dou aulas para crianças, jovens e adultos, duas vezes por semana. E em agosto teremos um campeonato e vou acompanhar 13 alunos como técnico.”
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Ura diz que ganhou algumas medalhas quando competia e emenda o papo em sua outra alegria: o escotismo. Há 27 anos, ele faz parte do movimento. Tudo começou com uma conversa entre amigos. O papo era a preocupação de dar educação melhor para os filhos _ ele tem um casal. “Chegamos ao escotismo por causa do peso da palavra, pois hoje em dia a palavra não vale nada. Queríamos resgatar isso. Eu já tive até prejuízo por manter a minha…”
O judoca conta que acampavam em quase todos os fins de semana prolongados, e as crianças aprendiam mais do que eles tinham imaginado: ter disciplina, ajudar e respeitar o próximo, cuidar do meio ambiente.
“Os pais hoje colocam as crianças no movimento para elas aprenderem a lidar com a responsabilidade. É gratificante para nós, após todo o trabalho, até ficar longe da família, ver que a criança vai melhorando o desempenho, passa a ter vontade de ajudar, de participar. Dá muita alegria ver que o sacrifício que fazemos vale a pena.”
O tempo que ele dedicava ao escotismo, porém, sofreu uma diminuição. Muita da atenção de Ura hoje está voltada à gestão da Uceg. “Trabalho 365 dias por ano no clube. Às vezes, fico as 24 horas do dia por lá”, afirma.
Ura conta que, há cinco anos, a Uceg estava “capenga”, e o grupo dos escoteiros estava prestes a abandonar o clube. Foi quando ele decidiu salvar os dois: o clube e o escotismo.
“Nas nossas reuniões com associados, brinco que me divorciei da minha mulher e me casei com o clube. A sorte é que minha mulher compreende que assumi o clube e aceitei o desafio de melhorá-lo. Dizem por aí que sou trouxa, porque me dedico demais. Mas vou cumprir o que prometi e tem também o aprendizado que ganho no dia a dia.”