Curiosidades do Vai-Vai: Carnaval de 1982

26/06/2014 11:08 / Atualizado em 06/05/2020 16:22

História contada por Fernando Penteado, sambista nato, neto de Frederico Penteado (Fredericão) e filho de João Penteado, ambos fundadores do Cordão Carnavalesco Vai-Vai, ao Terreirão Cultural. É Embaixador do Samba Paulista, Membro da Academia dos Baluartes do Samba de São Paulo, Diretor de Cultura da União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP) e Diretor Geral de Harmonia do Grêmio Recreativo Cultural e Social Escola de Samba Vai-Vai.

 
 

Carnaval de 1982

“Uma história muito interessante eu tenho para contar sobre os carnavais do Vai-Vai. É que o Vai-Vai é uma escola diferente! Nós somos uma escola em que para tudo dar certo tem que dar algo errado… Não é uma escola certinha, que tem tudo sob domínio, na nossa escola tem que ter adrenalina, tem que ter incerteza e é nesta incerteza que nós tiramos força para realizar o impensável, realizar o improvável e assim chegar a um resultado feliz. Para nós do Vai-Vai, quanto está tudo certo tem algo de errado!

Tem um caso muito interessante que aconteceu no Carnaval de 1982, com o enredo ‘Orum Ayê – O Eterno Amanhecer’. Um fato que prova tal tese e que aconteceu no sábado de Carnaval. Por volta das 15h, o nosso saudoso presidente, Senhor José Jambo Filho, conhecido no mundo do samba como Chiclé, estava na porta da quadra da escola dando uma entrevista para uma repórter da Rádio Bandeirantes e falava sobre os preparativos do nosso desfile. Falava que já estava tudo pronto e que só faltavam alguns detalhes. E era justamente isso que nos preocupava, estava tudo pronto, as fantasias, os carros-alegóricos. Só faltava um detalhe final no carro abre-alas que era todo decorado com espelhos; enfim, nada muito importante. Mas para nós não estava tudo certo …

No fundo do palco, na rua, estava rolando um churrasco e muita cerveja. A repórter perguntava se iríamos conquistar o bi-campeonato. “Claro que sim”, respondeu o presidente Chiclé, mas estávamos ressabiados com o tal ‘tudo certo’. Foi quando apareceu muito nervoso o Zé Mario, aos gritos, comunicando que havia acabado o espelho para terminar o abre-alas! Por um momento ficamos em pânico…

Foi aí que o Seo Chiclé, dentro de sua sabedoria, falou: ‘Calma, calma, que está começando a dar tudo certo’! Assim, a repórter percebeu algo no ar e nos perguntou o que estava acontecendo. Chiclé relatou o fato a ela que, como boa jornalista, colocou no ar o acontecimento. Ficamos ali tentando digerir as palavras do presidente.

Passaram cinco ou dez minutos que a repórter havia divulgado o fato na Rádio Bandeirantes quando apareceu um senhor com um espelho nas costas, dizendo que havia tirado do guarda-roupas e que depois comprava outro, o que interessava era o Vai-Vai terminar a alegoria. É claro que esta atitude também foi veiculada e a partir daí não pararam de trazer espelhos, quantidade suficiente para cobrir outra alegoria! Por volta das oito horas da noite a alegoria estava pronta e o resultado do desfile já sabemos: ganhamos o Carnaval!”