A influência dos rituais africanos e do catolicismo na formação do samba rural paulista

17/07/2014 16:36 / Atualizado em 28/07/2014 16:46

No final do século XVIII, na pequena cidade de Pirapora, às margens do Rio Tietê, um grupo de pescadores encontrou uma imagem com as feições de Jesus. Achavam tratar-se de uma simples imagem perdida por algum devoto e decidiram transportá-la para a cidade vizinha de Santana do Parnaíba.

Samba de Bumbo é uma das principais referências do samba paulista
Samba de Bumbo é uma das principais referências do samba paulista

Um carro de bois conduzido por escravos que trabalhavam na região conduzia a imagem por uma antiga e esburacada estrada de terra a caminho de Santana de Parnaíba; um dos bois que puxava o carro empacou, o carro virou e a imagem caiu sobre os pés de um dos escravos do cortejo. Mudo, o escravo, como que por milagre, falou: “ele não quer ir embora, ele quer ficar aqui”; e assim se deu o primeiro milagre do santo e passaram a chamá-lo de Bom Jesus.

Àquela época, o preconceito racial e social era tão viril e vistoso no interior paulista que havia uma imposição unânime em toda comunidade branca que frequentava e organizava as procissões com a seguinte mensagem: “Não é permitido negro na procissão”. Com a exclusão do negro das festas religiosas, eles se refugiavam em um antigo barracão e lá faziam o que hoje é uma das principais referências do samba paulista, o Samba de Bumbo.

Os negros cantavam, dançavam e tocavam em volta de um grande bumbo que, segundo a história oral, era conduzido por Frederico Penteado (o Fredericão), um dos pais do bumbo. E quando alguém queria puxar um canto, um ponto, um verso, respeitando-se a tradição e hierarquia africana, tinha que pedir licença ao pai do bumbo para cantar seu lamento com festa, dança e muita resistência cultural.

Texto elaborado por T. KaçulaEdson de Jesus e Roberto Almeida, coordenadores do “Projeto 100 anos de samba paulista”