A influência dos rituais africanos e do catolicismo na formação do samba rural paulista
No final do século XVIII, na pequena cidade de Pirapora, às margens do Rio Tietê, um grupo de pescadores encontrou uma imagem com as feições de Jesus. Achavam tratar-se de uma simples imagem perdida por algum devoto e decidiram transportá-la para a cidade vizinha de Santana do Parnaíba.
Um carro de bois conduzido por escravos que trabalhavam na região conduzia a imagem por uma antiga e esburacada estrada de terra a caminho de Santana de Parnaíba; um dos bois que puxava o carro empacou, o carro virou e a imagem caiu sobre os pés de um dos escravos do cortejo. Mudo, o escravo, como que por milagre, falou: “ele não quer ir embora, ele quer ficar aqui”; e assim se deu o primeiro milagre do santo e passaram a chamá-lo de Bom Jesus.
Àquela época, o preconceito racial e social era tão viril e vistoso no interior paulista que havia uma imposição unânime em toda comunidade branca que frequentava e organizava as procissões com a seguinte mensagem: “Não é permitido negro na procissão”. Com a exclusão do negro das festas religiosas, eles se refugiavam em um antigo barracão e lá faziam o que hoje é uma das principais referências do samba paulista, o Samba de Bumbo.
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Os negros cantavam, dançavam e tocavam em volta de um grande bumbo que, segundo a história oral, era conduzido por Frederico Penteado (o Fredericão), um dos pais do bumbo. E quando alguém queria puxar um canto, um ponto, um verso, respeitando-se a tradição e hierarquia africana, tinha que pedir licença ao pai do bumbo para cantar seu lamento com festa, dança e muita resistência cultural.
Texto elaborado por T. Kaçula, Edson de Jesus e Roberto Almeida, coordenadores do “Projeto 100 anos de samba paulista”