Carnaval Sem Assédio
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Petição pede ao metrô de SP treinamento contra assédio no Carnaval

Objetivo é reunir o maior número possível de assinaturas para pressionar o metrô a treinar seus seguranças a lidarem com os casos que aumentam nesta época

Em parceria com Change.org (Oficial)
14/02/2020 18:55 / Atualizado em 10/04/2024 21:58

O abaixo-assinado faz parte da campanha #CarnavalSemAssédio
O abaixo-assinado faz parte da campanha #CarnavalSemAssédio - Gabriel Nogueira/ Catraca Livre

A psicóloga paulistana Kátia Braz, voluntária da ação Anjos do Carnaval, que acolhe vítimas de assédio sexual em blocos de Carnaval, lançou um abaixo-assinado em conjunto com o site Catraca Livre para pedir que os seguranças do Metrô de São Paulo recebam um treinamento especial para lidar com ocorrências deste tipo dentro das estações. A petição faz parte da campanha #CarnavalSemAssédio e acaba de ser colocada no ar por meio da plataforma Change.org.

“No Carnaval, a superlotação nas plataformas alimenta as oportunidades dos assédios”, comenta a psicóloga sobre a importância da mobilização especialmente nesta época do ano. Kátia, que é psicóloga há 16 anos, atuou como voluntária na campanha promovida pela Catraca Livre no ano passado e presenciou cenas de assédio não somente nos blocos de rua, mas também dentro de algumas estações do metrô, por isso decidiu abrir a petição online.

“Participei do ‘Carnaval Sem Assédio’ em 2019 e pude, junto com toda a equipe, colaborar, acolher e orientar muitas mulheres em situações de desconforto”, lembra a psicóloga. “No metrô, vi cenas de ‘brincadeiras’ que identifiquei como assédio, embora o problema seja ainda muito velado”, completa. O que mais chamou a atenção de Kátia foi perceber que os funcionários do Metrô pareciam não ter treinamento adequado para lidar com tais situações.

A psicóloga detalha uma ocorrência na estação Sacomã, da Linha 2-Verde, na qual precisou interferir. “Um rapaz e uma mulher trans discutiam muito até que ele a agrediu com um tapa no rosto, a puxou pelo braço e fez ameaças. Eles estavam próximos à catraca, onde ficam os funcionários, mas ninguém se prontificou a ajudar. Eu mesma fui até o local e chamei o funcionário, que não queria ‘se meter’. Tive que insistir para que algo fosse feito e ele chamasse os seguranças”. Somente após a intervenção de Kátia o rapaz foi repreendido.

Já em outra estação, o caso de assédio testemunhado pela psicóloga de São Paulo foi ainda pior. Segundo conta, ela viu uma moça levar uma cabeçada no nariz porque não quis beijar um homem. “Ela saiu sangrando e o rapaz foi detido por guardas”, conta Kátia, enfatizando que o órgão precisa fazer mais do que somente as campanhas de estímulo a denúncias das vítimas.

“As mulheres e os LGTBs devem se sentir seguros dentro das estações do metrô. Eles têm direito ao divertimento no Carnaval e não podem ficar vulneráveis na ida aos blocos ou na volta para casa porque o metrô não capacita seus funcionários e seguranças a identificarem e agirem adequadamente e com prontidão aos casos de assédio sexual”, diz trecho da petição.

Outro lado

Após a criação da petição, o Metrô enviou uma nota de posicionamento sobre denúncias de assédio sexual nas estações e reiterou suas ações de combate a esses casos. Veja abaixo:

“O assédio e a importunação sexual são problemas que atingem a sociedade e não acontecem apenas nos trens e estações do metrô. Nesses locais, o Metrô oferece uma estrutura que envolve funcionários capacitados e tecnologia, como sistema de câmeras, para prevenir e atuar em benefício de todos os passageiros, em qualquer circunstância. Prova disso, é que em 70% dos casos de assédio nas dependências do Metrô, os suspeitos são detidos e encaminhados para a delegacia.

Não se trata apenas de coibição, o Metrô foi pioneiro em encarar esse problema com a criação de um programa de combate ao assédio que envolve ações, campanhas para o estímulo a denúncia e, principalmente, a conscientização de seus funcionários que devem acolher as vítimas prioritariamente e acionar a rede de colaboradores para identificar os suspeitos.

E a empresa não se furta a melhorar, por isso frequentemente são feitas outras ações que alertam aos passageiros e também aos funcionários da empresa sobre como agir nessas situações, como inclusive vem sendo feito neste carnaval com a campanha “Não é Não”. O Metrô se tornou referência no combate a essa prática e está aberto a aperfeiçoar sua atuação, transmitindo novos conhecimentos aos seus funcionários.

Mas não se trata apenas de uma instituição agir contra o assédio e abuso. Esse é um problema que deve ser encarado por todos e, sempre que vista situações inadequadas, as pessoas podem comunicar aos colaboradores do Metrô ou enviar mensagens pelo SMS-Denuncia (973332252) ou aplicativo de celular MetrôConecta. Ações como essas colaboram com a identificação dos suspeitos para o registro de Boletim de Ocorrência que pode gerar na prisão dos infratores e redução dos casos.

A prática do respeito sempre foi uma bandeira do Metrô.”

Campanha #CarnavalSemAssédio

“Anjos do Carnaval” acolhem e orientam vítimas de assédio sexual (Foto: Paula Lago/Catraca Livre)
“Anjos do Carnaval” acolhem e orientam vítimas de assédio sexual (Foto: Paula Lago/Catraca Livre)

A campanha #CarnavalSemAssédio está em sua quinta edição. Neste ano, as ações dos “Anjos do Carnaval”, voluntários treinados para acolher e orientar mulheres e LGBTs vítimas de assédio, se estenderão por São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro e Salvador.

“A Catraca decidiu lançar a petição com a Kátia porque acredita que o metrô precisa oferecer segurança aos usuários que vão curtir o Carnaval em São Paulo. Eles precisam saber identificar e agir em situações de assédio, agressão ou iminência de um caso de violência. Isso tudo, principalmente, a mulheres e LGBTs, que são as grandes vítimas dessas situações”, ressalta Heloisa Aun, jornalista na Catraca Livre e uma das responsáveis pela campanha.

Heloisa acrescenta que ela também já viveu situações de assédio sexual em locais fora dos blocos, como no metrô, durante o Carnaval. “Por você estar com pouca roupa, os homens acham que podem te assediar”, ressalta.

A campanha #CarnavalSemAssédio é feita em parceria com a produtora Rua Livre e a Prefeitura de São Paulo, com apoio oficial da 99, e tem uma ampla rede de parceiros, entre eles a Change.org, o Ministério Público do Estado de São Paulo, a ONU Mulheres, a Comissão da Mulher Advogada (OAB), o coletivo Não é Não, a ONG Engajamundo e a Rede Nossas.

O abaixo-assinado para pressionar o metrô de São Paulo a treinar os seguranças de todas as linhas e estações está aberto e coletando apoiadores: http://change.org/CarnavalSemAssedio