Viradouro seleciona enredo e samba de forma inédita para o Carnaval 2015

21/10/2014 22:04 / Atualizado em 07/05/2020 10:25

A escolha do samba-enredo da Unidos do Viradouro representa um sacrifício para escola e uma inovação para o mundo do Carnaval. A vermelho e branco abriu mão da disputa de sambas, que geram renda para escola, para apostar na união de dois sambas de Luiz Carlos da Vila.

A Viradouro foi campeã do Grupo A no Carnaval de 2014, colocação que a transferiu para o Grupo Especial – a elite carnavalesca. Pelo regulamento da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), a agremiação que se eleva a este posto deve abrir os desfiles.

Desta forma, com o intuito de preservar a conquista e ousar na abertura, o presidente Gusttavo Clarão sugeriu fundir os sambas “Nas Veias do Brasil” e “Por um Dia de Graça” para criar o samba-enredo de 2015. A adaptação foi aprovada e ecoará na Sapucaí nas vozes de Gusttavo e Zé Paulo Sierra.

A decisão de não realizar a disputa de sambas para eleger o hino significa também não arrecadar dinheiro para escola. No entanto, a ideia inovadora leva o samba-enredo para outro patamar. Pela primeira vez, a sinopse – texto que explica o enredo – foi construída somente após o samba ficar pronto.

Mesmo assim, os compositores da Viradouro ainda participaram da folia. A escola realizou um concurso de sambas cujo tema é a África. Com um enredo que narra a trajetória do negro no Brasil, os sambas classificados para final participaram da gravação de um CD para divulgação das obras e seus letristas e intérpretes concorreram a prêmios em dinheiro.

Veja as letras dos sambas de Luiz Carlos da Vila e o resultado do samba-enredo:

Luiz Carlos da Vila

Os negros
Trazidos lá do além-mar
Vieram para espalhar
Suas coisas transcendentais
Respeito
Ao céu, a terra e ao mar
Ao índio veio juntar
O amor, à liberdade
A força de um baobá
Tanta luz no pensar
Veio de lá
A criatividade

Tantos o preto velho já curou
E a mãe preta amamentou
Tem alma negra o povo
Os sonhos tirados do fogão
A magia da canção
O carnaval é fogo
O samba corre
Nas veias dessa pátria – mãe gentil
É preciso altitude
De assumir a negritude
Pra ser muito mais Brasil.

Luiz Carlos da Vila

Um dia, meus olhos ainda hão de ver
Na luz do olhar do amanhecer
Sorrir o dia de graça
Poesias, brindando essa manhã feliz
Do mal cortado na raiz
Do jeito que o mestre sonhava

O não chorar
E o não sofrer se alastrando
No céu da vida, o amor brilhando
A paz reinando em santa paz

Em cada palma de mão, cada palmo de chão
Semente de felicidade
O fim de toda a opressão, o cantar com emoção
Raiou a liberdade

Chegou o áureo tempo de justiça
Ao esplendor, do preservar a natureza
Respeito a todos os artistas
A porta aberta ao irmão
De qualquer chão, de qualquer raça
O povo todo em louvação
Por esse dia de graça

Samba-enredo

Adaptação de Gusttavo Clarão

Os negros
Trazidos lá do além-mar
Vieram para espalhar
Suas coisas transcendentais
Respeito
Ao céu, a terra e ao mar
Ao índio veio juntar
O amor, à liberdade

A força de um baobá
Tanta luz no pensar
Veio de lá
A criatividade

Em cada palma de mão, cada palmo de chão
Semente de felicidade
O fim de toda a opressão, o cantar com emoção
Raiou a liberdade
Tantos o preto velho já curou
E a mãe preta amamentou
Tem alma negra o povo
Os sonhos tirados do fogão
A magia da canção
O carnaval é fogo

O samba corre
Nas veias dessa pátria – mãe gentil
É preciso altitude
De assumir a negritude
Pra ser muito mais Brasil

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