Artesão gera 50 mil em 6 meses com ajuda de empresa

17/10/2014 15:29 / Atualizado em 18/07/2016 15:51

Você sabia que mais de 8,5 milhões de brasileiros se dedicam ao artesanato como um pequeno negócio? Segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), esses microempreendedores movimentaram, em 2012, mais de R$50 bilhões por ano.   Mas, como era esse cenário em uma sociedade anterior à internet?

“A missão da Solidarium, desde o começo, foi gerar um negócio que possa ser escalável e que vá transformar a realidade do artesanato do Brasil”, diz Tiago Dalvi. (Imagem: reprodução do site
“A missão da Solidarium, desde o começo, foi gerar um negócio que possa ser escalável e que vá transformar a realidade do artesanato do Brasil”, diz Tiago Dalvi. (Imagem: reprodução do site

A Solidarium surgiu justamente nesse cenário. Em 2006, Tiago Dalvi percebeu que a ligação entre os artesões e o varejo quase não existia e viu uma possibilidade de negócio. Como uma loja em shopping não funcionou, Dalvi partiu para a parceria com os grandes varejistas. Foi só em 2012 que abriram a Solidarium.net, que tem a proposta de se tornar o maior marketplace para artesões do mundo.

A empresa passou de 36 cooperativas para 6 mil e já atinge 15 mil artesões. “Nós temos histórias de artesãos que conseguiram gerar uma renda de 50 mil em um período de 6 meses, conseguiu reformar a casa e pagar escola pra filho”, explica Dalvi.  O negócio ainda tem expectativas para avançar com as vendas, principalmente internacionalmente.

Veja abaixo a entrevista do Catraca Livre com Tiago Dalvi:

1. Como surgiu a ideia da Solidarium?

“Quando voltei de um intercâmbio na faculdade, fui contratado por uma empresa chamada Aliança Solidária que apoia empreendedores no Brasil inteiro. Em 2006 eu notei que a maioria dos empreendedores que a Aliança trabalhava eram artesãos e eles tinham um trabalho muito bom, tinham preço, tinham design, mas não tinham  a menor ideia em como vender os seus produtos. Eu comecei a pegar na mão deles e apresentá-los para pequenas lojas e pequenos varejistas.

Percebi que do outro lado da mesa tinha muita gente interessada nesse produto mas não tinha uma ponte entre esses dois mundos. Ainda não existia nenhuma empresa que fazia essa ligação, então eu resolvi abrir um lugar que fizesse justamente essa conexão.

Estudei e descobri que no Brasil, naquela época, tinha um pouco mais de 8 milhões e meio de artesões. O curioso é que desse número, 2 milhões viviam abaixo da linha da pobreza justamente por não ter como vender o produto que eles já tinham produzidos.

Quando a empresa começou, em 2007, abrimos uma loja em shopping que acabou sendo fechada um ano depois justamente por não            escalar a venda. Naquele momento, eu percebi  que seria melhor trabalhar com grandes redes varejistas para poder expandir a empresa e os resultados de forma mais rápido.

A gente mirou incialmente no WalMart, que era o maior varejista do mundo na época, e conseguimos fechar o negócio depois de 6 meses de negociação. Após isso conseguimos entrar nas Lojas Renner, na TokStock, Natura e Mundo verde, ou seja, os grandes varejistas do país tinham acordos com a gente.

Só que o grande desafio quando se trabalha com grandes redes varejistas é o preço elevado e a bitributação. Tudo isso encarecia o produto e não o tornava rentável. Dessa forma, saímos desse meio de negócio.

Em 2011, a gente percebeu que se quiséssemos produzir algo escalável, que alcançasse uma grande quantidade de pessoas e vendas, teríamos que sair do mundo off-line. Criamos, então, a Solidarium.net que é uma comunidade de venda. Ela é um pouco diferente dos outros sites de venda porque temos como ideia criar a maior comunidade de vendas de produtos feito a mão no mundo.

A ideia é conectar o artesão diretamente com o consumidor. Um ano depois, lançamos o marketplace online, onde qualquer artesão pode entrar, se cadastrar sem taxas de adesão ou mensais e começar a vender seu produto para o mundo inteiro. A ideia da Solidarium é realmente estar do lado desse artesão e não ganhar em cima dele.”

2 – Quantas pessoas são atingidas pela Solidarium?

“Depois do lançamento a empresa começou a crescer de maneira bem acelerada. Antes nós éramos em 44 cooperativas, hoje nós estamos em 6 mil pessoas que vendem com a gente. E esse número é muito maior porque as vezes uma cooperativa engloba 15 ou 30 pessoas. Hoje a gente sabe que o nosso impacto chega a quase 15 mil pessoas mês a mês. Então é muita gente que depende da Solidarium, que vende com a gente. Nós temos histórias de artesãos que conseguiram gerar uma renda de 50 mil em um período de 6 meses, conseguiu reformar a casa e pagar escola pra filho. O legal é ver que hoje a Solidarium consegue ajudar as pessoas. Não vendemos só o produto, vendemos uma história e um contexto.”

3- Como anda o desenvolvimento dos negócios sociais no brasil e no mundo?

 “Depende de cada país. O negócio social depende da situação atual que o país se encontra. O negócio social surge da demanda por algo que o governo não cobre ou não cobre de uma maneira eficiente. No Brasil não é de se espantar que a gente tenha projetos sociais em tantas áreas (renda, saúde, moradias), que a gente tem muito problema hoje. Nos países desenvolvidos o negócio social surge, mas não para ajudar o próprio país. Na Inglaterra, por exemplo, tem muito negócios sociais que trabalham com um enfoque global. Lá já existe uma legislação para os negócios sociais, aqui ainda não se fala nisso. O negócio social faz o trabalho do governo, aqui no Brasil, e não tem nenhuma isenção de impostos ou benefícios. Não que deva ter, mas deveria ser mais fácil.”