Para todas: projeto inclui mulheres plus size no Carnaval do RJ
“O nosso corpo representa força, resistência e amor próprio”, afirma Nilma Duarte, idealizadora do Plus no Samba RJ
“Eu sambo desde criança e costumo dizer: o samba pede passagem; o samba não pede manequim”, afirma Nilma Duarte, de 47 anos. Foi com o intuito de incluir outras mulheres como ela no samba, além das de manequim tradicional, que a modelo criou, em 2017, o projeto Plus no Samba RJ. A ideia do coletivo é promover o empoderamento das participantes ao longo de todo ano, além de incluir um maior número delas em escolas no Carnaval do Rio de Janeiro.
Neste Carnaval, o grupo conseguiu colocar mais de 80 mulheres para desfilar nas escolas parceiras, mas a quantidade de seguidoras de Nilma é muito maior. Em 2019, ela realizou o primeiro encontro nacional plus size no samba, que reuniu as lideranças de vários estados.
Segundo Duarte, que é modelo plus size desde 2012, a ideia de lançar a inciativa surgiu quando ela prestou atenção nas mulheres iguais a ela, as “grandonas”, como costuma falar. “Sempre ouvi elogios nos eventos de samba sobre minha postura, minha desenvoltura, e muitas me falavam: ‘queria ter essa coragem’. Foi a sequência de comentários similares que começou a me chamar atenção”, conta em entrevista à Catraca Livre.
A modelo relata que samba desde criança por influência da família e sempre frequentou as rodas do gênero musical. “Eu nunca vi diferença entre as pessoas. Fui criada em um meio onde pessoas viam pessoas como pessoas, independente de classe social, endereço, cor da pele ou biotipo. Por isso, nunca me preocupei com opinião e sempre fui aceita nos ambientes, inclusive, as passistas de manequim padrão me chamavam frequentemente para sambar com elas.”
Neste processo, ela percebeu que faltava um incentivo para as mulheres de manequins maiores – acima do 44 – sambarem. Por meio do Plus no Samba RJ, Nilma instiga as participares a se aceitarem como são. “Chamo maquiador, fotógrafo… Elas se montam e, quando se veem, percebem o mulherão que são, ganham força e não aceitam que as pessoas as desmereçam. Isso é muito importante, pois várias meninas tiveram quadro de depressão. Hoje, após entrarem no projeto, são outras pessoas”, enfatiza.
De acordo com a modelo, no início, ela achou que seu trabalho era apenas colocar mulheres para sambar. “Agora, percebi que meu trabalho vai muito além disso. Eu fui aprendendo com elas. O objetivo da minha atuação se tornou levantar mulheres e fazer com que elas se amem, se se olhem no espelho e gostem do que veem”, enfatiza.
“E por quê? O preconceito ganha voz a partir do momento em que você dá confiança a ele, em que você o alimenta. As pessoas me perguntam: você já sofreu algum tipo de preconceito? Se sofri não me lembro, porque não dei importância. Eu percebi que as meninas chegavam carregadas pra mim. Com problemas na escola, em casa, no relacionamento, não sabiam se vestir, se arrumar… Acho que a maior questão é esta: a da autoaceitação”, completa Duarte.
O sonho da idealizadora do Plus no Samba RJ é que um dia isso que ela faz seja normal entre as escolas de samba, e não mais o “diferente”. “Quando era vendida a imagem do Carnaval, era sempre um biotipo diferente [do meu], e o biotipo grande sempre esteve só na ala de baianas ou na velha guarda. Nunca em evidência”.
A modelo plus size explica que o intuito não é fazer apologia à obesidade, muito pelo contrário. A bandeira que ela levanta é que as mulheres possam estar fora do padrão tradicional, mas, ainda sim, cuidar da saúde, ter uma boa alimentação, ser feliz e, de acordo com o que seu corpo permitir, adquirir uma boa desenvoltura. “Eu recomendo que as meninas cuidem da saúde, façam um check up regularmente, façam exercício físico”, diz.
Sobre a reação do público, Nilma afirma que mulheres não plus size são muito fãs do projeto e as de manequins maiores também. “Eu acabei virando uma referência às meninas. Elas me chamam de ‘titia’. Eu quero que elas estejam maravilhosas. Quero que elas tenham essa desenvoltura e aprendam a se impor onde elas estiverem. Quando percebem isso, elas saem do casulo e viram uma linda borboleta.”
“O nosso corpo representa força, resistência e amor próprio. Por que resistência? Porque mesmo a tantas negativações, tantas recusas, eu não desisto, a opinião alheia não influencia no meu objetivo. Já sobre o amor próprio não tem nem o que falar! A intenção não é retroceder, é lutar cada vez mais”, reitera.
Mesmo com os avanços recentes, a modelo ressalta que ainda é preciso muita luta para modificar esse panorama. “As pessoas acham que não há necessidade de ter abertura para esse tipo de movimento. Você vê comerciais e quantas plus size estão ali? Nenhuma. Mas nós temos recebido convites para o grupo de passistas se apresentar em festas e tudo mais. A passos lentos ou não, estamos caminhando e subindo degrau por degrau”, finaliza.
#CarnavalSemGordofobia
Neste ano, um manual sobre como não ser gordofóbico nos blocos de rua do Rio de Janeiro viralizou nas redes sociais. A campanha #CarnavalSemGordofobia foi idealizada pela pesquisadora Gabriella Morais e a modelo Luana Carvalho, e tem como intuito fazer com que a folia seja divertida e respeitosa para mulheres de todos os corpos.
Veja abaixo:
Todos os conteúdos da campanha #CarnavalSemAssédio são apoiados oficialmente pela 99.
Passistas e rainha da bateria falam sobre assédio em desfiles