Carnaval Sem Assédio
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Carnaval Sem Assédio

#CarnavalSemAssédio reúne relatos de abuso sexual

"O cara me segurou, enfiou a mão por baixo da minha saia e começou a me tocar", contou uma vítima

A campanha busca combater violência contra mulheres e LGBTs durante a folia
Créditos: MesquitaFMS / iStock
A campanha busca combater violência contra mulheres e LGBTs durante a folia

Como parte da campanha #CarnavalSemAssédio, a Catraca Livre fez um levantamento online de casos de violência sexual que ocorreram durante a folia. Grande parte das situações relatadas inclui passadas de mão no peito, beijos à força e puxões na cintura ou cabelo. No total, 104 mulheres enviaram seus depoimentos até a publicação desta matéria. Para participar, clique aqui.

A campanha deste ano, feita em parceria com a Prefeitura de São Paulo e a Rua Livre, produtora de blocos que pensa ações de impacto social para a folia e para a cidade, levou os Anjos do Carnaval aos blocos da cidade.

A equipe, voluntária e treinada pela prefeitura e pelo Ministério Público de São Paulo, orientou mulheres e LGBTs vítimas de assédio ou agressões, e ainda ajudou a identificar assediadores em cima dos trios elétricos de blocos parceiros.

O #CarnavalSemAssédio também contou com o Ônibus Lilás, cedido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania especialmente para a ação, como ponto fixo de atendimento.

Também houve a distribuição de 90 mil adesivos da campanha por blocos de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Olinda (PE).

Além da Catraca Livre, da Rua Livre e da prefeitura, a ação teve uma ampla rede de parceiros, que incluiu o Ministério Público de São Paulo, a ONU Mulheres, o Conselho Estadual da Condição Feminina, a Comissão da Mulher Advogada (OAB), o Metrô de São Paulo, a Delegacia da Mulher, o coletivo Não é Não, a ONG Engajamundo, a ONG Plan International, a JC Decaux, a Rede Nossas, a agência Fiquem Sabendo e a gráfica Lumi Print.

Veja abaixo alguns relatos enviados pelas leitoras:

Rio de Janeiro: “Eu estava andando em um bloco de Carnaval com as minhas amigas quando de repente passou um bonde de homens altos nos empurrando. Um deles apertou o meu peito tão forte que eu gritei, mas não consegui identificar qual foi exatamente e eles saíram andando. Eu gritei ‘isso é assédio’, mas ninguém fez nada, muito menos os guardas que estavam ao nosso lado. É muito triste ser mulher e ter que passar por esse tipo de situação o tempo todo porque homens não sabem se comportar.”

São Paulo: “O cara me segurou, enfiou a mão por baixo da minha saia e começou a me tocar. Eu não conseguia fazer nada além de gritar porque dois amigos deles me seguravam e um tampava a minha boca. Eles iam revezando pra ficar me tocando.”

Rondônia: “Em 2016, foi feito o Carnaval de rua. Fomos todos, sou do interior, de cidade pequena, todo mundo se conhece. Fui convidada a um evento particular quando cheguei lá. Um amigo começou a me forçar a ficar com ele, eu gritei mas a música não deixou ninguém ouvir e quem ouviu fingiu que não ouviu. Ele me estuprou.”

Rio de Janeiro: “Estava voltando no metrô com minhas amigas e senti um cara tocando minhas costas. Olhei pra ele e ele olhou pra baixo mexendo na mochila, troquei de lado mas não pude ir pra longe porque o vagão estava lotado. Ele foi pra perto de mim de novo e passou a mão em mim. Na hora eu gelei porque não entendi bem, nunca tinha passado por isso e, por estar lotado, pensei que tivesse sido sem querer. Uns minutos depois eu senti direitinho ele alisando minha costas descendo a mão, falei pra minhas amigas e decidimos descer e pegar outro metrô. Era final do dia, policiamento escasso nos metrôs do Rio por causa do Carnaval, e sabendo o país que moro sei que não daria em nada.”

São Paulo: “Estava chovendo e um monte de gente ficou em uma escada de três degraus debaixo da lona da padaria. Eu queria encontrar uma amiga que estava dentro do comércio e pra isso precisei passar por aquelas pessoas. Foram os três degraus mais longos da minha vida: uns caras ficaram me tocando enquanto eu tentava passar, chegaram a apertar minha bunda e meu peito. Foi nojento, eu só segui meu caminho, aliviada por ter acabado ali.”

São Paulo: “Enquanto andávamos, estavam meu namorado e um amigo nosso conversando na frente, e eu e uma amiga, também conversando, atrás. Do nada um cara que eu nunca vi na vida passou a mão na minha virilha, intencionalmente. Então, eu virei e gritei ‘tá louco?’, e ele fingiu que não sabia de nada, gritando comigo. Meu namorado já estava indo atrás dele quando os amigos do cara o tiraram falando que ele estava bêbado, etc. Foi horrível.”

São Paulo: “Eu estava tentando andar na multidão quando um homem de aproximadamente 30 anos (eu tenho 16) me segurou e me beijou à força. Eu comecei a gritar e empurrá-lo. Quando ele me soltou saí de lá o mais rápido possível.”

Rio de Janeiro: “Eu estava no centro da cidade com uns amigos curtindo os blocos e é inacreditável como os homens não respeitam as mulheres. Puxaram meu braço, tentaram me beijar à força, passaram a não na minha bunda como se isso fosse tudo normal e ainda agiam como se nada tivesse acontecido, além das cantadas machistas e ridículas que eles usavam. As pessoas têm que entender que não é não!!!!”

Rio de Janeiro: “Um grupo de homens estava dando em cima no metrô lotado e eu tentei ignorar e cortar o assunto várias vezes. Um deles (ou dois diferentes) passou a mão na minha perna e apertou minha bunda. Não vi quem foi e quando eu perguntei, revoltada, todos se calaram, porque eram amigos.”

São Paulo: “Era final do bloco pré-Carnaval ‘Beleza Rara’ que aconteceu na Berrini e eu estava andando com duas amigas na avenida. Nisso uns moços se aproximaram, um deles me agarrou e tentou me beijar, eu tentei me soltar e disse que não queria. Enquanto isso minhas amigas estavam tentando me ajudar, mas estávamos cercadas. Eu berrei que não queria, ele me beijou e ainda disse: ‘Você ta no Carnaval! Se está em bloquinho tem que beijar sim’. Minhas amigas continuaram gritando e eles foram embora xingando a gente. Fiquei com um hematoma no braço e muita vontade de chorar.”

Rio de Janeiro: “Estava em um bloco na Lapa, quando um grupo de pessoas passou por nós, como se estivesse se deslocando de um lugar para outro do bloco. Nisso, havia um homem de 40 ou 50 anos, que, ao passar por nós, ergueu o braço para colocar a mão na minha genitália. Felizmente percebi e empurrei o braço dele antes que ele pudesse me tocar.”

Rio de Janeiro: “Estava andando pela praça da matriz, em Paraty, com os meus irmãos de 25 e 11 anos. O caçula pediu pra ir comprar um sorvete, eu dei o dinheiro pra eles e fiquei parada vendo os dois atravessarem a rua. De repente um cara me agarrou por trás e começou a tentar me beijar, e eu pedindo pra ele me soltar e falando que não queria beijo nenhum. Meu irmão caçula viu a cena e avisou meu irmão mais velho, que veio e me puxou. O cara que me agarrou pediu desculpas pro meu irmão e disse que não sabia que eu estava acompanhada. Fui até os policiais que estavam cuidando da segurança e eles disseram que ‘Carnaval é assim mesmo’.”

Todos os conteúdos da campanha #CarnavalSemAssédio são apoiados oficialmente pela 99.