Samba como resistência contra a ditadura militar brasileira
Em 2014, completa-se 50 anos desde que o golpe militar derrubou o presidente João Goulart do poder. Diante da ditadura instaurada no Brasil, a arte passou a assumir papel político em diversas oportunidades. A favor do ufanismo ou contra a represália, o samba não estava excluído disto.
Driblando a censura, o período de 1964-1985 foi enfrentado também pelos sambistas. A bonita cadência do samba tornava-se mais uma voz da resistência às atrocidades cometidas pelo país. Salgueiro, Império Serrano e Unidos de Vila Isabel foram três escolas que não deixaram-se intimidar, cantando em protesto contra o regime – mesmo que implicitamente.
Com o enredo “A História da Liberdade no Brasil“, o Salgueiro desfilou em 1967 exaltando as lutas populares – uma sutil referência sobre o momento vivido pelo Brasil. Todos os seus ensaios foram monitorados pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), que liberou o desfile na Sapucaí.
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No Carnaval de 1969, o primeiro depois do AI-5, os compositores Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e Manuel Ferreira, do Império Serrano, foram obrigados pelo governo a mudar um verso do samba-enredo “Heróis da Liberdade“. Baseada na Inconfidência Mineira, na Independência e na Abolição, a letra fazia analogia à luta pela liberdade na ditadura:
“Ao longe soldados e tambores/Alunos e professores/Acompanhados de clarim/Cantavam assim/Já raiou a liberdade/A liberdade já raiou/Essa brisa que a juventude afaga/Essa chama/ Que o ódio não apaga pelo universo/É a revolução em sua legítima razão”. Considerada subversiva, a frase foi reescrita. “É a evolução em sua legítima razão”.
Ainda em pleno regime militar, a Unidos de Vila Isabel levou para avenida o samba-enredo “Sonho de um sonho“, em 1980. Inspirada na poesia de Drummond de Andrade e assinada por Martinho da Vila, a composição clamava pela liberdade sem disfarces. “Um sorriso sem fúria entre o réu e o juiz/A clemência e a ternura por amor da clausura/A prisão sem tortura, inocência feliz/Ai meu Deus/Falso sonho que eu sonhava”.
O verso “a prisão sem tortura” é considerada uma das mais ousadas manifestações contra o governo. Porém, o espírito progressista durou pouco tempo. Três anos depois, a escola de samba passou a ser presidida pelo Capitão Guimarães, militar acusado de ter participado de procedimentos de torturas contra presos políticos.