Sobre chegadas, engarrafamentos, impressões e ferry boats

30/06/2016 17:09

Mesquita Azul
Mesquita Azul

Que Istambul é uma das cidades com o trânsito mais caótico do mundo, não era nenhuma novidade para nós. Estávamos em quatro pessoas, Luis, minha mãe, meu pai e eu, espremidos em um táxi que fazia o caminho do aeroporto internacional Sabiha Gökçen, localizado na Ásia, em direção ao nosso hotel no bairro de Sultanahmet, já no lado europeu da cidade. Entre nós havia 42 Km de engarrafamento, um Bósforo a cruzar e em seguida, algumas ladeiras também provavelmente engarrafadas antes de descansamos nossos pés depois de um longo dia de viagem.

Chegávamos de Israel. Acordamos em Tel Aviv bem de madrugada para chegarmos com folga ao aeroporto e pegarmos o voo que nos levaria à Istambul. Tudo correu como o planejado e no meio da tarde já nos encontrávamos em solo turco. Pegamos um táxi, lotando o bagageiro com nossas malas – cheias de comprinhas feitas nos exóticos mercados do oriente médio – enquanto uma leve garoa que escorria no vidro do carro nos dava as boas-vindas. Logo, em menos de 10 minutos estávamos parados, provavelmente, num dos maiores engarrafamentos do mundo.

Engarrafamentos não são nada legais, nem mesmo dignos de serem contados em um post, mas acredito que compartilhar algo dessa experiência, fatos tão simples e rotineiros para quem viaja, como por exemplo, o caminho do aeroporto ao hotel, a primeira impressão ao descer em uma nova e desconhecida cidade, ver suas expectativas aumentarem ou serem frustradas, expressar algo que na nossa mente mais se parece com um jogo entre a sorte e a ansiedade e pôr em palavras os simples detalhes que desapareceriam da memória é bastante enriquecedor para quem lê e quem escreve. Todos que viajam passam por isso, um frio na barriga ao saírem do aeroporto, ver toda a programação montada há meses se embaralhar em um novo milhão de possibilidades e informações que um novo destino apresenta.

A chuva e o engarrafamento lutavam contra meus planos na cidade de Istambul. Passamos mais de três horas presos no engarrafamento. O taxista nos disse que atravessaríamos o Bósforo por balsa e não pela famosa ponte que unia a Ásia à Europa, pois a ligação por ela estava totalmente parada. Meus planos de ver o Bósforo do alto da enorme estrutura se dissolveu rapidamente, fiquei bastante desapontado, pois antes, cheguei a imaginar as fantásticas fotos que faria lá de cima. Mas tudo bem, eu poderia cruzar a ponte outro dia.

Depois do longo engarrafamento, chegamos à estação de ferry boat que nos levaria até o lado europeu da cidade. Enfrentávamos mais uma longa fila de carros que esperavam o próximo barco, que deixaria o porto carregado de passageiros e despejaria a multidão na outra estação do lado do rio. Minha mãe estava com bastante dor de cabeça – não havíamos comido direito desde cedo, em Israel – e ela nos pediu para que comprássemos um café no restaurante de estação. Ao sair do carro notei que a chuva já havia passado, o céu clareava lentamente e logo ao sair do restaurante, o céu já estava claro, como se a cor cinza de antes nunca houvesse existido.

Entramos novamente no carro e esperamos nossa vez no ferry boat. O barco havia chegado e nosso táxi se espremeu ao lado de outros muitos carros no amplo convés. Descemos todos do automóvel para aproveitarmos um pouco da vista, pois, se o Bósforo não seria visto de cima da ponte, ao menos por baixo dela, algumas boas fotos seriam feitas.

Sem que percebêssemos, o clima de fim de tarde abraçou o céu, transformando o tom de azul no inconfundível dourado do lusco-fusco. Todo o desânimo de antes, quando chegarmos no aeroporto, já havia desaparecido, até minha mãe já havia melhorado.

Silhueta de Istambul
Silhueta de Istambul

A silhueta dos infinitos minaretes contra o sol se elevavam dentre os prédios da cidade e pareciam querer, propositalmente, perfurar o céu. Fomos envolvidos por uma cidade vibrante que parecia crescer babelicamente ao longo das colinas que formavam as duas margens do rio prateado.

Simples momentos como esses me surpreendem. Nada como a primeira impressão, a segunda ou a terceira impressão de um novo lugar.

Torre Galata e o bairro Taksim
Torre Galata e o bairro Taksim
Torre Galata
Torre Galata

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