Wwoof, a experiência mais incrível da nossa volta ao mundo

Se você é um viajante roots, que anda de chinelo, mochila nas costas, é fã de hostels e adora comer na rua, aproveita que esse post é para você. Mas se você é daqueles que adora se hospedar em um hotel bacana, leva consigo uma mala de 30kg e um chapéu Panamá a tiracolo, esse post é para você também. Não que se hospedar numa fazenda orgânica seja algo cheio de luxo ou glamour, mas como a gente acredita (a gente aqui e esperamos que você também) que viajar é experimentar coisas novas, se dar a oportunidade de mergulhar no diferente, quem sabe um dia você não decide inovar? Esperamos que sim!
Então querem saber de onde surgiu essa ideia, como foi que conseguimos entrar em contato com uma fazenda orgânica, porque escolhemos a China, como foi nossa experiência, perguntas frequentes etc etc etc? Let´s go!
Wwoof o queeeee?
A ideia de trocarmos trabalho por hospedagem e alimentação surgiu basicamente da nossa vontade em nos misturarmos com os chineses. Lemos muita coisa sobre eles antes de chegarmos lá e estávamos cientes que teríamos dificuldades em conhecê-los de verdade se ficássemos hospedados em algum hotel ou albergue. A grande maioria da população não fala inglês e os que falam, certamente não iriam puxar assunto conosco do nada. E na boa, poder estar 30 dias no país mais populoso do mundo e não conseguir se conectar com essa gente toda seria frustrante, não?
Foi então que numa reportagem antiga da revista “Vida Simples” descobrimos o Wwoof . Nunca ouviu falar? Fica tranquilo porque o Wwoof também era desconhecido para a gente até pouco antes da viagem começar!
Wwoof “World Wide Opportunities on Organic Farms”, que numa tradução tosca algo como oportunidades pelo mundo em fazendas orgânicas. OK, mas oportunidades pelo mundo é uma coisa muito genérica, não? Sim, vamos esmiuçar ainda mais então! O WwoofF nada mais é que um programa de intercâmbio cultural, onde pessoas do mundo todo se conectam e trabalham em fazendas orgânicas, em troca de alimentação e hospedagem. Simples assim!
O Wwoof teve início em Londres, na década de 70, quando uma senhorinha simpática chamada Sue Coppard começou a sentir saudades da época em que colhia frutos silvestres na fazenda da família. A vida corrida havia afastado-a daquela simplicidade, mas depois de um final de semana com amigos retirando ervas daninhas como voluntária numa fazenda orgânica, ela percebeu que aquele era o caminho. A experiência se espalhou, virou matéria na imprensa, ganhou dimensões inesperadas e a Sue percebeu que o desejo de estar mais conectada a natureza não era exclusivo dela. E assim nasceu o Wwoof! Hoje em dia são mais de 400 fazendas cadastradas em 51 diferentes países, incluindo o Brasil! Vivaaaaa!
Curtiu a ideia? Quer participar? O primeiro passo é acessar o site mundial do http://www.wwoof.net. Depois de dar uma circulada básica por lá, clica no link “HOW IT WORKS” e encontre ali todos os países associados. Cada um dos 51 diferentes países tem sites independentes e por isso você deverá escolher nesse momento em qual deles se cadastrar. Se você pretende curtir suas férias em Roma, por exemplo, você deverá acessar o site do Wwoof Italy. O Wwoof é estruturado em níveis nacionais, não existe um cadastro mundial único, ok? Caso você queira ser um “WwooFer” em mais de um país, deverá ser cadastrar individualmente em cada um dos sites. Como nós queríamos encontrar uma fazenda orgânica na China, clicamos e nos cadastramos no Wwoof China.
Vale dizer aqui que esse cadastro é pago e que esse valor varia muito de país a país. Segundo o site do próprio Wwoof, o valor da anuidade pode variar entre US$ 0 e US$ 72. Você consegue confirmar essa informação no site do Wwoof de cada país antes mesmo de realizar o cadastro, mas só para vocês terem uma ideia, na África do Sul é cobrado US$ 25, no Brasil US$ 38 e na China US$ 40.
Cadastro no país escolhido e pagamento feito, chegou a hora de avaliar o perfil das fazendas associadas e selecionar algumas para entrar em contato. Como o desejo deve ser mútuo (você em ir e a fazenda em te receber), recomendo que você entre em contato com duas ou três fazendas simultaneamente. Assim se você receber um não de uma delas (vai que ela já está com “WwooFers” agendados para as mesmas datas?), já tem outra engatilhada. E como rola essa escolha? Baseada única e exclusivamente no que você procura e no que você espera. Exemplo? Eu sou vegetariana há mais de 15 anos e Nunca ficaria hospedada numa fazenda que cria ou abate animais. Por isso entramos em contato com fazenda que apenas cultivavam legumes e vegetais. Nada de curral, chiqueiro, galinheiro etc. O tempo de permanência deve ser decidido e acordado entre você e o proprietário da fazenda. Não existe um período padrão. Podem ser poucos dias ou alguns meses, tudo depende do que ambos (você e a fazenda) desejam.
Alguma dúvida sobre o Wwoof? Posso mudar de assunto agora? Vamos falar sobre porque decidimos trabalhar numa fazenda orgânica no país mais poluidor no mundo?
China? Não tinha melhor lugar, não?
Para tudo o que você está fazendo agora então e dê o seguinte Google: “poluição China”. Já antecipo que o resultado vai ser desanimador. Muito desanimador. A China é a segunda maior economia do mundo e a energia que a move virou caso de saúde pública. Oitenta por cento de toda a matriz energética do país vem do carvão mineral e, há pelo menos três décadas, vem turbinando o crescimento chinês à custa de muita, muita fumaça.
Para piorar uma situação que já é ruim, a cada mês são licenciados e emplacados mais 1 milhão de veículos novos (fiquei chocada com essa informação…). É óbvio que o resultado desse crescimento alucinado não poderia ser diferente: engarrafamentos que crescem a cada dia e o agravamento da poluição do ar (a frota de carros chinesa consome 80 milhões de toneladas de gasolina por ano e 180 milhões de toneladas de óleo diesel).
Nós estivemos lá e comprovamos tudo isso na prática. A fumaça do carvão somada a fumaça dos automóveis resulta em um ar difícil de respirar. O ar de todo o país, mas especialmente de Pequim é pesado, denso e o seu organismo não poderia responder de outra maneira: nariz entupido, olhos lacrimejantes e garganta irritada. Ficamos tão estressados com todo esse incômodo que nos esquecemos de fotografar a fumaça branca que abraçou Pequim todos os dias que estivemos na cidade. Mas só para ilustrar, dá uma olhada na foto abaixo. Feita em São Paulo, da sacada do nosso apartamento. Faz frio e uma névoa densa e baixa cobriu a cidade no meio da tarde. A qualidade do ar de São Paulo definitivamente não é exemplo de nada, mas nós somos capazes de distinguir poluição de neblina, certo? Em Pequim eles não têm dúvidas: a névoa densa e baixa que envolve a cidade é mesmo poluição…
E foi aí que surgiu a vontade de conhecer mais de perto pessoas que convivem no meio desse caos, mas que estão dispostas a viver um estilo de vida diferente. Que trabalham produzindo alimentos sadios, limpos, cultivados sem fertilizantes e pesticidas. Que são completamente adeptos aos princípios da agricultura sustentável. Conservando o meio ambiente, mas ao mesmo tempo desenvolvendo e mantendo uma cultura agrícola próspera. Num país onde até crianças estão sendo diagnosticas com câncer de pulmão por causa da poluição? Geeenteee, era para lá que tínhamos que ir!
Bem vindos à Fazenda Runtian!
Chegamos meio cabreiros, desconfiados. Ficamos seis dias perambulando em Pequim antes de partirmos para fazenda num domingo de muito calor. Domingo normalmente é dia de folga de quem trabalha e nós achávamos que não encontraríamos nenhum dos funcionários por lá. Ledo engano. Apesar de não trabalharem nesse dia, são poucos os que voltam para suas casas aos domingos. A família da maioria deles mora longe dali e acaba sendo mais fácil para eles ficarem assistindo TV, lendo, conversando ou ainda dando risada dos gringos que se aventuram longe da cidade grande do que ir para casa. Sim, porque para eles é quase inexplicável que pessoas que teoricamente poderiam estar em qualquer outro lugar do mundo escolhessem estar lá. Separando quiabos, lavando cenouras, pesando caixas, carregando o caminhão, fazendo entregas…
E eles tinham tanta curiosidade sobre a gente quanto nós tínhamos em relação a eles. Mostramos fotos das nossas famílias e eles ficaram impressionados com o tamanho dos nossos olhos e com as nossas cores de pele. Montamos uma pequena apresentação sobre o Brasil, que eles não só fotografaram e filmaram como nos encheram de perguntas sobre tudo o que viam. Acharam o Rio de Janeiro maravilhoso, São Paulo incrível e a Amazônia exuberante. Tivemos que descrever com detalhes o sabor da feijoada e quando explicamos como funcionava uma churrascaria, eles sorriram para a ideia de ter a disposição quantos tipos de carne fossem possíveis. Para tentar transformar a experiência mais real possível, corremos até o mercadinho mais próximo atrás de feijão preto, linguiça e costelinha. A feijoada fajuta não ficou lá grandes coisas, mas pela quantidade de vezes que eles repetiram, devem tê-la achado a melhor comida do mundo.
O trabalho não era dos mais difíceis ou exigentes. Acordávamos cedo e encontrávamos as bancadas já cheias de legumes e verduras que haviam sido colhidas ainda de madrugada. Separávamos os bons dos ruins, lavávamos os que estavam sujos de terra, ajudávamos a cozinheira separar o que seria usado para o nosso próprio almoço. Alguns dias a trilha sonora era chinesa, outros brasileira. Eles não gostaram do Tom Jobim, mas tentaram dançar Ivete Sangalo. Como o Wwoof pede que os “Wwoofers” trabalhem de quatro a seis horas por dia, tínhamos nossas tardes praticamente livres, que no final das contas eram gastas em alguma outra atividade voluntária na própria fazenda (ajudando a preparar o jantar, por exemplo). Tudo muito tranquilo, à vontade. Perdemos as contas de quantas vezes ouvimos “se quiserem parar agora, fiquem a vontade”. Mas o fato é que você acaba se envolvendo com tudo, com todas as coisas novas que está aprendendo ou vendo pela primeira vez e que não quer parar para descansar tão cedo!
Ainda hoje o pessoal da Fazenda Runtian nos escreve para contar as novidades! Falam sobre uma praga que acabou com o cultivo de vagem, sobre a plantação de morango iniciada no inverno ou sobre a reforma feita no galpão de trabalho. Ah, falam ainda que sempre se lembram da gente com muito carinho e que esperam que nós nunca nos esqueçamos deles! Como se isso fosse possível… :)
Perguntas frequentes: acabando de uma vez com as suas dúvidas sobre o Wwoof!
1) O meu transporte até a fazenda, seja ele feito de ônibus, metrô, trem, avião, barco ou teletransportador também são custeadas pelo Wwoof ou pelo proprietário da fazenda?
Não. Lembre-se amigo, você vai trabalhar e receber em troca alimentação e hospedagem. Nem o Wwoof, nem a fazenda, nem ninguém além de você mesmo será responsável pela sua chegada e partida da fazenda. Se quiser economizar e não gastar tanto com traslado, tente evitar fazendas em lugares muito remotos, acessíveis só de táxi, por exemplo. Numa troca simples de e-mails entre você e o proprietário da fazenda dá para confirmar essa informação.
2) A fazenda ou o próprio Wwoof me pagarão um salário ou me darão alguma ajuda de custo durante o tempo em que eu estiver lá?
Mais uma vez não. A conta é simples: você trabalha entre quatro e seis horas por dia no período de tempo acordado entre vocês em troca de hospedagem e alimentação. E esse será seu pagamento: a hospedagem e a alimentação. Nada além disso. Se quiser ganhar dinheiro em troca do trabalho, o WWOOF não é lugar para você.
3) Eu preciso falar o idioma oficial da fazenda?
Essa não é uma exigência do Wwoof, caso contrário nós nunca teríamos conhecido e nos hospedado na Fazenda Runtian em Pequim. Mas não podemos negar que o inglês foi, pelo menos para a gente, necessário sim. Primeiro para poder entrar em contato com o administrador da fazenda e compartilhar com ele nossos planos. E segundo para conseguirmos interagir com os funcionários efetivos de lá. Havia somente dois na fazenda que falavam inglês e foram eles que trabalharam como intérpretes no período em que estivemos na fazenda.
4) Tenho 16 anos e adorei a ideia de aprender e conviver com a agricultura sustentável! Como eu faço para participar?
Só depois de completar os 18 anos, meu querido. E aqui o problema é legal! Trabalho infantil (por mais que seja da sua vontade) é crime e o Wwoof quer, com razão, se ver longe disso.
5) Já eu tenho 65 anos, será que aguento o trabalho na roça? O trabalho é muito pesado?
Tudo vai depender do perfil da fazenda, do seu pique e do que foi combinado entre você e o proprietário do lugar. E nunca se esqueça que tudo é conversável, viu? Arar aquele terreno acabou com a sua coluna ontem? Pede para só retirar ervas daninhas no dia seguinte!
6) O Wwoof ou a fazenda podem me ajudar com o visto (caso o país para onde eu queira ir o exija)? É possível conseguir visto de trabalho se eu alegar ser um “Wwoofer”?
O racional é o mesmo das duas primeiras perguntas: é você quem vai ter que correr atrás de qualquer burocracia necessária para te fazer chegar até lá. Nem o Wwoof e muito menos a fazenda tem responsabilidade nisso.
7) Óóóóótimooooo, li tudo, entendi tudo e quero colocar a mão na massa nas minhas próximas férias! Por onde eu começo?
Antes de mais nada, escolha para onde ir. Qual país te agrada mais, em qual lugar você se imaginou vivendo uma experiência como essa. Feito isso, hora de entrar no site do Wwoof específico do país escolhido, fazer o cadastro e pagar a anuidade para ter acesso a lista das fazendas cadastradas no programa. Quando você tiver com todos os acessos liberados, poderá checar fazenda por fazenda e saber um pouco mais sobre o perfil de cada uma das propriedades e, principalmente, quais trabalhos são voltados aos Wwoofers. Escolheu? Beleza, agora é só entrar em contato ver se eles te aceitam também!
8) Como as fazendas são estruturadas? O esquema é patrão ou se passa aperto?
Não posso responder por todas as fazendas cadastradas no Wwoof, mas acredito que em sua grande maioria o esquema é humilde, modesto. Lembrem-se que são lugares simples, distantes do conforto que temos em nossa própria casa. Na Fazenda Runtian por exemplo, nós tínhamos um quarto e um banheiro exclusivos e todas as refeições eram bastantes fartas. Mas isso não quer dizer que o “nosso quarto” era como se estivéssemos hospedados em um hotel estrelado. Para vocês terem uma ideia, a primeira coisa que fizemos assim que chegamos foi lavar o nosso banheiro, que estava beeeeemmmmm sujo. Dei ênfase ao beeeeemmmmm, não? É porque ele estava imundo mesmo. Não foi o melhor momento que tivemos lá, mas como não foi minha primeira vez lavando banheiro, te garanto que não fiquei traumatizada.
9) É seguro ser um “Wwoofer”? Como saber se o proprietário da fazenda é confiável?
Infelizmente fui “WWOOFer” somente uma vez (até agora…) e novamente não posso responder pelas centenas de fazendas cadastradas ao redor do planeta, mas eu acredito que em sua grande maioria sim. O Wwoof é um programa de intercâmbio cultural mundialmente conhecido, com quase 40 anos de existência. É claro que problemas e experiências ruins existem e uma busca simples no Google vai te trazer várias delas. Gente que foi obrigada a trabalhar muitas horas por dia, que teve comida racionada, que passou poucas e boas etc etc etc. Dá para se proteger e buscar uma experiência diferente? Opa! Dê preferência a fazendas com sites bem informativos, que citem depoimentos de voluntários que passaram por lá, que pareça mais profissional e mais preparada para receber um “Wwoofer” (já no primeiro email de resposta dá para ter uma ideia de como a fazenda funciona). Verificar se ela tem um perfil ativo no Facebook ou até mesmo pedir por referências durante a troca de e-mails com o proprietário também são atitudes válidas.
10) E se eu chegar lá e não gostar do lugar, das pessoas, do trabalho?
Vai embora, ué! Mas antes seja claro, direto e objetivo. Explique suas razões ao proprietário da fazenda (ou para pessoa responsável pelos “Wwoofers”) e pronto. Não se esqueça que o Wwoof é um intercâmbio e que de nada vai adiantar se você não estiver satisfeito, certo?












