Mochila ecológica para refugiados é criada por estudante gaúcho
Depois de andar 2.200 km na Europa e conhecer vários imigrantes, Felipe Machado, de Novo Hamburgo, criou uma bolsa que atende às necessidades deles
Eles já perdem coisas demais pelo caminho. Assim, qualquer ajuda para que levem consigo o mínimo necessário para a sobrevivência e um recomeço é de uma valia incalculável. Roupas, água, algum alimento, travesseiro, meios para se comunicar: dotada de compartimentos para carregar recursos como esses, a mochila ecológica para refugiados foi pensada exatamente de acordo com as necessidades deles.
Felipe Machado, de 24 anos, estudante de design da Universidade Feevale, de Novo Hamburgo (RS), é o autor do projeto dessa mochila, pensada para ter características como leveza – vazia, pesa 180 g –, praticidade, resistência e impermeabilidade.
Ela é confeccionada com sacos de polipropileno termoplástico usado em embalagens sobretudo da indústria agrícola. “A mochila é ecológica na medida em que recicla esse material e dá a ele um novo uso nobre”, afirma Machado.
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Em abril deste ano, o estudante teve a oportunidade de conhecer vários refugiados ao participar de um desafio promovido pela fabricante de energéticos Red Bull: ir da Espanha à Holanda sem dinheiro nem celular, usando somente latas da bebida como moeda de troca. Ele fabricou a própria mochila para levar nessa viagem.
Ao percorrer 2.200 quilômetros em sete dias, deparou-se com pessoas do Senegal, do Haiti, da Síria, do Líbano. Ao identificar as dificuldades desses andarilhos no transporte de seus pertences, idealizou aquele que seria o projeto resultante de sua aventura, uma espécie de contrapartida para a faculdade, na disciplina de design social, por ficar um tempo sem assistir às aulas: a mochila ecológica para refugiados.
“Muitas vezes, o designer bola um produto a partir do que acha que é a necessidade de seu público-alvo”, diz Machado. “Porém, nada melhor que a pessoa que sente a dor te contar do que ela precisa.”
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Assim, então, a partir de depoimentos de imigrantes, o produto foi desenhado, sob a orientação do professor Bruno Rosselli, da Feevale.
Nas laterais, a mochila conta com suportes para carregar água e comida enlatada. A aba superior acopla um travesseiro portátil preenchido com isopor reciclado; nas alças frontais, ícones ajudam o refugiado a se comunicar com pessoas que não falam seu idioma.
Essa forma de comunicação, por sinal, é uma das grandes qualidades da bolsa, segundo seu criador. “É uma de suas utilidades principais, segundo as demandas que identifiquei durante meu trajeto”, diz. As iconografias se referem a alimentação, hospedagem, banheiro, hospital, polícia e postos de informação.
Machado também pensou nas crianças: como a mochila é branca, os pequenos receberão canetinhas para exercitar a criatividade e fazer delas companheiras personalizadas de suas caminhadas.
A primeira remessa das mochilas vai para a Namíbia, na África, pelas mãos de uma amiga do designer que trabalha com direitos humanos. Se as primeiras 10 unidades foram costuradas gratuitamente por uma empresa que se dispôs a contribuir com a iniciativa, a fabricante de malas Shadow’s, o desafio, agora, é viabilizar uma produção maior.
“Já estamos em negociação com a Mercur [empresa que atua em educação e saúde], que está interessada em colaborar”, afirma Machado. “Também consideramos a ideia de criar um e-commerce, e, a cada mochila vendida, outra seria doada para um refugiado. O preço de venda seria de R$ 10.”
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Curadoria: engenheiro Bernardo Gradin, presidente da GranBio e especialista em soluções sustentáveis.