Sauna na Alemanha, saiba como encarar o choque cultural

21/03/2015 20:59 / Atualizado em 06/05/2020 19:47

Vamos logo ao ponto sem rodeios. Quem já foi em alguma sauna na Alemanha, seja ela em hotel, piscinas públicas, termas, academias de ginástica ou spas não pôde deixar de notar que todo mundo fica lá, relaxando como veio ao mundo. Isso mesmo, peladões, homens e mulheres sem problema algum. Gordos, magros, depilados, peludinhos, seios grandes, pequenos, malhados, sedentários, velhinhas, mocinhas e crianças.

 
 

E antes que você esboce aquele sorrisinho maroto no canto da boca, é bom saber que não tem absolutamente nenhuma conotação sexual. Conheci colegas nativas que são totalmente contras à cultura do corpo livre (FKK, em alemão), não gostam de frequentar lagos ou praias nudistas e ainda assim livram-se dos biquínis na sauna. O argumento é a higiene.

Afinal, temperaturas altas aliadas ao tecido das roupas de banho significa fungos. Ameacei contar que uso, sim!, maiôs em sauna, quando estou no Brasil, e recebi olhares, não reprovadores, mas um pouco enojados. Um estranhamento semelhante ao nosso quando vemos um alemão manusear, com a mesma mão, dinheiro e comida na barraquinha de salsicha.

É claro que você pode manter suas vestimentas, ninguém olhará feio, mas saberá que você é um estrangeiro meio esquisitão. Tipo aqueles gringos que usam sandália com meia na praia. Confesso que nunca consegui ir com um brasileiro (com exceção do meu marido) ou amigos alemães. Mas sempre recomendo aos amigos de visita. Aliás, já levei até primos. Eles entravam e eu saia. Sabe aquela coisa, em Roma como os romanos? É uma experiência interessante para presenciar. Assim, seguem algumas diquinhas para convencer quem está na dúvida.

Dispa-se

Siga o fluxo, finja que está achando tudo bem normal e arranque a roupa sem hesitar. Juro que ninguém olhará estranho para você e com o tempo a gente até se acostuma. Se alguém puxar papo, lá peladão durante o processo, reaja com naturalidade. Já troquei ideia com uma velhinha artista e até um professor universitário da Bauhaus. É realmente uma situação normal para eles. Repare o processo e faça o mesmo sem constrangimentos.

Leve um roupão e uma toalha especial para sauna

 
 

Há uma toalha maior, retangular e bem comprida, típica para a ocasião. Assim podemos nos sentar, esticar o tecido até o degrau debaixo e apoiar os pés ainda no chão protegido pela toalha. Ao sair da sauna, não precisa ficar exibindo o lepo lepo. Nas área destinadas ao descanso costuma-se usar roupão. Embora eu já tenha visto senhores totalmente nus sentados no bar de uma sauna, no bairro de Prenzlauerberg, em Berlim, sem constrangimento algum. Talvez fosse efeito da cerveja, sei lá. Caso você não tenha nenhum dos apetrechos, na maioria das vezes dá para alugar direto no local.

Pule na água gelada

 
 

Em geral, uma sessão completa dura quinze minutos. Dentro da sauna, há diversas ampulhetas para marcar o tempo. Vire uma e espere o calor tostar suas ideias. Ao sair esbaforido, não hesite em puxar a cordinha que despeja um balde de água gigante na sua cabeça. Depois, entre na piscininha de águas geladíssima. Pode até dar uma sensação de câimbra, mas é coisa rápida. Sentimos o coração acelerar, o mundo a nosso volta girar e somos domados por uma vontade inexplicável de deitar. É como estar sob o efeito de drogas, mas de modo saudável. Se estiver nevando, saia, circule um pouco pelo gelo. Depois, deite nas cadeiras de balanço, feche os olhos e aproveite o barato.

 Não perca o “Aufguss”

Não sei qual é o termo em português, mas olhe a agenda da sauna pelo Aufguss. Nas mais estruturadas costuma ser de hora em hora. Um funcionário da casa entra, abre a porta e gira uma toalha para trocar o ar viciado de dentro com o fresco de fora. Geralmente eles trazem um balde com água aromatizada (melissa, hortelã, florais), pegam uma concha do líquido e despejam sobre as pedras quentes. A fumaça aromática sobe. Toca a girar novamente a toalha, agora com a porta fechada para aumentar ainda mais o calor. E então vai dando toalhadas no ar, na direção de cada um, para que todos sintam a baforada nos rostos. O processo se repete por três vezes. Em algumas casas, há uma bandeja com frutas durante ou depois do processo para que as pessoas se hidratem. No fim, todos saem vermelhos, suados e esbaforidos rumo ao balde de gelo.

 Escalde os pés

 
 

Depois dos quinze minutos de suor, resfriamento pela neve ou piscina fria, costuma-se escaldar os pés com água quente. São pequenas pias em um tablado. É só enche-la e colocar os dedos lá para descongelarem. Dependendo do local, há até tendas com fogueiras para esticar as pernas e reaquecer.

 Muitas termas têm a seção de saunas à parte. Algumas são até equipadas com uma Sauna-Dorf, ou a vila das saunas. Um gramado enorme, com diversas modalidades –seca, úmida, finlandesa, diversas temperaturas e aromas. Casinhas de madeira com grama no telhado, como na Escandinávia, piscinas frias ao ar livre, tochas para iluminar quando escurece e tendas com lareiras para esquentar os pés, enquanto degusta-se um chá ou vinhozinho. O estar pelado durante aqueles quinze minutos se torna só um detalhe.

 Obs.: Há horários (mesmo que limitados) só para mulheres.