Relatos que te farão perder o medo de viajar sozinho e com pouco dinheiro

Em parceria com Amanda Barbosa
09/06/2015 11:29 / Atualizado em 06/05/2020 21:50

O seu olhar nunca mais será o mesmo quando conhecer o fascinante mundo do work exchange e um lugar chamado Cornwall, (Cornualha em português) na Inglaterra!

Para quem pensa que a Inglaterra se resume a Londres, Oxford Brighton e arredores, muito provavelmente nunca visitou Cornwall, um condado localizado ao sudoeste do país. Relatarei aqui a maravilhosa experiência de trabalhar como voluntária em fazendas orgânicas nesse lindo lugar, onde pude ter o privilégio de vivenciar e enxergar a minha viagem de uma outra perspectiva.

Hoje existe uma série de programas de work exchange, onde se oferece trabalho em troca de moradia, e na minha opinião, essa foi a viagem mais rica que já fiz dentre outras tantas por aí. Ao invés de cumprir o protocolo de ficar em um hotel, hostel ou alugar um apartamento, é possível, principalmente para aqueles que estão viajando sozinhos, se hospedar no local onde pessoas nativas moram, e conviver com seus costumes, conhecer lugares que eles frequentam, além de ser uma ótima chance de aprender ou treinar um outro idioma.

Tive a oportunidade de morar durante um mês e meio em duas fazendas diferentes. A primeira chamada Keveral Farm, que descobri através do programa WWOOF, foi a primeira delas. O trabalho consistia basicamente em ajudar os agricultores a colher vegetais e separar em maços para serem entregues à restaurantes. Eu morava em uma espécie de celeiro, onde dividia o teto com uma outra voluntária da África do Sul. Alguns outros voluntários moravam em caravans que ficavam estacionadas dentro da própria fazenda, o que é muito comum na Inglaterra, por ser um país bastante seguro.

Na época que fui, em setembro, foi perfeito, pois além da temperatura estar ótima e ainda conseguir aproveitar a praia, já não era mais alta temporada (junho, julho e agosto) então não precisei procurar vaga com tanta antecedência. Mas ainda assim haviam outros voluntários trabalhando, o que foi super legal, pois como tínhamos os finais de semana livres, nos reuníamos em pubs, festivais, visitávamos vilas e cidades vizinhas ou mesmo organizávamos jantares na fazenda.

Além dos moradores por curto período como eu, havia uma casa onde vivia uma comunidade de mais ou menos umas quinze pessoas, e para poder morar lá, primeiramente era necessário ser aceito por todos os demais moradores,  pagar um aluguel pelo quarto ou pela cama e seguir algumas regras pré acordadas, como por exemplo, exercer algum tipo de benfeitoria pela fazenda durante duas horas semanais (cortar a grama, fazer faxina nas áreas comuns, etc).

A segunda fazenda, chamada Haywood Farm, foi uma dica do Tom, um dos agricultores com quem trabalhei na Keveral Farm. Fiquei super animada quando soube que seria aceita lá, pois eu iria ajudar na produção de cider, uma bebida feita de maçã que traduzindo chamamos de sidra, mas que não tem absolutamente nada a ver com a sidra que existe no Brasil. Essa bebida é muito comum entre os britânicos e pode ser gasosa ou normal.

A fazenda era familiar e muito tradicional. O dono havia nascido nela e dificilmente saía para fazer qualquer coisa fora de lá. Tom, o filho do dono, cuidava da produção de cider e da lojinha que ficava dentro da própria fazenda. Ele, muito conhecido na região, organizava encontros todas às quintas-feiras com membros ou não do club cider (amigos do Tom que ajudavam na colheita de maçãs e na produção da bebida em troca de beber à vontade) para uma noite com churrasco, música e risadas.

A melhor parte de tudo isso foi o meu alojamento na Haywood Farm. Morei em uma casa móvel, que podemos chamar de uma caravan chique, com aquecedor, dois quartos, sala, cozinha. A casa ficava entre o bosque e o pomar. Eu simplesmente acordava rodeada de árvores por todos os lados! Era fantástico!

Mas caso fazendas orgânicas não sejam a sua “praia”, é possível optar por trabalhar em hostels, casas de família, ser guia turístico, ou até mesmo trabalhar em veleiros! Veja abaixo algumas dicas de sites de work exchange:

http://www.helpx.net/index.asp;
http://www.workaway.info/;
https://www.worldpackers.com/

Cornwall tem uma curiosidade muito legal. Existem trilhas de pedestres que rodeiam toda a sua costa. Ou seja, é possível dar a volta por todo o condado simplesmente andando. Não faço a menor idéia de quantos meses isso duraria, mas garanto que é uma vista mais linda do que a outra. Alguns lugares que visitei e mais gostei:

Polperro – vilinha muito charmosa próxima a Looe, onde é possível ficar horas sentado em um dos mirantes observando a maré subir e descer.

The Hurlers – o Reino Unido é conhecido por misteriosos círculos de pedras construídos no período Neolítico espalhados por diversos lugares, e esse é um deles.

Cheesewring –  fantástica formação geológica natural de pedras. O lugar é um campo aberto, onde é possível apreciar o pôr do sol sentado em um dos “queijos”. Por ser mais alto, acaba sendo um pouco mais frio também. Fica bem próximo ao The Hurlers.

Lantic Bay – essa é uma das praias mais bonitas que fui em Cornwall, pois é possível vê-la de cima de um precipício. Para acessá-la é preciso descer uma trilha, que demora em torno de quinze a vinte minutos. Vale a pena!

Golitha Falls – Uma reserva natural com cachoeiras.

Capela em Rame Head. A foto já diz tudo sobre o lugar! O  visual é de cair o queixo.

Port Isaac – lindos mirantes e propício ao mergulho, caso a água fria não seja o problema.

Polzeath – essa é a praia mais famosa dos surfistas. Lá é possível alugar pranchas acessórios para surfar.

St Ives – um dos lugares mais conhecidos em Cornwall. Vale a pena passar um fim de semana nesse lugar. As praias são muito bonitas e há diversos restaurantes e pubs.

O acesso a alguns desses locais é um pouco difícil, sendo mais fácil de carro, o que não foi muito problema para mim, já que estava com pessoas locais que possuíam carro ou que me ajudavam com caronas, etc.

E não acaba por aí. Tive a oportunidade de assistir a apresentação de uma banda local chamada Wurlitza. Seu grande diferencial é dar vida aos filmes mudos, criando trilhas sonoras ao vivo para eles. É impossível de se explicar, apenas assistindo para entender tamanho talento desses artistas!

Tudo em Cornwall é muito mais barato  se comparado à Londres. Durante a semana eu não tinha gasto nenhum já que não pagava por hospedagem e alimentação. Aos finais de semana gastava uma média de 20 a 50 libras entre transporte, alimentação, pubs etc, tudo depende do programa a ser feito. Nenhum desses locais mencionados acima são cobrados entrada, com exceção da apresentação da banda Wurlitza.

Citação:

“Reserve um certo número de dias, durante os quais você deve se contentar com os suprimentos mais ínfimos e mais baratos, com a roupa mais simples e mais velha, perguntando-se a si mesmo: Eram essas as condições que eu temia?”

SÊNECA


 Amanda Barbosa – amante das coisas da vida

Blog: Por Uma Vida mais Rica